Uma noite de Natal

"Era uma vez uma princesa chamada Isabela. Ela era uma dançarina das estrelas. Ia passar a vida dançando entre elas. E era abençoada, pois, podia voar de estrela em estrela. Mas também, Isabela era amaldiçoada, porque cada estrela que visitava, tinha que abandonar. Essa era a história, viver a eternidade dançando entre as estrelas, livre como um pássaro, mas sozinha. Isabela espalhava alegria para cada estrela que visitava, mas sempre partia."

Noite de Natal. Minha família toda reunida, feliz, com os braços cheios de pacotes; na mesa, os mais variados pratos, um bom vinho, a coca-cola que não pode faltar. No rosto de todos, ou de quase todos, um sorriso, de quem quer que a noite seja especial e abençoada. A época de Natal sempre foi mágica pra mim. Me lembro do meu pai sair mais cedo do trabalho, e dele ajudando minha mãe na cozinha, que sempre assa alguma carne pra ceia. Me lembro do cheiro dos temperos, do telefone que não parava de tocar, e da agitação da cidade. Tudo me empolgava, até os fogos de artifício que soltavam durante todo o dia. Me empolgava tanto que era como se caísse neve e eu visse tudo pela janela. Ouvia músicas de Natal enquanto esperava ansioso a chegada da minha família, que sempre teve a tradição de ir à missa antes da ceia. Quando chegavam, era muito barulho, e os cheiros se misturavam. Todo mundo vestido com a melhor roupa, alguns até estreando. Meus primos e eu correndo pela casa e aguardando a meia-noite chegar, afinal, Papai Noel poderia aparecer a qualquer hora.
Quando tinha uns 7 anos, enfiei na cabeça que ia vê-lo, e fiquei atento na árvore de Natal, que todo ano montava com minha mãe na sala. Ela era toda prateada e com bolas vermelhas. E no último galho, um anjo tocando uma flauta. Naquela noite, fui até a sala muitas vezes, e nada de presente. Até que, na última vez, corri e encontrei os pacotes debaixo da árvore. Olhei para a porta e vi uma sombra, de alguém que acabara de sair. Corri até a porta e não vi ninguém, só uma estrela que piscou pra mim. E eu jurei durante muito tempo que aquela estrela era o bom velhinho indo embora. Depois, foram mais alguns anos que passei a noite de Natal olhando pro céu, esperando ver o trenó passar.
O clima natalino toma conta de todos. Na última segunda-feira, Lislaine, Marcinha e eu chegamos para abrir a biblioteca, e levamos um susto ao encontrar pacotes embrulhados por todo lado. Cada um tinha um cartão na frente, com os nossos nomes. Eram os panetones que o Paulo nos presenteou, com um bonito cartão da Quintal das Artes. Josi e Fatinha trabalharam na terça-
-feira. Fizemos um revezamento. Sexta-feira da semana passada, foi o último dia que as vi esse ano. Nos cumprimentamos e desejamos boas festas, depois de lancharmos na cozinha da biblioteca.
Lislaine me acompanhou nos últimos dias na compra dos presentes que faltavam. Fomos também visitar o Che, na terça-feira. Ele tinha ido ao médico naquele dia e não estava mais com a perna toda imoblizada. Foram 5 dias com a perna toda enfaixada. A cirurgia aconteceu mesmo naquela quinta-feira, e foi muito bem sucedida. Falei com a mãe dele na quinta a tarde, e ela deu a notícia de que estava tudo bem. Na sexta, Che já estava em casa. Agora, ele está andando com o auxílio de muletas, e ainda não pode dobrar a perna, tendo que ficar o tempo todo com ela esticada. Na próxima semana. voltará ao médico para tirar os pontos e depois, iniciará a fisioterapia. Ele não sente dor e a única coisa que realmente o incomoda, é ter que ficar em casa, de molho. Voltei para visitá-lo também na quinta-feira. Passei a tarde toda por lá. Temos assistido a uns filmes, e ouvido umas músicas também. Em breve, tudo voltará ao normal.
Nesse ano, mais uma vez aconteceu o tradicional amigo secreto em família. Pra mim, é a hora mais divertida da noite. Damos muitas risadas, tiramos fotos, e esperamos ansiosos a abertura de cada presente. Presenteei minha tia Vera, assim como no ano retrasado. Além de uma caixa cheia de souvenirs, que comprei de palhaçada, dei uma coletânea dos Beatles. E ganhei, da minha
prima Thalita, uma camiseta do Queen. Presentes entregues, todo mundo satisfeito, e chegou a hora da oração. Nos demos as mãos, agradecemos pela união naquela noite, por estarmos todos juntos mais um ano, e rezamos. Meia-noite, é Natal! Nasceu o menino Jesus, em nossos corações. E dá-lhe champanhe, vinho, comidas que só aparecem no Natal, e todo mundo conversando ao mesmo tempo. Mandei mensagens de texto para a Lis, para o Alan, e falei com o Che no celular. Ele estava na casa dele, com a família.
A festa acabou às 3 da manhã, com todo mundo caindo de sono. E no dia seguinte, na hora do almoço, tinha mais confraternização. O almoço de Natal foi em casa. Me senti muito feliz por ter meus pais, minha família, que tem problemas como qualquer outra, mas que não trocaria por nada desse mundo. Deus me abençoou muito quando me colocou no caminho de todos eles...
Eu sou o sobrinho mais moleque, então sobra pra mim a diversão da criançada na piscina. É um tal de fazer touro mecânico, de levar de cavalinho, de nadar junto... A criançada não me dá folga, e isso me rende boas dores musculares depois... Tia que não entra na piscina também se molha. Eu saio da água e corro pra abraçar, sento no colo. É um barato!
Nesse Natal, pensei em tanta gente, em tanta coisa, e mandei a todos muita energia positiva, de amor e de paz. Faltou só um ritual, que cumpri durante 5 anos, ligar para uma pessoa que sempre foi muito especial, mas que esse ano se afastou de mim. Enviei um e-mail de boas festas.
Não esperava resposta, mas ela veio, no dia seguinte. Isso não significa nada. Continuamos distantes, cada vez mais. Cada um seguiu seu caminho da maneira que pôde, mas saber que o respeito e a consideração ainda continuaram vivos, já foi especial. Eu perdi e perdi muito pelo caminho que esse riacho percorreu esse ano. Perdi a noção de prioridades. Perdi a pessoa mais especial que já cruzou meu caminho, dei valor a quem não merecia, a quem nunca me mereceu. Ah, se eu pudesse voltar atrás, acender a chama. Se tivesse pedido desculpas na hora certa, se tivesse aberto meus olhos antes... Podia ter pego o primeiro ônibus pra São Paulo e ter tentado resolver as coisas a tempo. Cogitei durante dias a hipótese de aparecer, de surpresa, na época em que nos separamos. Pensei em abrir meu coração, em pedir perdão. Mas não. Imbecil que fui! A vida é tão engraçada que não me poupa de me mostrar todo dia o quanto que fui equivocado. Nos últimos dias, pensei numa maneira de resolver tudo, de parar de errar, de fazer algo bom por mim mesmo, mas me preocupei também em não ser injusto com ninguém, nem precipitado. O dia de Natal me mostrou o caminho a seguir, e eu vou levar como presente, pra vida que segue, pro tempo que não pára. O mais importante ainda pode ser resgatado, eu mesmo. E é só isso que deve importar agora.

Todos os seus pedidos

"Eu pedi pro tempo passar bem devagar. Pedi que as noites fossem longas e silenciosas. Pedi que cada minuto virasse uma estrela, que fosse caindo aos poucos, no compasso do esquecimento. Eu quis muito que as horas ganhassem mais 60, 600, 6000 minutos, já que não era possível deixar tudo como estava pra sempre. Eu pedi que houvesse mais tempo pra tudo, e que esse tempo fosse longo e arrastado. Eu quis mais tempo pro vinho do final de semana, pra ressaca do dia seguinte, pra conversa com os amigos, para as apresentações culturais, até pro trabalho, mais tempo para ouvir música que faz lembrar e sonhar, mais tempo pra dormir, pra acordar, mais tempo de sol, mais tempo de chuva, mais dança, mais saudade e menos lamento, mais tempo pro amor e pro desamor também. Não dá pra controlar o tempo, não dá pra controlar nada, nada que vem e nada que deve ir. O tempo vai passando e esmagando tudo, sem dó nem piedade. O relógio não roda mais devagar quando a felicidade faz visita, ou morada".

A época do Natal é quando as famílias se reúnem pra celebrar, comer, beber, trocar presentes, relembrar aqueles que já se foram. Tem familiar que você só vê nessa época do ano, e se é chegado, nem dá tempo de contar tudo que aconteceu. Natal é com a família da minha mãe, sempre foi desde que me entendo por gente. Minha avó faleceu e minha mãe desde então é quem cuida dessas festividades. Num sábado desses, minha família se reuniu para um passeio em Ribeirão Preto. Tias, tios, primas, mãe, divididos em três carros, partimos para a minha cidade natal, onde faz o pior calor que já vi. Minha avó era descendente de espanhóis; meu avô, de italianos, de onde veio o "Tomazini". Essa mistura fez surgir uma família de sangue quente, verdadeiramente italiano, correndo nas veias.
É um tal de falar alto, de reclamar, de fazer confusão... É discussão na hora de decidir a hora da saída, na hora de estacionar, na hora de escolher o restaurante para o almoço, na hora de decidir quem senta com quem no restaurante, na hora de escolher em qual loja entrar... Nossa, que gente mais chata! Às vezes, olho para minha família e penso que a vida pode ser bem menos complicada. Em casa, não tenho problemas. Meus pais são sossegados. Vivemos em paz, mas também temos nossos ataques de arianos de vez em quando. O bom do passeio no centro de Ribeirão foi a loja de artigos de rock por onde passei. Fiz umas comprinhas: camisetas e pulseira. Antes, na Americanas, adquiri duas coletâneas oficiais dos Beatles, e uma do Michael, em promoção.
A promessa do passeio em família era finalizar com um cineminha no fim da tarde. Mas o único filme que caberia no momento, seria "O Massacre da Serra Elétrica", então abrimos mão da idéia. Nos contentamos em comer umas porcarias no Mc Donald's e fazer algum
as compras no Carrefour. Quando eu era criança, tudo parecia maior. Meu pai me levava sempre pra passear no Ribeirão Shopping, e me lembro da nítida sensação de querer morar lá. A prateleira de discos do Carrefour me enchia os olhos.
Queria comprar tudo. Hoje tá tudo tão banal. Nem se tem mais o prazer de se comprar um cd, sentir o cheiro do encarte, tomar cuidado pra não amassar, ouvir a obra completa e pensar na idéia que o artista teve. Tudo é resolvido através de um clique.
Chegamos em Tambaú todos exaustos. Tomei um banho e só quis ficar em silêncio, depois de um ou dois telefonemas. O silêncio tem me revigorado, quando tem sentido de paz e tranquilidade. Tenho pensado tanto, em tanta coisa que nem sei. Mesmo cansado, no sábado a noite, eu saí, com Che e Cesinha. Maikinho está namorando há 1 ou 2 semanas e parou de sair conosco. Nossa turma diminuiu mais um pouquinho. Nós três, querendo fazer a noite diferente, fomos para Santa Rosa, a cidade vizinha, com o John Móvel. Impossível não lembrar que, naquelas ruas, começou uma história de pouquíssimos capítulos, que acabou sem final, e sem muita audiência. Contrariando o agito que Santa Rosa foi naqueles dias de início de paixão, nessa noite, a cidade estava deserta. Eram 3 ou 4 gatos pingados. No Grêmio, lugar onde acontecem bailes toda semana, fomos impedidos de entrar. Era um baile para casais, mais velhos. Sentamos na frente de um boteco nos arredores da praça e bebemos umas cervejas.
Domingo foi dia de confraternização do teatro em casa. Os atores e atrizes da Quintal das Artes compareceram numa tarde de muito calor. Piscina, música, salgadinhos e churrasco! Wagner começou a festa me jogando na piscina, de all star e tudo. E depois foi indo, um a um pra dentro d' água. Num determinado momento, enquanto o som tocava Beatles, todos cantaram "Let It Be", numa grande celebração de jovens que tentam resgatar na arte e na música aquilo que a geração em que nasceram, não inspira. Strawberry fields forever!
Estes últimos dias foram de muito calor, e de chuva também, sempre a tardezinha.
Lislaine e eu passamos a semana
toda ajudando na decoração de Natal dos prédios da cidade que a Quintal das Artes ficou responsável de enfeitar. Na companhia do Zé Eli, ator do Grupo Curtura e funcionário da prefeitura há anos, e do Paulo, que quando não estava resolvendo algum problema, aparecia por lá. Nosso primeiro destino foi o prédio da prefeitura. Depois, fomos para a outra sede, que fica na antiga estação de trem da cidade, que mais tarde virou uma fábrica. E a última parada, foi no museu, que breve será inaugurado. Lis e eu nos divertimos muito. Zé Eli foi receptivo com nossas ideias e trabalhamos juntos numa boa. O que prejudicou foi o calor. Penso que bebia uns 2 litros d'água por dia. Almoçamos todos os dias numa lanchonete. Foi hambúrguer a semana toda. Vida de rei! Quando a prefeitura atrasava algum serviço ou quando esperávamos Zé Eli aparecer, Lis e eu deitávamos na praça Carlos Gomes, ligávamos o mp3 do celular e tentávamos nos refrescar do calor insuportável. A volta para a biblioteca foi na sexta-feira, com panetone pra comemorar o fim do trabalho que, aliás, ficou lindo.
Uma noite antes, os funcionários da biblioteca se reuniram na pizzaria para a confraternização de final de ano. Trocamos presentes num amigo secreto meio manjado. Paulo me presenteou. Eu
presenteei a Josi, que presenteou o Paulo. Marcinha presenteou Che, que presenteou Marcinha. Já Lis e Fatinha trocaram então presentes entre si. Gozado isso! Ganhei uma camiseta do Led Zeppellin muito da hora. Nossa, comi muito essa noite. E me diverti também. Nunca havia participado de uma confraternização de colegas de trabalho. Nunca estive trabalhando nessa época, certinho, com carteira assinada. Foi bom! Depois da festinha da biblioteca, Lis, Che e eu fomos para o posto. Nos últimos dias, Che andou muito estranho. Estava sempre sonolento, calado, com olhar triste, preocupado. Não respondia direito ao que se falava pra ele. Imaginei que fosse por causa da data da cirurgia, que se aproximava. E estava certo! Não posso negar que isso me preocupou muito e me deprimiu bastante também. Che sabe disso, viu isso. Ele não estava preocupado com a cirurgia em si, mas sim com o fato de ter que ficar em casa, de rep
ouso, sem poder sair. Eu passei semanas com isso martelando na minha cabeça. Não podia demonstrar, ficar tocando toda hora no assunto. Tinha era que dar força pra ele, tentar mostrar o lado positivo de tudo. Sei lá como eu me saí nisso. Ele me conhece tão bem, melhor que qualquer outro amigo meu, que acho meio impossível que não tenha percebido. Nessa noite, quando ele me deixou em casa de John Móvel, conversamos um pouco. Combinamos de aproveitar os últimos dias da melhor maneira possível, sem tristeza, sem fossa. E tentamos acreditar que os dias que virão, passarão logo.
Sexta-feira, fui com Che e Leandro até a prefeitura, onde está instalado o Presépio Mecânico "Paulo Rocco". Ele foi criado em 1945, pelo avô do Paulo Rogério, que era artesão, e há gerações, vem encantando as crianças tambauenses. São 150 figuras movimentadas, com muita luz, e um riacho que corta a cidadezinha. Che e eu encontramos todos os personagens desta história no presépio. Josi está na pontinha em cima do riacho, Fatinha está lavando roupa, Lislaine e Leandro no balanço do parquinho. Alan serrando madeira na casinha do lado do sino. E assim vai.
A noite de sábado foi da Lislaine. Che e eu fomos conferir o festival da escola de dança que ela frequenta. Já tinha visto Che a tarde. Ele foi até em casa e assistimos partes do filme do The Doors. Paramos porque íamos nos atrasar. O festival estava com um público muito grande. Foram 2 horas de espetáculo. Lislaine apareceu na parte adulta, dançando lambada, dança de salão, tango, cha-cha-cha e forró. Ela é alta, grande, luminosa. Lis se transforma dançando, vira outra pessoa bem diferente da desajeitada de voz fraca que aparece toda semana por aqui. Ela cresce, tem movimentos certeiros, e as pernas mais bonitas que eu já vi numa garota de quase 18 anos. Senti muito orgulho dela. Tinha mesmo que estar ali prestigiando seu trabalho.
No meio do festival, Che e eu nos estranhamos, após uma piadinha qualquer, bobinha. Eu mesmo nem entendi. Na verdade, o mal de sermos próximos demais é a liberdade que temos um com o outro de ficarmos putos, de descontarmos um no outro nossa raiva, seja ela qual for. Mas isso não atrapalhou a noite. Logo esquecemos. Nós, Cesinha, Neno e Du, um amigo de infância do Che que eu conheci através dele já há algum tempo, fomos para a Lex Luthor. Lá fora, chovia. E lá dentro, estava um calor insuportável. Pingávamos suor. A ventilação da balada é péssima. E a banda era ruim também! Sei lá, eu mesmo não estava nem aí. O que menos me interessava nessa noite era me divertir na balada. Meus pensamentos eram outros. Che e saímos e sentamos, debaixo de chuva, lá fora. Foi uma conversa deprimida, sobre a vida, sobre o que ainda estava por vir. Penso que disse tudo que queria dizer. Ele está comigo o dia todo, em tudo que eu faço, em toda minha rotina. Quebrar isso assim, agora, de uma hora para outra, vai ser difícil mesmo. Ele representa um grande apoio que tenho, uma grande segurança. Durante muito tempo, nada que acontecesse era tão ruim, porque ele esteve comigo. E eu sempre retribuí isso também. Durante muito tempo, eu não fiz nada na minha vida sem antes saber sua opinião, sem ouví-lo. Há uma semana, era só nisso que eu pensava... Saímos de lá às 4 da manhã, já com os meninos por perto. Nem senti a hora passar. Voltamos a sorrir, e a noite acabou.
O dia seguinte foi em família novamente: aniversário da Giovana, a nossa priminha caçula. Há anos que a festa acontece em casa. Meus pais são padrinhos dela. A família toda estava lá. Meus primos de Campinas, minha prima Andresa que se casou esse ano, até o Juninho, irmão dela, que também é meu padrinho, por quem tenho grande respeito e admiração. Aline foi com o namorado novo, gente boa! Ele encarou a família na viagem para Ribeirão Preto também. Primeiro dia com a família da namorada, ele foi um dos que mais suou naquela tarde quente... No fim da festa, minha família tirou os papéis do amigo secreto. Sim, minha família faz amigo secreto há anos. Acaba sendo divertido e inusitado! Coloquei Beatles pra tocar, para que relembrassem os velhos tempos de bailinho na sala da casa de minha avó, quando usavam papel crepon na lâmpada pra colorir o ambiente.
A noite de domingo foi repetitiva. Meus amigos e eu sentamos numa mesa do Bar do Mancha, pedimos um vinho e ficamos lá conversando, ouvindo Raul, como muitas vezes nesse ano. Pra mim, essa repetição foi o melhor que poderia ter acontecido. Me senti protegido, invencível, como se começássemos tudo de novo, como se a história voltasse atrás para revivermos os melhores momentos num flashback da vida. Olhei aquele cenário, aquelas pessoas, Cesinha, Elton e Che, e uma melancolia doce pairava em cima de nossas cabeças. Olhei para o Che, que é um cara muito desligado, avoado, e dessa vez, foi só o que bastou para ele entender tudo que eu queria dizer. Todos nós rimos, conversamos, brincamos muito nessa noite. Aproveitei cada segundo, como quando assisto um filme agradável na tv e rezo para que não acabe logo.
A segunda passou. E terça foi o último dia do Che na biblioteca, antes da cirurgia. Nos últimos dias, mal se ouvia a voz dele por lá. Saí mais cedo os dois dias para ensaiar os atores da peça para uma apresentação, na frente do museu da cidade. Debaixo de um sol escaldante, os atores mandaram ver nas coreografias da peça nas escadarias do museu. Mais tarde, teve a sessão solene no Salão Paroquial, promovida pela Câmara Municipal, que premia os melhores alunos, atletas e atores do ano. Che estava lá com a mãe e a irmã. Neto, Gabriel e Tales foram prestigiar os colegas. Lislaine também apareceu. Joãozinho estava lá fora quando cheguei e, vez ou outra, entrava para pegar uns salgadinhos e um copinho de refrigerante, na maior cara dura. A sessão solene seguiu tranquila, com alguns erros técnicos, alguns erros de português e alguns discursos
descabidos. Sempre pensei que, quem não tem o que dizer, não deve dizer nada. Mas, o mais importante da noite aconteceu: a alegria de Che e Camila ao receberem as placas, de melhor ator e melhor atriz do ano de 2010.
Saímos de lá, Che, Lis e eu, debaixo de uma garoa que caía desde às 7 da noite. Andamos pela rua Dr, Alfredo Guedes, onde as lojas estão abertas. A rua está toda enfeitada, mas o movimento, por causa da chuva, ainda não surpreendeu. O clima era de felicidade, com um certo incômodo escondido. No dia seguinte, Che iria fazer sua última consulta com o médico, e enfim, saber a data da cirurgia. Seguimos até a praça Carlos Gomes. Tiramos algumas fotos. Foi quando olhei para os dois, abraçados, e pensei no quanto que eles são importantes pra mim, em quantos momentos
compartilhamos juntos durante todo esse tempo. Queria imortalizar isso tudo, guardar tudo numa caixa e abrir toda vez que a solidão ameaçasse aparecer. Che e Lislaine estão comigo desde quando voltei de São Paulo, com uma mão na frente e outra atrás, sem amigos, começando minha vida de novo. E eles são com certeza, os melhores amigos que poderia encontrar.
Dia seguinte foi de correria. O evento "Natal na Estação" estava sendo preparado na frente do museu. E os funcionários da biblioteca estavam ajudando na organização. Fatinha e Josi saíram para comprar os comes-e-bebes que seriam servidos aos integrantes do coral. Marcinha fez o café e o chá. Eu fiz, de última hora, o texto de apresentação do evento e a divulgação
pela internet. Lis ajudou nós todos, em tudo. Paulo deve ter passado quase o dia todo lá, arrumando o palco, checando o som, preparando o museu. Saí da biblioteca às 6 da tarde e quando estava no caminho de casa, Paulo me ligou. Queria saber se Che toparia se vestir de Papai Noel. Eu tinha certeza que sim. Quando cheguei em casa, no telefone com Che, que já havia chegado de São João, ele confirmou o que pensei, ele seria o Papai Noel naquela noite. E disse também que iria se internar no dia seguinte, de manhã. Serão 8 meses de fisioterapia diária, dependendo da sua recuperação.
A chuva não deu trégua para o nosso natal na estação. A iluminação fica até mais bonita em noite de chuva, mas não era o que queríamos naquela hora. Na incerteza de como tudo
aconteceria, foram aparecendo os alunos do teatro, o pessoal da biblioteca, as autoridades, Che,
Lis, e finalmente, o coral "Cantigas e Modernas", de Santa Cruz das Palmeiras. Enquanto esperávamos, o som rolava lá fora com músicas de Natal de John Lennon. De repente, "Imagine" ecoou na praça Carlos Gomes. A galera do teatro estava quase toda com camisetas de bandas de rock. Che, Neto e eu, vestíamos camisetas dos Beatles. Num coral improvisado, todos cantaram a canção imortal de John Lennon das janelas do museu, com os braços para o ar, e o coração cheio. O evento teve início, ali mesmo, na varanda. O coral de Palmeiras iniciou sua apresentação dentro de uma das salas. E nós assistimos todos da varanda. Foi emocionante, de arrepiar. A cantoria começou com "Chalana", passou por "Marcas do que se foi" e terminou com "O Natal existe", clássica música que eu cantei na formatura da primeira série, quando tinha 8 anos e estudava na escola Padre Donizetti. O elenco da peça e os músicos Clayton dos Reis e Jader de Oliveira, não se apresentaram. A chuva não deu trégua. Mas o Papai Noel tinha que aparecer de alguma forma. Convenci o Che a vestir a roupa do bom velhinho. Tiramos muitas fotos, todo mundo se animou, e eu tenho certeza que ele não irá esquecer disso nunca.
A noite foi chegando ao fim. Sobramos Che, Lis e eu. Sentamos protegidos da chuva e ficamos um tempo em silêncio. Os três sabiam da realidade do dia seguinte e queriam que não fosse verdade. Meio em dúvida, fomos para o posto. Ficamos por lá uns 20 minutos. Arriscamos mais umas fotos, algumas piadas pra descontrair, e o silêncio que ainda predominava. Entramos no John Móvel e saímos para ir embora. No caminho até a casa da Lis, o silêncio agora era ensurdecedor. Mas não tínhamos mesmo muita coisa pra dizer. Já que tudo aquilo era verdade, que então passasse rápido e da melhor maneira possível. Eu quieto, no banco de trás, baixava os olhos. Não queria que vissem nenhum reflexo do meu rosto, em nenhum espelho. Tínhamos que ser fortes. Afinal, tudo dará certo. Deixamos a Lis e seguimos para minha casa. Eu pensei em tanta coisa que queria dizer naquela hora. Sabia que seria ruim, doloroso, mas era a chance de dizer o quanto me importo, e dar força pra ele. Mas não consegui, sequer abraçá-lo. Apertei-lhe a mão, disse que ficasse com Deus, e que, qualquer coisa que precisasse, qualquer hora, quando se sentisse sozinho, poderia me ligar. O que eu mais quis naquela hora foi sair do carro, me esconder. Me senti um copo transbordando. Não ia conseguir dizer nem fazer mais nada. Saí do carro, o vi dobrando a esquina, e fiquei um tempo, estático, no portão de casa, sem reação. Como podia ter sido tão trouxa de não ter dito nada, de não demonstrar o quanto será ruim ficar longe, mesmo que ele já soubesse, mesmo que todo mundo já soubesse. Entrei, liguei pra ele no celular. Nos falamos depois pela internet, durante uns 15 minutos. Ele tinha que dormir, pois sairia de madrugada. Eu disse o quanto que me importo, reafirmei que ele pode contar comigo pra tudo, e prometi que, no ano que vem, tudo será melhor. Os últimos tempos foram difíceis pra nós, só nós que sabemos. E só eu posso mudar isso, mesmo que me acabe, que seja a duras penas. Tudo será diferente, eu jurei isso. Sequer deixei que ele falasse algo sobre isso, é um compromisso que assumi. Pedi que ele me ligue quando chegar. Um pouco mais aliviado, nos despedimos. Ao invés do tradicional "até mais" que a gente sempre usa, enviei um "Abraço, amigo!". Ele retornou com um "Abraço, irmão!". Foi quando a noite mais triste do ano, acabou.

Eight days a week

A última apresentação da peça aconteceu no último sábado e surpreendeu a todos. A SAT estava lotada e tivemos que pegar cadeiras no camarim para que o público todo se sentasse. Eufórico, esse mesmo público aplaudiu os atores de pé. Era a última vez que esse trabalho, que foi doloroso, cansativo, mas de resultado muito satisfatório, era apresentado. Meus olhos encheram de lágrimas quando o elenco cantou
"Eu te amo, meu Brasil" pela última vez. Abracei meus amigos, Che e Lislaine, que estavam igualmente felizes pelo resultado. Meus pais, tias, amigos, pais dos alunos, até a Paulinha (que sempre acessa o blog), estavam lá, prestigiando. Paulo e eu subimos no palco, entregamos os certificados de participação aos atores, e os prêmios de Melhor Ator e Melhor Atriz. Camila ganhou os prêmios de Melhor Atriz nas duas votações, na dos próprios atores e na eleição feita pelo Paulo e por mim, visando o desempenho do grupo durante o ano todo. Os prêmios de Melhor Ator foram para Rodrigo e Neto, empatados na votação do grupo. E o outro, como Melhor Ator do Ano foi para o Che, merecidamente, pelo desempenho na peça "Sexo dos Anjos". Fiquei louco, me mordi de vontade de contar pra ele, já que sabia há semanas que ele era o escolhido. Mas me aguentei e a surpresa aconteceu. Che mal podia acreditar. Subiu no palco e me disse entre-dentes: "eu vou matar você" hehe. Mas ele gostou.
A SAT foi esvaziando, esvaziando. Fazia uma noite bonita lá fora. Todo mundo foi se despedindo. Sobramos Paulo, Che, Lis e eu. Paulo arrumava o camarim e levava os equipamentos para o carro. O palco estava vazio, as cadeiras desarrumadas. Era confete e serpentina pra todo lado. Fui até a vitrola e perguntei para o Che: "você viu que isso aqui funciona?". Coloquei o disco dos Beatles. "Hey Jude" ecoou pela SAT, na velha vitrola potente do Paulo. Ouvimos a música, enquanto sentíamos a energia que ainda rodava pelo espaço, o calor humano da arte, do aplauso, da vontade de ser e acontecer em cena, espíritos despertados pelo som da criação. A música acabou. O silêncio voltou. Saímos. Era o fim de mais um espetáculo.
Um final de semana antes, aconteceu o Motofest aqui em Tambaú, no Recinto de Eventos. Estes últimos dias não foram bons. Matei um leão por dia. Teve uma hora que achei que não iria suportar. Ia surtar, quebrar tudo, mandar tudo para o espaço. Era a estreia da peça que chegava, meus pensamentos que me consumiam, e meu coração, pequeno, se esmagando aos poucos. Ensaiamos a peça na sexta-feira. Che e Cesinha me encontraram no final e descemos todos para o Motofest. Os meninos do teatro foram também. Entrei como responsável por eles. Se eles bebessem, era rua pra nós todos. Mas eles se comportaram e ficaram só na coca-cola, sem rum, ok? Naquela noite, a banda Nota Promissória se apresentou. Assistimos o show delas na SEUNIT desse ano, numa noite em que ganhei um beijo que nunca achei que ganharia. Mas isso é relato antigo e está por aqui em algum lugar... A banda toca rock e é composta só por garotas adolescentes. Pouco curti o show nessa noite. Minha cabeça estava tão longe, em pensamentos tão perto, e tão impossíveis. Na noite seguinte, Maikinho estava conosco. Essa foi divertida. Teve dança das cadeiras entre nós. Caí de maduro, legal no chão, com as duas pernas pra cima, quando ia me sentar e Cesinha puxou minha cadeira. Todo mundo viu, e riu. Ahh mas não ficou barato. Estava meio bêbado de vinho, nem liguei, mas escondi a carteira do Cesinha, o que fez com que ele ficasse boa parte da noite sem cerveja. Isso tudo era eu tentando ficar bem. Éramos nós tentando ficar bem. No domingo, curtimos o Motofest durante a tarde. Lis estava lá. Leandro deu o ar da graça também. Numa conversa descompromissada com o Che, sentados na grama, vendo o show de cima, eu vendo tudo amarelo, por causa do meu novo óculos de sol, que comprei do Marco Antonio por um preço absurdo hehe, o assunto era destino. Sempre que estamos de bode um com o outro, demoramos pra conversar, pra resolver as coisas. Ficamos tentando resolver na marra, assim, sem ter que passar por situações duras, nem conversas muito tensas e difíceis. Fingimos que está tudo bem, tentamos ficar de boa, até que finalmente não dá mais pra fugir do papo bravo. Enquanto não rola, jogamos indiretas no meio das conversas descompromissadas. O fato é que me lembro de ter dito pra ele nesse dia que, não sabemos nunca qual será o nosso destino, o que vamos fazer, como e com quem vamos terminar, e se vamos terminar com alguém, mas que tenho certeza de algo, de que nada será como a gente deseja. Isso não quer dizer que não haverá uma certa felicidade implícita, ou explícita, nisso tudo. Na sexta-feira, noite da segunda apresentação da peça, Lis, Che e eu saímos. Acabamos no bar do Geraldo. Lis tem compromisso no sábado de manhã, aula de inglês, por isso, sempre vai embora mais cedo na sexta. Che e eu sobramos, mas ainda não tivemos o papo bravo nessa noite. Falamos de teatro, de vida, fomos agradáveis, gentis. E ficamos bêbados de cerveja. Nunca ficamos bêbados de cair, nem de passar mal. É muito raro. Quando acontece isso, a descrição aqui é "tomamos um porre". Não foi o caso. Acho que eu fiquei embriagado com as minhas próprias palavras. Uma certa hora, não sabia mais o que falava, nem perguntava, e se estava tentando fugir do pauta principal. Eu sei que fui embora contando os passos. Só não chutei porque chutar de all star com a sola gasta dói demais... Nem usei o fone de ouvido. Foi no auto-falante do celular que saiu a trilha da cena. Não me lembro, mas acho que tocou Scorpions.
No sábado depois da peça, estava no auge do cansaço e do stress. Queria sair pra comemorar, com os meus amigos. A tarde tinha sido uma deprê total. Fui até a praça com a Lis e o Che, mas não durei muito. A cólica de rim me pegou nessa noite. Comecei a sentir durante o espetáculo, mas pensei que ia passar logo, como das outras vezes. Mas veio forte. Liguei para o meu pai e ele foi me buscar. Estava pálido de dor. Não conseguia respirar direito. Meus pais me levaram para o Pronto Socorro. Injeção na veia, depois na polpa (isso é ótimo, me sinto um maracujá!). Me deixou com a garganta seca, os olhos ressecaram e minha lente de contato parecia gillete nos meus olhos. Cheguei em casa, me livrei dela no banheiro (da lente, ok?) e caí na cama. Dormi. Dormi muito.
Domingo fiquei de molho o dia todo, sem dor alguma. Entrei na internet a noite para esperar o Che aparecer para combinarmos a saidinha. Eu ia finalmente comemorar o sucesso da peça. Nada! A dor voltou forte de novo. Tomei remédio e rezei pra passar logo. Dessa vez, não era caso de Pronto Socorro. Che entrou na internet. Disse que não ia sair por causa da dor. Continuamos conversando e, na hora mais imprópria que podia haver, o papo bravo começou. Tentamos fugir logo depois, mas não tinha mais jeito.
Eu sei que foi uma grande merda. Perdemos o controle e dissemos coisas duras, mas que os dois queriam dizer há dias. Depois, tudo se amenizou. Mas o que ficou decidido, estava de pé: o afastamento. Tudo já havia se transformado num fardo muito grande pra carregar. Nenhum de nós merecia mais isso.
Seria mais fácil conversar pessoalmente, mas tudo parece mais corajoso atrás da tela do computador. Ganhamos coragem pra sermos como quisermos, bons ou maus. Mas foi assim que aconteceu e uma pedra estava sobre o assunto.
A dor no rim passou. Na segunda, ela incomodou um pouco, mas logo voltei ao normal. E as pedrinhas ainda não saíram. Verei um flashback desse final de semana em breve. A semana na biblioteca foi de trabalho atípico. O espaço está cheio de guirlandas, enfeites de Natal, e renas de madeira. É a decoração de Natal que a Quintal das Artes está preparando para enfeitar alguns prédios da cidade nas próximas semanas. O pessoal da biblioteca vem ajudando a arrumar alguns detalhes. Fatinha e Lis estão cuidando das guirlandas, com muita cola quente e criatividade pra tanta bola, flor, maçãzinha, laço, passarinho e sino. Lis voltou a trabalhar na biblioteca todo dia, agora que suas aulas acabaram. Aliás, essas últimas semanas foram muito importantes para ela.

Terceiro colegial... Término de ciclo e início de uma nova era.... Estamos quase no Natal. Vixe, o tempo passou muito depressa, quase não percebi. Só tive noção de realidade quando professores e colegas começaram a dizer frequentemente: “Os vestibulares estão chegando! Quem for prestar, se prepare!” Até eu às vezes acabava dizendo e me perguntando que faria depois do colegial, o que eu seria... Veio então as inscrições pra os vestibulares. USP, UNESP e o tal do Enem...
Não foi fácil mandar os documentos para o vestibular da USP, pois de um lado diziam que documento tal teria de ir, o outro não. Do outro vestibular, diziam o contrário. Chegamos a um ponto de extrema confusão, até uma luz acender e enviarmos os tais... o Enem foi mais fácil devido ao uso da internet para a inscrição.
Para a Unesp, não fiz a inscrição. Já estava na fase “que vá tudo pro raio que o parta”, Fiz o Pasusp,q ue é uma prova de 50 questões da USP, para fazê-la precisei ir para Ribeirão preto devido a opção que fiz no momento da inscrição, mal sabia eu que dava pra fazer em Pirassununga, hehe.
Em novembro veio o Enem. Quase pirei uns dias antes e nos 2 dias de prova tinha sempre alguém pra falar no dito cujo. Foram 2 dias, 90 questões em um dia e mais 90 no outro, mais a dissertação. Odeio redação, nunca fiz uma descente e não seria aquele dia que iria fazer. Teve depois a FUVEST, que me fodest toda, não fui bem.
Entrega de Trabalho, apostila, Conferir visto do Caderno e provas... Chega à camiseta de Formatura... Olho atrás dela e estão os nomes dos seres na qual convivi quase 1 ano. Uns convivi mais, outros nem olhei no rosto direito, mas os nomes deles estão ali pra lembrar que eles passaram por mim, pela minha vida." (Lislaine)

Che fez uns desenhos de renas natalinas. Paulo mandou cortar as renas de madeira, e Che e eu pintamos todas com tinta branca essa semana. Agora, ele está desenhando os olhos, e os últimos detalhes. Fatinha enfeitou a árvore da biblioteca, com enfeites em formato de livrinhos, num trabalho totalmente artesanal. Ainda nesse clima natalino, decidimos como será a confraternização de final de ano da biblioteca. Tiramos os papéis do amigo secreto, e a festinha acontecerá na semana que vem.
Outra confraternização que vem por aí é a do teatro. Encontramos o elenco todo na quinta-feira pra combinar tudo.
Depois de uma semana comprida, exaustiva, o que eu mais queria era o final de semana. Saí da biblioteca na sexta-feira sem acreditar que tinha chegado. Estava animadíssimo pra sair e combinei com a Lis e o Che. Nós conversamos na terça-feira a noite sobre tudo que aconteceu, sobre a conversa difícil do domingo, e ficamos numa boa. Desistimos do lance de nos afastarmos. Pra mim, por mais que tenha tentado, é muito difícil fazer isso. Então, ficou o dito pelo não dito. E a história sossegou, voltou pra debaixo do tapete. E chega de falar dela...
A Lis não apareceu na sexta-feira, houve um desencontro. Na verdade, acabei sem saber se ela saiu ou não. Che e eu, meios sem destino numa cidade quase deserta, fizemos a noite no "Sabor & Sede", com alguns amigos dele, que ele conhece desde a escola. Bebemos cerveja. Eu já tinha bebido antes, no posto. Depois, encontramos o Leandro na praça. Bebemos mais um pouco com ele. Eu sei que fiquei muito mal. Decidimos comer numa lanchonete, pois todos estavam com uma larica terrível. Eu deitei no banco do John Móvel atrás, quase dormindo, até lá. Comemos num silêncio total na mesa. Cheguei em casa mal enxergando a fechadura do portão. Entrei, tirei a lente, que a essa hora irritava meu olho. Tirei a roupa, o all star, e capotei na cama. Nem sonhei.

Somos todos do teatro

Em 1996, minha família morava numa casa no centro da cidade, do lado da farmácia onde meu pai até hoje trabalha. Era uma casa velha, com teto de madeira carunchada. Tinha um quarto só e, por isso, passei boa parte da minha infância dormindo no mesmo quarto que meus pais. Eu estudava na Escola Padre Donizetti, que era pertinho de casa. Ia todo dia a pé pra escola. Passava no mercado Abackerli, que era na mesma rua e até hoje continua no mesmo lugar, comprava um Fandangos e um chocolate pro recreio, e ia estudar. Meus amigos estavam sempre em casa. Meu pai pagava sorvete pra nós quase todo dia, já que a sorveteria era muito próxima da minha casa. Todo dia a noite saía de bicicleta pra pedalar na praça. Ficava dando voltas no quarteirão, e sempre parava na locadora Fox Vídeo pra ver as prateleiras. Foi lá que um dia roubaram minha bicicleta. No mês de outubro na minha rua, a Dr. Alfredo Guedes, tinha a Festa da Amizade. Eu adorava. Estão aí grandes lembranças de brincadeiras e comilanças da infância. Meu pai nessa época já tinha um fusquinha, mas na nossa casa não tinha garagem. Ele guardava o carro na oficina do Seu Mauri Rocco, pai do Paulo Rogério, que fica nos fundos da casa dele. Seu Mauri alugava a oficina para guardar carros dos moradores da região que não tinham garagem em casa. Numa noite, quando meu pai guardava o carro, vi o grupo de teatro que o Paulo dirigia na época ensaiando na garagem. Era o Grupo Curtura que ensaiava, se não me engano, a peça "Seis Personagens a Procura de um Autor". Os atores usavam roupas bonitas, falavam alto e eram enormes aos meus olhos de criança. Ficava admirado e olhava tímido, com a cabeça baixa. Não devia entender nada mas gostava muito do que via. Isso aconteceu durante várias noites. Em uma delas, meus pais e eu ficamos mais tempo e assistimos algumas cenas a mais. Meu pai então começou a perceber meu interesse e conversou com o Paulo, que me convidou para entrar para a Escola Municipal de Teatro, que ele também dirigia com o apoio da Prefeitura. Mas a vergonha e o receio me seguraram ainda durante 2 anos. Em 1998, ainda morava no centro e numa noite, fui com amigas minhas até o Centro Cultural, onde Paulo ensaiava. Começava ali minha história no teatro.
Apresentamos naquele ano o musical "Casa de Brinquedos". No começo dos ensaios, fiquei tímido sim, receoso, mas fui me soltando, até que comprei o cd com as músicas da peça e numa tarde na casa de uma amiga minha, montei a coreografia da "Bicicleta". Cheguei no ensaio naquela noite e disse pro Paulo que tinha algo pra mostrar pra ele. Foi só a primeira. Algumas coreografias da peça fui eu que montei. Eram simples, infantis, mas me orgulhava tanto delas. No ano seguinte, veio mais um musical, dessa vez, "A Arca de Noé". No cartaz da peça, em vermelho, vinha escrito "Coreografias de José Ono Junior". Eu tinha 14 anos e não tinha noção do tamanho disso.
Nessa época, o Grupo Curtura continuava seus projetos. As peças eram mais bem produzidas, tinham figurinos especiais, iluminação, e uma estrutura bem diferentes das pecinhas que a gente fazia na Escolinha de teatro. Eu assisti "Uma Serpente no Seio de Roma" e pensei que um dia iria conseguir chegar ali, trabalhar naquele grupo, com aqueles atores e aí sim eu seria importante.
Minha trajetória no teatro continuou. Em 2001, montamos "Tribobó City". Fiz o "El Mexicano", até hoje um dos personagens que mais gostei de fazer. Numa apresentação para a escola Alfredo Guedes, lembro das crianças correndo atrás de mim nos fundos do Centro Cultural e gritando "los indios, los indios" e pedindo autógrafo hehe. Foram meses andando pela cidade e ouvindo gente gritando o bordão do Mexicano. Em 2002, fizemos leituras de uma peça de Domingos de Oliveira, "Somos Todos do Jardim da Infância". Adorei o texto e gostei logo de cara do personagem "Felipe". Mas a peça não aconteceu. A escolhida foi um clássico de Molière, "O Médico a Força". Nunca vi um público rir tanto quanto nessa peça. Era gargalhada do começo ao fim. Mutreta e eu éramos uma dupla infalível nessa época, mesmo vivendo às turras. Era ego demais num grupo só.Logo depois, um novo desafio, "Édipo Rei", tragédia grega de Sophocles. Fazia o "Tirésias". Usava uma maquiagem pesada. Raspei a sobrancelha e o cabelo. Tirésias era cego e da boca dele saía a perdição de Édipo. Com essa peça, encarei meu primeiro festival de Teatro, em Pirassununga, o que não foi uma experiência boa. Era importante demais pra mim e o nervosismo já me tirava do sério.
No ano seguinte, veio minha primeira apresentação como "Herodes", na Paixão de Cristo.
Mas a mais elogiada foi a de 2004, quando Paulo dirigiu "Inri - Pietá". Até hoje ele diz que foi minha melhor atuação, que nunca me viu tão bem em cena. Eu já estava em São Paulo, cursava o curso profissionalizante de ator no Teatro-Escola Célia Helena. Morava sozinho numa kitnet da Alameda Santos, perto da Avenida Paulista. Meu pai pagava a escola pra mim. Ele não gostou muito da ideia quando soube que queria me formar como ator. É uma profissão difícil, instável, e bem concorrida. Mesmo contrariado, querendo que eu cursasse Medicina ou Farmácia, meu pai sempre me apoiou. Em 2005, apresentava a peça "Portobello Circus" em São Paulo, no Teatro Célia Helena. O camarim do teatro ficava em cima do palco, e de lá de cima, se via a plateia atrás da cortina preta. Meus pais estavam em São Paulo. Era a minha primeira peça que eles iriam assistir em São Paulo. Puxei a cortina preta e vi os dois sentadinhos, no meio de toda aquela gente bacana, encantados com o teatro e ansiosos para me verem em cena. Eu usava uma maquiagem toda branca, era o dono do circo na peça. Naquele momento, não resisti à emoção e derreti um bocado dela. Queria que meu pai se orgulhasse e visse que seu esforço para me manter em São Paulo não era em vão, que a minha alma era de artista e se não fosse assim, eu não seria nada. Foi a primeira vez que encontrei meus pais com os olhos marejados depois de me verem atuar. Ali, naquela noite, tive a certeza que estava no caminho certo.
Passei 5 anos em São Paulo, 3 deles estudando. Fiz várias peças com a escola e uma profissional apresentada durante 3 meses no Espaço dos Satyros. Participei de muitos testes, fiz teste até na Globo hehe, atuei num curta-metragem, muita história que nem caberia aqui agora. Trabalhei com telemarketing também durante um tempo, e passei também muito tempo como ator desempregado. Cresci muito como pessoa durante esses 5 anos. Me apaixonei muitas vezes, quebrei muito a cara, vi meus sonhos surgirem e escoarem pelo ralo várias vezes. Durante esse tempo, ainda fiz alguns trabalhos com o Paulo. Ministrei alguns laboratórios com os atores e participei do grande sucesso do Curtura, "A Gaiola das Loucas". Em 2008, voltei para Tambaú.
Estava perdido, com uma mão na frente e outra atrás, sem amigos, sem nada.
Todo mundo estava fora, fazendo a vida. Pra mim, eram vários passos pra trás. Paulo então me chamou para acompanhar o ensaio de "O Príncipe da Quermesse". Foi quando conheci os atores e o novo grupo que tinha se formado enquanto estava fora. Li o texto, ouvi as músicas e as ideias começaram a surgir. Com a permissão do Paulo, comecei a mexer na peça. Fiz muitas coreografias e o espetáculo depois de 2 meses de trabalho, ficou pronta. A peça foi um sucesso. Tivemos um público ótimo durante as 3 apresentações e todo mundo saiu satisfeitíssimo. Na última apresentação, quietinho, na última cadeira da plateia, me emocionei muito. Teatro é minha vida e ele estava presente novamente nela. Ver os garotos trabalhando, curtindo o que eu curtia quando tinha 13, 14 anos, foi tocante. Demorei um tempo para entender que Deus escreve certo por linhas tortas. Quis a vida toda trabalhar com teatro, e estava. Num lugar diferente e de uma forma diferente, mas estava vivendo de arte.
Em 2009, o teatro se fez ainda mais presente. Passei em um concurso da prefeitura e dei aulas de teatro nas escolas durante 6 meses, até quando o projeto acabou. Na SAT, continuei trabalhando com o Paulo, assumindo maiores responsabilidades. Foi sofrível no começo. Tinha medo, me sentia despreparado. Me formei como ator, e não como diretor, e a ideia de aprender assim, na raça, me assustava demais. Fui me adaptando aos poucos ao grupo, ganhando intimidade, me soltando, e o medo foi passando. Nesse ano, dirigi junto com o Paulo a peça "Tribobó City", a mesma que atuei em 2001. A peça foi bem musical e agradou muito as crianças que prestigiaram. Além dessa, também me apresentei com "Confissões de Adolescente", onde contracenei com as meninas do grupo. Era pai delas, foi uma experiência ótima.
Em 2010, o trabalho na Quintal das Artes seguiu em frente. No início do ano, surgiu "Sexo dos Anjos". Lembrei daquele antigo sonho de atuar no Grupo Curtura. Já tinha passado por ele, umas 3 vezes antes, mas essa foi especial, o melhor texto que já encenei. Tenho recordações dos ensaios, das apresentações, muito vivas dentro de mim. Foi tudo muito forte e essa peça nos orgulha muito. Além de trabalhar na biblioteca, as aulas no grupo de teatro continuaram. Um dia, Paulo me questionou sobre a peça que faríamos nesse ano. Me lembrei de "Somos Todos do Jardim da Infância", do quanto que gostava do texto. Sugeri que transformássemos
a peça num musical. Paulo topou na hora. Até estranhei, mas nem disse nada. Dividimos o grupo e começamos os ensaios, além do musical, da "Casa de Brinquedos" também. Num dia de extremo cansaço, de fadiga mesmo, estava de saco cheio, estressado, e num rompante, disse para o Paulo que pensava em sair fora do teatro. Ele foi enfático: "se você for sair, precisa me avisar logo, pois estava pensando em deixar a direção do 'Jardim da Infância' com você". Paulo me conhece muito bem e sabia que isso iria fazer com que mudasse de ideia. Minha cabeça deu um nó. Travei. Não ia nem frente, nem pra trás. As ideias não saíam. Foram noites de difíceis ensaios, a passos de tartaruga, e cada vez mais, me sentia culpado, frustrado. Numa noite dessas, resolvi que isso não me dominar mais. Criei vergonha na cara e comecei a trabalhar, mostrar tudo que sei. A peça começou a aparecer. Isso empolgou Paulo também, que me ajudou bastante nos equívocos que eu cometi no meio do caminho. Os ensaios se intensificaram. Era "ou vai, ou racha". E foi. A divulgação começou, as coreografias foram ficando prontas, os figurinos aparecendo, e o trabalhando ganhando forma.
Dia 25 de novembro de 2010! Chegou o dia da estreia. Vivi dias muito difíceis em 2010, com muitas perdas e desilusões, como acontece com todo mundo. Ainda é hora de crescer. Tem dia que acordo e vejo que não sei nada da vida, nem de mim. Os últimos dias foram de bomba-relógio. Pensei em alguns momentos que iria explodir. No dia da estreia, saí mais cedo da biblioteca. Fui pra casa, dormi bastante. Acordei muito nervoso, deprimido. Me tranquei no quarto, liguei o som. Cantei, cantei muito. Alegria, alegria; Soy loco por ti America, I want to hold your hand, Call me, Hey Jude... Me acalmei. Pensei em tanta coisa. também não caberia aqui. Coração estava em frangalhos, sem força, batendo ora rápido, ora devagar. Na SAT, andei de um lado para o outro. Todos estavam nervosos, a sua maneira. A peça começou. Meus pais estavam na plateia, e tivemos um público muito bom nessa noite. A voz do José Eli narrando as falas do autor veio primeiro. Logo depois, "We go together", do filme Grease, que sempre me encheu os olhos. E aí foi... Os meninos na sala de aula, tomando sorvete na Milka, dançando Elvis com as meninas na festinha. Veio a triste cena de desamor com Isabelle e Gabriel, sensibilizando. Depois, o xodó "Biquini de bolinha amarelinho" com as queridas Camila e Carolzinha, segurando as revistas Cláudia, tão coloridas e ousadas. "O bom" Neto fez graça no cinema, e depois do beijo, veio o tapa com o "Splish Splash". Os hilários Marco Antonio e Tales tomando um tenso café desigual, procurando solução para aqueles problemas tào complexos. O baile de formatura funcionou como panela de pressão para aqueles personagens. Claudinha surgiu, com nome de flor, trazendo beleza e perfume. Juliano tentando ganhar o primeiro beijo para seu personagem, mas o tiro saiu pela culatra, com o soco que levou do cadete, namorado da Norma. Veio a hora do "Rock around the clock", logo depois, a descoberta do amor com "Can't take my eyes off of you". Ane Caroline, nossa grande Carol, surgiu de vestido vermelho na frente da lua, que era poste. A tensão do vestibular com os delírios de "Get Back", dos Beatles, que apareceram bastante no espetáculo com "Hey Jude", "Let it Be", "Yesterday" e "I want to hold your hand", que relembrou os momentos dessa turma para plateia numa mistura de cinema e teatro.
O brinde findou. E a turma se calou. O Artur, do Rodrigo, tombou junto com o Brasil. E a peça enfim ganhou tons em preto-e-branco. Começava o período negro que nos libertaria só no ano em que nasci. A cor voltou. Veio o carnaval e aqueles queridos amigos cantaram: "eu te amo, meu Brasil, eu te amo". Os aplausos vieram. Plateia em delírio. Paulo emocionado, com os olhos marejados. Eu não estava diferente. A noite seguinte foi mais especial. Mais público, mais aplausos e a peça mais redondinha. Tudo saiu como queríamos. Meus pais me cumprimentaram no final e eu vi, novamente, meu pai com os olhos vermelhos de emoção, orgulhoso de mim.
Minha sensação é de que poderia ter trabalhado mais, ter deixado tanto de insegurança, e ter caído de cabeça na peça mais cedo, mas Deus entra de novo na história, e Ele sabe o que faz. O trabalho está aí, cumprido, e todos nós somos do jardim da infância, na hora de comemorar nossos êxitos. A arte liberta, conforta, nos inspira, nos faz crescer, compreender, aguentar. E eu rezo pra que ela esteja comigo, em minha vida, até o último dia, e que esse seja sempre o meu caminho.
Hoje ainda temos espetáculo, a última apresentação. E a noite ainda guarda muitas surpresas e muita emoção pra todos nós. E a nossa história nesse riacho da vida continua...

"Estou aqui de passagem. Sei que adiante um dia vou morrer de susto, de bala ou vício, num precipício de luzes, entre saudades, soluços. Eu vou morrer de bruços, nos braços, nos olhos, nos braços de uma mulher. Mais apaixonado ainda, dentro dos braços da camponesa, guerrilheira, manequim, ai de mim, nos braços de quem me queira."

"Eu vou, por entre fotos e nomes, os olhos cheios de cores, o peito cheio de amores vãos. Eu vou, por que não?"

Balada triste

Este blog é um diário pessoal, desde o início. Portanto, tudo o que conto aqui é verdade, mesmo que essa verdade não esteja completa em alguns casos. Afinal, não é tudo sobre nós que devemos expôr na internet. O fato é que, tudo que for importante para as histórias contadas aqui, está aqui, com uma pincelada maior nisso, naquilo e uma forma diferente de contar as histórias, com um pouquinho de ficção, para que fique interessante para quem lê. Este relato foi o mais difícil de escrever até hoje, o mais doloroso e o que mais demorou para ficar pronto. Me sinto tão machucado que achei que não conseguiria. Foram 3 tentativas e nenhuma deu muito certo.

Primeira tentativa

A casa amanheceu toda bagunçada. No meu quarto, o edredon estava no chão, e na cama desarrumada, várias peças de roupa amarrotada. Do lado, a pulseira verde do baile da noite anterior rasgada. O all star preto com meias suadas e encardidas também estava lá. Na mesinha da sala, um prato sujo com a pizza do almoço, um pano de prato e o notebook morrendo quase sem bateria. Na cozinha, os tapetes todos tortos pelo chão, e a caixa da pizza aberta em cima da mesa.

Segunda tentativa

São quase meia-noite de quinta-feira, dia 18 de novembro. Lá fora, o céu está estrelado. Eu não perdi a minha mania de criança de não entender porque é que o céu, depois de tanta chuva, ainda consegue mostrar as estrelas. Amanhã volto a trabalhar, depois de 2 dias de molho em casa, doente. Ainda estou me recuperando, tomando remédios que me fazem suar muito. Tem sido horrível. Fui ao ensaio da peça hoje, que, aliás, foi ótimo. A turma estava animada e deu gosto de ver. Amanhã eles apresentarão, num evento sobre a juventude tambauense, que ocorrerá na SAT, um número musical da peça. Ficaram sabendo disso hoje e saíram do ensaio felizes da vida. Depois do ensaio, Che apareceu na SAT, como combinamos. Faziam 4 dias que não o via. Durante esse tempo, o que eu mais quis foi reencontrá-lo, para realmente ver que está tudo bem entre nós. Fomos para o posto, conversando. Ficamos lá um tempo e fomos embora. Che estava animado, feliz, percebi que até queria ficar mais por lá. Eu não, eu queria mesmo era ir embora e pensar naquilo tudo. Tentei agir como se estivesse tudo bem, e eu até achei que estava, mas o nosso reencontro não me animou como eu esperava. Por um momento, eu desejei não estar ali.
Na principal rua do centro da cidade, passei e vi a primeira árvore de Natal desse ano, na vitrine de uma papelaria. Estava ouvindo “Wind of change”, do Scorpions, quando meu celular tocou. Era o Murilo, de Limeira. Ele já havia me ligado antes, mas estava no meio do ensaio e não pude atender. A ligação me espantou bastante. Pensei que nunca mais iríamos nos falar. Sempre é assim que acontece. Conversamos um pouco. Ele falou do emprego novo que apareceu, e que
não sabe se pega ou larga. A conversa resistiu até ele perguntar se estava tudo bem. Ele percebeu pela minha voz que não, nada ia bem. Tentei desconversar, disse que não era nada com ele. Foi quando ele perguntou do baile de sábado. E eu contei a história toda.

Terceira tentativa

O final de semana chegou novamente e dessa vez eu nem senti, nem rezei pra que chegasse logo. Hoje é sexta e meu relógio biológico está todo errado. É meu segundo dia de trabalho na semana. Depois do feriado de segunda-feira, fiquei mais dois dias em casa, de cama, por causa de um infecção na garganta que me pegou de jeito e quase acabou comigo. Estou sentindo um sono descomunal. Acordei atrasado hoje e ontem fui dormir tarde pra burro.
Na noite de ontem, aconteceu na SAT um evento que deu início a uma campanha em prol da juventude tambauense. Várias autoridades da cidade, psicólogos, assistentes sociais, nossos atores e alunos das escolas de Ensino Médio estiveram presentes. Para mostrar um pouco do que a juventude de Tambaú vem fazendo na área artístico-cultural, a banda Quantum's Loko's
foi a primeira a se apresentar. Neto, Wagner, Gabriel e Marco Antonio, que são atores da Quintal das Artes, fazem parte da banda, juntamente com Kadmo e Rodolfo, que são amigos deles. Logo depois, foi a vez da Dança Circular com os
alunos da Escola Padre Donizetti, ensaiados pela professora Ana, de Educação Física. Desse grupo, Carolzinha e Marcos, alunos da Quintal, fazem parte. E para fechar com chave de ouro, os atores da nossa peça "Somos Todos do Jardim da Infância", apresentaram dois musicais do espetáculo, vestidos com figurinos e tudo mais, e saíram de cena muito aplaudidos. Isso só aumenta a expectativa da estreia, que acontece na próxima quinta-feira, dia 25, às 21 hs na SAT.
Para assistirem o evento, Lis e Che apareceram. Depois de tudo, fomos os três para o posto, como há alguns dias não acontecia. Nosso papo foi agradável, com muitas risadas, muitas piadas. Nem tudo se perdeu entre nós nesses tempos difíceis que vivemos, o mais importante, que sempre foi nossa cumplicidade e nossa vontade de estarmos juntos, permanecem, mesmo que hoje nos vejamos de formas diferentes.
Lis e eu acompanhamos Che até o Cruzeiro. Ele queria ir conosco até mais lá embaixo, mas Lis e eu não quisemos. Nos despedimos e seguimos o caminho. Lis e eu ouvíamos "Let it be", no meu celular. Uma cadelinha muito simpática nos acompanhou até perto do hospital. Esperando o pai da Lis aparecer, sentamos na sarjeta, ouvindo a música, com a cadelinha olhando piedosamente pra nós. Lis, rompendo o silêncio verbal, disse:
- Como a noite hoje está nostálgica!...
- É o ano que está acabando... - disse eu, sentindo o mesmo.
Hoje a noite, começa o Motofest. Eu planejei tanto com os meninos, queria tanto ir. Hoje também tenho ensaio. Depois, do ensaio, talvez apareça por lá. Sei lá qual é a minha vontade e o que eu devo fazer... Me sinto tão mal essa semana, desde sábado. Nunca mais fui o mesmo. É como se eu sofresse de um grande mal, calado, silencioso e sombrio, que pesa.

A parte mais difícil

Num sábado animado como há muito tempo não acontecia, levantei tarde pra caramba, atualizei meu blog e saí. Passei na loja, comprei meu ingresso para o baile havaiano e fui pra SAT, para mais um ensaio da peça. Ensaiamos exaustivamente as coreografias e depois, a peça toda. Saímos de lá quase 7 da noite. Che me ligou e ficou tudo certo para irmos ao baile a noite, o último que ele iria antes da cirurgia que terá que fazer. Foi então que ouvi Neto perguntando para os meninos se eles iriam na cachaçaria naquela noite. Acabei descobrindo que a banda Over Rock, que faz um rock’n roll da hora, iria tocar na cachaçaria a noite. Cheguei em casa e liguei para o Che, que topou tentar vender os ingressos do baile na porta do clube, e trocar de balada. Mais a noite, estava na avenida no centro da cidade, quando Che e Cesinha passaram de John Móvel e me deram uma carona. Paramos na praça, onde encontramos Maikinho, Elton e os outros meninos. Eram 10 e meia da noite e nada tinha ficado decidido sobre qual seria a balada da noite. Che e eu queríamos ver o Over Rock. Maikinho queria ir no baile. Cesinha queria ir ver o Over Rock, mas não queria deixar Maikinho sozinho no baile. Parei de falar no assunto e me conformei em ir ao baile havaiano mesmo. O mais importante para mim era estar entre amigos naquela noite que já era, de certa forma, especial.

O baile começou animado. Logo que entramos, fomos ao bar. Não bebemos nosso vinho habitual naquela noite e estávamos todos secos. Comprei a promoção de cerveja, que me rendeu 4 fichas. Dei 2 para o Che, que sabia estar meio sem grana esse mês por causa dos gastos com o John Móvel. Eu não estava muito bem para beber e Che tinha dito que não beberia muito, já que estava dirigindo. Cesinha e Maikinho estavam afim de enfiar mesmo o pé na jaca. Logo Leandro se juntou a nós. O show não havia começado e, por isso, fomos para a pista. O clube estava lotado de gente e fazia um certo frio lá fora.

Estava fazendo um grande esforço para me divertir, porque queria mesmo era estar no Over Rock. A essa altura, o show da banda Opus já tinha começado ao lado da piscina. Cesinha, Maikinho e Leandro tomaram vodka de frutas vermelhas e estavam visivelmente alterados. Quando eles ficam assim, perdem o pudor e aí já viu, ficam correndo atrás de rabo-de-saia, como tontas aleluias batendo a cabeça na lâmpada, andando pela balada de um lado pro outro. Minha cerveja acabou e chamei o Che para irmos ao bar. Comprei 4 fichas de cerveja e estava pensando em dar mais 2 pra ele, mas ele acabou comprando também uma dose de vodka. Na hora, deixei bem claro minha desaprovação. Não é por nada, mas ele era o único que estava dirigindo. Os outros todos não tinham esse compromisso naquela noite. Che entendeu o que estava dizendo e disse que a vodka não estava forte. O fato é que os outros 3 estavam bem bêbados com a mistura vodka e cerveja, e ali, o baile pra mim já tinha terminado. Quis ficar longe, disse pro Che que queria ficar sozinho e fiquei, um bom tempo, perto da academia, bebendo cerveja e fumando, fumando e bebendo cerveja. Depois, o encontrei e avisei que ia embora. Ele quis saber o porquê, Inventei uma desculpa qualquer, disse que não iria me despedir dos meninos para não ter que explicar nada. Che quis me acompanhar até lá fora, mas se ele saísse, não poderia mais entrar, então não deixei que fizesse isso.

No caminho, fui chutando lata. Peguei o colar havaiano de papel que entregaram na porta do baile e amassei bem forte na mão, depois joguei por aí. Na mesma rua do clube, na frente de um outro baile que acontecia mais acima, vi outro personagem desse blog que arrumou muita confusão e está meio sumido. Fiz com que não percebesse que algo havia acontecido e passei numa boa. Acho que não percebeu.

Essas noites causam uma ressaca terrível no dia seguinte, maior do que se tivesse bebido uma garrafa de vodka sozinho. Acordei com a história na cabeça e tentando entender o que tinha acontecido. Tinha vários motivos pra me irritar, pra ficar mal, mas nenhum se comparava com o que viria depois. Meus pais tinham ido para o sítio de alguns amigos. Estava só em casa. Minha mãe deixou uma pizza na geladeira para que eu assasse. Era melhor mesmo ter a casa vazia, assim não teria que explicar nada sobre minha cara horrível. Entrei no msn. Logo Che apareceu. Nos dias em que brigamos, sinto muita vontade de falar com ele depois, me acertar, dizer "ah, vamos deixar disso, você é meu chapa!", mas eu sou orgulhoso, e ele também, apesar de ser quem sempre vem puxar papo. Ele puxou papo naquela tarde, queria saber se estava tudo bem, se eu estava puto com ele, com alguma coisa. Eu disse que não, que estava tudo certo, e que nos falaríamos na terça-feira. Foi o que bastou para que uma longa e triste conversa começasse. Foi a maior e mais triste de todas. Dessa vez, nem eu previa o resultado dela. Não fomos estúpidos, não xingamos. O tom da conversa foi sóbrio, de certa forma, mas lentamente, o papo foi desenterrando um monte de histórias, de problemas que, se não foram resolvidos, estavam mortos e enterrados. Não tão mortos assim. Esses fantasmas voltaram naquela tarde pra assombrar e causaram um estrago terrível. Foram meses tentando lutar contra esses fantasmas, foi uma luta difícil, que envolvia muita gente e muitos detalhes. E agora, tudo estava sob a mesa, exposto, pronto pra levar a primeira mordida de quem quisesse se deliciar. Eu quebrei, rachei. Eu não tinha interesse nenhum de que isso acontecesse, até porque iria contra minha própria verdade sobre tudo. Mas aconteceu e a verdade era outra, mais dolorosa e cruel, e não aguentaria mesmo ficar sufocada mais tempo.

Che e eu nos falamos de novo a noite. Conversamos e ficou tudo bem. Ele não quis sair naquela noite, e eu não saí também. No dia seguinte, de manhã, comecei a me sentir mal. Estava com muita dor no corpo. A tarde, fui para o ensaio da peça na SAT. Foi o dia em que o Paulo levou a vitrola que irá compor o cenário. No ensaio, eu fiquei bem, não estava com dor, nem nada. Quando cheguei em casa, liguei para o Che. A essa altura, já estava com febre de novo. Pensei até em sair, mas daquele jeito não dava. Naquela noite, eu rolei na cama a madrugada inteira. De manhã, meus pais me levaram ao Pronto Socorro. O hemograma indicou que era uma infecção na garganta. Foi uma semana tomando antibiótico e mais 2 remédios por dia. Hoje, eu estou bem. Não tenho mais febre, nem dor no corpo. A garganta arranha um pouco ainda, mas é suportável. Por dentro, eu estou quebrado. Sabe aquela sensação de que você não tem mais controle de nada e entao você se sente anestesiado? Eu cansei, cansei mesmo, de tudo isso. E agora eu não tenho forças pra reagir. Me sinto vencido. Desde aquele domingo, eu nunca mais fui o mesmo. O que pensava ser bonito e cheio de glória em minha vida, virou um quadro negro, impossível de decifrar, e que apagou principalmente quem eu era e quem eu tentava ser. É, ninguém pode fugir da vida não, tentar tapar o sol com a peneira. Mais cedo ou mais tarde, a verdade volta e ainda mais violenta. Antes, eu sabia lidar com tudo, ter controle, o que não estou conseguindo agora. Mas tudo vai ficar bem, na hora certa.

Somos Todos do Jardim da Infância: Os anos 60

A década de 60 representou, no início, a realização de projetos culturais e ideológicos alternativos lançados na década de 50. Os anos 50 foram marcados por uma crise no moralismo rígido da sociedade, expressão remanescente do Sonho Americano que não conseguia mais empolgar a juventude do planeta. A segunda metade dos anos 50 já prenunciava os anos 60: a literatura beat de Jack Kerouac, o rock de garagem à margem dos grandes astros do rock (e que resultaria na surf music) e os movimentos de cinema e de teatro de vanguarda, inclusive no Brasil.

Podemos dizer que a década de 60, seguramente, não foi uma, foram duas décadas. A primeira, de 1960 a 1965, marcada por um sabor de inocência e até de lirismo nas manifestações sócio-culturais, e no âmbito da política, é evidente o idealismo e o entusiasmo no espírito de luta do povo. A segunda, de 1966 a 1968 (porque 1969 já apresenta o estado de espírito que definiria os anos 70), em um tom mais ácido, revela as experiências com drogas, a perda da inocência, a revolução sexual e os protestos juvenis contra a ameaça de endurecimento dos governos. É ilustrativo que os Beatles, banda que existiu durante toda a década de 60, tenha trocado as doces melodias de seus primeiros discos pela excentricidade psicodélica, incluindo orquestras, letras surreais e guitarras distorcidas. "I want to hold your hand" é o espírito da primeira metade dos anos 60. "A day in the life", o espírito da segunda metade.

Nesta época teve início uma grande revolução comportamental como o surgimento do feminismo e os movimentos civis em favor dos negros e homossexuais. O Papa João XXIII abre o Concílio Vaticano II e revoluciona a Igreja Católica. Surgem movimentos de comportamento como os hippies, com seus protestos contrários à Guerra Fria e à Guerra do Vietnã, e o racionalismo. Esse movimento foi também chamado de contracultura. Ocorre também a Revolução Cubana na América Latina,

levando Fidel Castro ao poder. Tem início também a descolonização da África e do Caribe, com a gradual independência das antigas colônias.

Em 1960, é inaugurada a cidade de Brasília, nova capital do país, pelo presidente Juscelino Kubitschek. Jânio Quadros sucede Juscelino e renuncia cerca de sete meses depois, sendo substituído pelo então vice-presidente João Goulart. Sob o pretexto das supostas tendências comunistas de Jango, ocorre o golpe militar de 1964, que depõe Goulart e institui uma ditadura militar que duraria 21 anos. No final da década, tem início o período conhecido como "Milagre Brasileiro". O Brasil torna-se bicampeão mundial de futebol, durante a Copa do Mundo FIFA de 1962, no Chile.

Tem início o uso da informática para fins comerciais, embora ainda não de forma massificada.

Em 1964 a IBM lança o circuito integrado, ou chip

Surge a Arpanet, que se tornaria o embrião da Internet

Os soviéticos enviam o primeiro homem ao espaço (Iuri Gagárin) em 1961.

Neil Armstrong é o primeiro homem a pisar na Lua, um americano em 1969.

Os soviéticos enviam um robô para a Lua (1966).

Também em 1969, uma sonda dos EUA alcançou Marte e, meses depois, a URSS descia um robô em Vênus.

Os Beatles comandam a Invasão Britânica, ou British Invasion, no rock, seguidos por The Rolling Stones, The Who, The Animals e vários outros.

Surge a música de protesto, com Bob Dylan, Joan Baez, Peter, Paul and Mary, entre outros, já nos primeiros anos da década.

O Rock and Roll ganha crescente popularidade no mundo, associando-se o final da década à rebeldia política.

No início da década o rock recebeu no Brasil o nome de iê-iê-iê, uma livre tradução do refrão da música She Loves You, dos Beatles: "She Loves You, Yeah, Yeah, Yeah!".

Na música erudita, começa a se desenvolver o minimalismo, a partir das obras de Philip Glass.

Em 1963 surge o Clube da Esquina, importante conjunto musical mineiro, com Milton Nascimento e os irmãos Borges.

Chega aos cinemas em 1964 o primeiro filme dos Beatles, A Hard Day's Night. No Brasil recebeu o nome Os Reis do Iê, Iê, Iê.

Em 1965 Elis Regina interpreta Arrastão, de Vinícius de Moraes e Edu Lobo, e com isso surge a MPB, ou Música Popular Brasileira, no Festival de Música Popular Brasileira da TV Record.

O programa Jovem Guarda estréia em 1965, apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. O programa de tevê acaba gerando o movimento com o mesmo nome, onde os jovens tiveram pela primeira vez um espaço, lhes permitindo uma identidade própria, pois foi a primeira vez que se era dedicada aos adolescentes uma parte do cenário cultural.

Em 1966, Chico Buarque se revela ao público brasileiro com a canção, "A Banda", interpretada por Nara Leão, durante o Festival de Música Popular Brasileira, transmitido pela TV Record (a canção empata em primeiro lugar com "Disparada" de Geraldo Vandré).

Surge o Movimento Tropicália, em 1967. Com Caetano Veloso e Gilberto Gil, além de Os mutantes, Tom Zé e Torquato Neto.

Em 1967 os Beatles lançam aquele que é considerado o melhor álbum da história: Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. O álbum se tornou um dos discos mais vendidos da história e tido como o mais influente.

Ainda em 1967, surge o primeiro festival de rock Monterey Pop Festival, ou Festival Pop de Monterey, na California. Organizado por Lou Adler, John Phillips (The Mamas & The Papas) e Derek Taylor o festival foi a estréia de The Jimi Hendrix Experience, com Jimi Hendrix; Big Brother and the Holding Company, com Janis Joplin e Otis Redding.

Em 1969 ocorre o Festival de Woodstock, nos EUA, com apresentações ao vivo de Jimi Hendrix, Creedence Clearwater Revival, The Who, Sly and Family Stone, Carlos Santana, entre outros lendários do rock clássico.

Começam as transmissões de TV em cores no mundo.

1965-A TV brasileira começa a utilizar a tecnologia do vídeo-tape, que permitiu a edição de programas televisivos, reduzindo o risco de erros, comuns nas exibições ao vivo.

1965-Inaugurada a Rede Globo, no Brasil.

A televisão passa a se tornar meio de comunicação em massa.

1967-1968 tornam-se os anos do auge dos festivais da canção, no Brasil, que eram uma forma alternativa de expressão político-ideológica da juventude, diante da repressão da ditadura militar.

A TV Record lança o programa musical, "Jovem Guarda" (1965-1968), apresentado por Roberto Carlos, com Erasmo Carlos e Wanderléia.

Em 1962 surge o melhor filme da década "What Ever Hapenned to Baby Jane?" com Bette Davis e Joan Crowford.

É filmado A Bout de Souffle (Acossado, título no Brasil), de Jean-Luc Godard, trazendo a bela Jean Seberg, atriz que se tornaria ícone de beleza da década.

O clássico La Dolce Vita (no Brasil A Doce Vida), de Federico Fellini, com Anouk Aimée, Anita Ekberg e Marcello Mastroianni.

O diretor Stanley Kubrick lança Dr. Strangelove (Doutor Fantástico), uma das maiores e mais duras críticas satíricas à Guerra Fria.

Brigitte Bardot reina absoluta como o maior símbolo sexual da década.

A atriz Audrey Hepburn estrela Breakfast at Tiffany's (no Brasil Bonequinha de Luxo). O figurino de Hepburn para o filme é do estilista francês Givenchy.

O filme brasileiro O Pagador de Promessas, adaptação do produtor, diretor e ator brasileiro Anselmo Duarte da peça homônima de Dias Gomes, recebe a Palma de Ouro do Festival Internacional do Filme de Cannes, na França. É a primeira vez que um filme brasileiro ganha o prêmio máximo do festival.

Surge a série de filmes de James Bond, o espião 007, das novelas de Ian Fleming. O primeiro é Dr. No , no Brasil 007 Contra o Satânico Dr. No, com Sean Connery e a sensual Ursula Andress. No filme, a célebre cena de Andress usando um inesquecível biquíni branco saindo do mar.

Blowup, de Michelangelo Antonioni, com Jane Birkin e Veruska é um filme cheio de referências dos anos 60.

Nesse ano também, ao som de Mrs Robinson, entre outros sucessos de Simon & Garfunkel, Dustin Hoffman vive um jovem universitário recém-formado que se inicia sexualmente com uma mulher mais velha, no clássico The Graduate, A Primeira Noite de um Homem no Brasil, de Mike Nichols.

A atriz Jane Fonda é Barbarella, a sensual heroína espacial do filme de homônimo de Roger Vadim.

Easy Rider (Sem Destino), é um dos filmes mais vigorosos dos anos 60, de Peter Fonda, Dennis Hopper e Terry Southern, estrelando os próprios, Fonda e Hopper, e Jack Nicholson. O filme critica a intolerância e a vulgaridade da sociedade americana.

Os jovens são influenciados pelas idéias de liberdade On The Road, livro do beatnik Jack Kerouac, da chamada geração beat, e começam a se opor à sociedade de consumo vigente.

"Somos Todos do Jardim da Infância" estreia dia 25 de novembro na SAT. Texto de Domingos de Oliveira, produção executiva de Paulo Rogério Rocco e direção de José Ono Junior. Venha viajar no tempo conosco...

No sol de quase dezembro

“Eu vi lá do alto, a cidadezinha toda iluminada. Estava silenciosa, imóvel e inspirava uma delicadeza que eu nunca tinha reparado antes. O vento cortava suas antenas e telhados. A torre da igreja, aquela da pracinha do final de semana, também se encontrava com o vento. Lá do alto, eu vi as avenidas vazias, sozinhas, tristes, e as casas, escondendo grandes segredos e dores numa grande solidão. Lá do alto, vendo a cidadezinha toda iluminada, eu tentei me encontrar no bucolismo desse cenário. Onde eu estou? Onde eu caibo? Onde cabem minha história, minha vida, meus desejos, sonhos, meus gritos de liberdade? Não, não cabem na cidadezinha, transbordam e escorrem pelas mãos. Eu tenho coração e mente ciganos, de andante. Eles nunca param o movimento assavalador. Tudo é sempre pouco. O novo fica velho bem rápido, a novidade envelhece. Eu tenho coração de andante e o que me consome é o tempo. Olhando a cidadezinha iluminada, lá de cima, eu quis voar pra bem longe, pra um lugar onde não houvesse nenhum pedaço de história minha perdida. E eu ia ficar lá, fincar o pé, espalhar minha arte, amar na contramão. E eu ficaria lá, até que a cidade parecesse me sufocar.”

Alguns dias se passaram desde que voltamos do festival de Varginha, e a história finalmente morreu. Quase não se fala mais nisso, não com aquela seriedade de antes. Hoje tudo é em tom de piada. Hoje é sábado de tempo meio estranho por aqui. Sol entre nuvens, entende-se muitas nuvens, nunca quer dizer nada. Eu me recupero de uma semana corrida, que passou voando e me esmagando. E o fato de que esse é um início de feriado prolongado é uma bênção. Ontem Che e eu saímos. Fomos no evento de encerramento dos Jogos da Primavera 2010, na Lex Luthor. Cheguei por lá um pouco depois das oito, jurando que estava atrasado. Quis matar a Lislaine quando me dei conta de que o evento ia começar uma hora depois. E a Lis nem apareceu, estava cansada. Ela está cheia de compromissos nos últimos dias. Prestou o ENEM na semana passada, está ensaiando para o Festival de Dança que irá participar no dia 11 de dezembro, e tem o vestibular que se aproxima também. Quase não a vimos nos últimos dias. Na biblioteca, ela apareceu só umas 2 vezes nessa semana. Bom, Che apareceu e fomos para o posto. Depois, voltamos para a Lex. Tenho sentido muita vontade de estar perto do Che nos últimos dias. No próximo mês, ele vai enfrentar uma cirurgia complicada no joelho e ficará de molho durante a recuperação. Ele não fala, mas sei que está preocupado, principalmente por ter que ficar em casa, sem poder sair durante algumas semanas. Nós amigos temos que apoiá-lo de alguma forma nesse momento. Nem estava afim de ir no baile hawaiano de hoje a noite, num clube aqui da cidade, mas como será o último antes da cirurgia dele, resolvi ir.

Ontem na Lex, quem foi coroada Rainha dos Jogos da Primavera 2010 foi a Belinha, aluna nossa do teatro, que está no elenco de “Somos Todos do Jardim da Infância”. Ela representou a Bandeira Azul e conseguiu vender mais votos. Em terceiro lugar, ficou a Carol, que também faz uma participação na nossa peça. Ela também ganhou o Troféu de Rainha que teve maior destaque na abertura dos Jogos, e representou a bandeira amarela. Depois das premiações, uma banda de pagode daqui de Tambaú se apresentou no palco da balada. Os caras mandam bem, mas como pagode não é nossa praia, Che e eu fomos embora. A noite ontem foi de vento cortante. Meus olhos lacrimejavam com a terra que entrava neles. Usar lente de contato às vezes é foda. Quando cheguei em casa, com os olhos emaconhados, a chuva não demorou a cair. A noite foi divertida. Che e eu conversamos bastante, principalmente sobre nossa adolescência, como nós eramos “loosers”. Bom, pelo menos não estudamos em escolas americanas, né. Eu disse pra ele que a gente melhorou muito, mas ele discordou. Na Lex ontem só tinha adolescente, e aí vem aquela hora de se sentir meio “tiozinho”. Sou muito novo ainda pra sentir isso hehe.

Che não é o único que vai entrar na faca nos próximos dias. Eu também vou me submeter a uma cirurgia, no mês que vem, não tão complicada como a dele, mas igualmente necessária. Fui numa consulta essa semana, uma consulta constrangedora, com aquele tipo de médico que você nunca quer visitar. Pois bem. Ah, não, não foi com o proctologista, ok? Foi menos pior, mas igualmente chato. Algo como “bota o bicho pra fora...” e “quando ele fica duro, dói?”, não é agradável de se ouvir, principalmente quando se está uma pilha de nervos. No dia seguinte, fiz os exames. Urinar no potinho de manhã é outra coisa chata. A gente nunca sabe a quantidade necessária de xixi. Exame de sangue é perturbador. A enfermeira disse: “eu vou tirar um pouco do dedo e depois da veia, certo?”. “Ah sim, certo”. E continuou: “você está morando aqui agora?”. “Sim, estou, voltei de São…”. Aaaaaaai! O dedo já tinha ido. E ela insistiu: “você está bem, está trabalhando?”. “Sim, estou trabalhando na biblioteca e no te...”. Aaaaaaaaaai! Foi a vez da veia! E foi mais assustador porque ela tirou uma seringa gigante de sangue. Por um momento, achei que tinha entrado na fila da doação. #tenso. Ah, os gritos foram só em pensamento. A única reação foi virar o rosto e fazer a expressão de quem chupa uma laranja azeda.

A semana no trabalho começou tranquila, sossegada, depois acabou parecendo um episódio de “Eu, a Patroa e as crianças”. Na quinta a tarde, uma pomba invadiu a biblioteca e instalou nas madeiras do telhado. Depois de um tempo, tentou sair e bancou a suicida ao se lançar em cheio no vidro em cima da porta de entrada. Começamos a nos importar quando a pomba, lá de cima, sujou a primeira mesa. Tinha pouca gente lá naquele dia, só alguns meninos usando a internet. Che e eu então pegamos umas pedrinhas e tentamos acertar na pomba, para que ela se assustasse e saísse. Demoramos muito pra acertar e algumas pedrinhas ficaram perdidas no meio das estantes. Che conseguiu acertar um tempo depois, mas o máximo que conseguiu foi que a pomba virasse as costas. Josi trouxe então uma bolinha de papel de jornal com uma pedrinha dentro. Impossível, não subiu nem metade do caminho. Tentou então uma tampinha de caneta amarrada na ponta de um rolo de barbante. Nem a deixamos tentar em vão hehe. Che jogou a caneta toda, com tampa e tudo. Acertou e a pomba nem se mexeu. Tentou de novo e nada. Tentou a terceira e acabou com a mão azul, quando a caneta estourou. Marcinha trouxe então o adaptador do aspirador de pó. Quase rachamos a mesa e a pomba continuava lá, sujando tudo. No dia seguinte, a maratona continuou. A biblioteca estava movimentada. Tinham os caras que estão instalando os ventiladores, e um deles, o Neto, tentou acertar a pomba também. Ele acertava pela esquerda, ela voava pra direita. Ele acertava pela direita, ela voava pra esquerda. Isso rolou umas 10 vezes, juro que fiquei tonto. Neto desistiu. Todos nós desistimos. No fim do dia, a pomba voou morta de fome pela porta, pousou na entrada e saiu andando. Minutos depois, Paulo chegou com alpiste e uma gaiola, no que seria uma tentativa de pegar a pomba. Mas chegou tarde demais hehe. Ah, teve também o menino que quis fazer um pic-nic e colocou uma garrafa de Fanta na mesa de estudos, tiveram também os problemas com a informatização. Nos demos conta de que não será nada fácil. Teremos que começar praticamente do zero a arrumação das estantes.

No teatro, a expectativa e o nervosismo são cada vez maiores. Faltam menos de 2 semanas para a estreia da peça. O vídeo que finaliza a peça ficou pronto, com imagens em preto e branco originais da época em que se passa a história, a década de 60. Os figurinos começaram a aparecer. As coreografias estão todas prontas, só faltam alguns ajustes. Troquei “Stupid Cupid” por “Rock Around The Clock”, e incluí “Can’t Take My Eyes Off Of You”, na versão apaixonante da banda Frankie Valli And The Four Seasons. A peça conta a história de 4 amigos que, no ano de 1963, vivem a complicada fase de formatura do colegial e vestibular, quando ainda tentam se dar bem com as garotas e fazem planos para o futuro, numa bonita história de amor e amizade. É a última fase, antes dos anos inocentes se tornarem rebeldes, quando o Brasil nunca mais foi o mesmo. A peça possui grandes momentos que irão emocionar e fazer rir a plateia. É uma história que encantará quem viveu ou não aquela época mágica. A estreia acontece no dia 25 de novembro, e as apresentações seguem pelos dias 26 e 27, na SAT. Tivemos ensaio quase todos os dias da semana, e alguns na APA, onde há um Centro de Convenções. Ensaiamos até na biblioteca uma noite dessas. Passamos e repassamos as coreografias muitas vezes, e isso me garantiu um incômodo terrível no rim. As pedrinhas saíram do lugar e reclamaram… Ah, e nessa semana, eu consegui fazer a proeza de queimar o rádio do Paulo, que usamos nos ensaios. Bom, se bem que foi ele quem ligou no 220 sem olhar, então, metade do estrago é culpa dele.

O ano está mesmo chegando ao fim. Já vi propaganda de Natal na tv, alguns papais-noéis pelas lojas da cidade. Minhas tias já montaram a árvore. Ufa! 2010 está indo embora, e a história desse riacho também está chegando ao fim. Mas ainda falta ver como tudo vai terminar… Eu só sei que não vai terminar como começou. A vida vai passando, nós vamos perdendo e ganhando o tempo todo. E algumas mudanças são inevitáveis. O ser humano tem que sempre esperar alguma coisa acontecer, ou alguém chegar, ou simplesmente ter um motivo externo que o faça querer continuar vivendo, acreditando, com esperança. Depois que consegue, arruma outro querer, depois outro e outro. Nessa semana, eu senti que o que me fazia bem no começo dessa história não é mais o que me mantém de pé. Nem aquilo que me fez perder esse “apoio” imaginário, existe mais. E aí eu fiquei sem nada, caçando novos motivos externos pra continuar acreditando. Quem sou eu pra tentar entender essas coisas sem explicação? A vida vai passando, modificando tudo e a sensação que eu tenho é só a de que tinha que ser assim mesmo. No domingo passado, eu liguei para Limeira e coloquei um ponto final na história que nem tinha começado direito. Não ia dar certo, já estava chato, maçante e insistente, murro em ponta de faca, sabe? Planejei fazer isso a semana toda, criei coragem e fiz. É difícil pra alguém que sempre reclama por estar sozinho tomar uma atitude dessa. Mas a gente tem que se proteger de futuras decepções, principalmente quando elas são evidentes. Depois disso, aquele fogo resistiu mais uns 2 dias, depois apagou de vez. E a história ficou pra trás. Fiquei de coração limpo, e essa falta de amor, me fez ver o porquê que essa breve história aconteceu.

No dia seguinte, um temporal estava chegando em Tambaú. Eu estava na internet, no bate-papo do Facebook. A chuva começou. Vi então que aquela antiga paixão, que se manteve acesa durante 5 anos, e que começou a apagar quando voltei para o interior, abrindo mão da vida em São Paulo, estava on line. Escrevo, ou não escrevo? Escrevo! Não, não escrevo! Ah, vou escrever! “Oi!”. Nessa hora, um trovão ensurdecedor ecoou no céu e pareceu que a luz do dia deu um pique. Desliguei o computador na mesma hora e não vi sequer se a minha mensagem teve resposta. Vai entender a vida… e seus sinais…