Último episódio da primeira temporada de "Dawson's Creek".
Dawson está no seu quarto quando vê Joey entrando pela janela, como ela faz há anos toda noite.
Dawson: Oi.
Joey: Oi.
Dawson: Você está aqui.
Joey: Pensei que a gente ia ver uns filmes hoje.
Dawson: Legal você estar aqui. Não achei que... Nem
trouxe fitas da locadora.
Joey: Na verdade, vim dizer que não posso ficar, então...
Dawson: Veio aqui para dizer que não podia vir?
Joey: É. Até, Dawson.
Dawson: Fica. A gente pode... A gente pode ver reprises e ficar falando mal da tv.
Joey: Acontece que ando cansada de TV. A metáfora disso tudo me deixa enjoada.
Dawson: Do que está falando?
Joey: Toda noite é igual. Ficamos enfiados no seu quarto vendo filmes e reprises. É previsível demais.
Dawson liga a tv.
Dawson: Esse seriado é demais! Sempre acaba em suspense.
Joey: Suspense? Qual é? Você devia saber que o suspense é um truque usado para aumentar a audiência.
Dawson:
O suspense deixa as pessoas interessadas. E curiosas para ver os próximos episódios.
Joey: Mas, como nas nossas vidas, eles são previsíveis. Eles colocam os personagens em situações complicadas para que a gente pense que algo vai mudar, mas quer sab
er? Não muda nunca. Volta a ser como era antes. É um tédio, Dawson.
Dawson: E se desta vez for diferente? E se o suspense mudar alguma coisa? Não vai querer perder, vai?
Joey: Ainda acho que isso é uma grande armação, Dawson.
Eles se voltam para a tv e o episódio começa.
Tenho assistido muitos episódios de "Dawson's Creek" nos últimos dias, já que o que mais fiz foi ficar em casa, esperando o ano acabar. Tenho as seis temporadas da série, e já assisti tudo, há uns 2, 3 anos atrás. Conheci a série através do Rogério, que sempre me falou maravilhas dela. Acompanhei alguns episódios da primeira temporada na Record, mas a Globo conseguiu tirar do ar, já que comprometia a audiência de "Malhação" na época. Então, comecei a comprar os dvd's. "Dawson's Creek", que se traduz "O Riacho de Dawson", é uma das séries dramáticas de maior prestígio da televisão, principalmente entre o público jovem. Criada por Kevin Williamson, o mesmo diretor da atual "Vampire Diaries", tinha como protagonista o sonhador Dawson Leery (James Van Der Beek), além de seus amigos Joey Potter (Katie Holmes), Jen Lindley (Michelle Williams), Pacey Witter (Joshua Jackson) e Jack McPhee (Kerr Smith). Rapidamente ganhou grande repercussão na mídia e com o público jovem, devido à maturidade com que os personagens tratavam os temas da adolescência. Filmado nas belas paisagens da Carolina do Norte, em Wilmington e Providence, o roteiro é baseado na adolescência do próprio autor e traz carismáticos atores no elenco principal. Em Capeside, uma pequena cidade do litoral perto de Boston, eles convivem com os mais diferentes tipos de problemas no cotidiano, o que os fazem crescer e entender melhor o mundo em que vivem. Cada um precisa decidir o rumo de suas vidas. Não é nada fácil, mas, com amor e amizade, esse caminho é mais fácil de encarar.
Eu adoro a série, me ajuda a passar o tempo. Apesar disso, cansado de ficar trancado em casa, falei com Cesinha e Maikinho e resolvi sair no domingo, depois do Natal. Estava chateado, pra baixo, e precisava de um vinho. A noite estava estrelada. Na rua, o movimento de pessoas era menor do que achei que ia encontrar. No mp3 do celular, tocava... Sei lá o que tocava... Era algo pop rock dos anos 80 ou 90, nacional ou internacional, tanto faz, mas que deixa essa história com cara de ultrapassada. O presépio mecânico estava funcionando. Dei uma passada por lá, dei um "Feliz Natal" atrasado para o Paulo e a mãe dele, e segui para encontrar os meninos.
No caminho até o posto, Lislaine veio correndo do outro lado da calçada e pulou em cima de mim, me abraçando. Ela sempre faz isso. Conversamos sobre o Natal. Estávamos felizes e pra comemorar, compramos duas heinekens. Como é boa essa cerveja... Lis que me fez experimentar há alguns meses, e agora sempre que dá, eu compro. Seguimos conversando até a praça. Como me diverti com a Lis esse ano. Ela é linda, engraçada, perspicaz, completa minha piadas como ninguém. Sempre digo que ela foi quase uma ariana, pois também tem um jeito desajeitado e intempestivo. Enquanto fazíamos nossas piadas corriqueiras até a praça, eu me lembrei da festa de aniversário da cidade.
"Começou o show da banda "Os Virgens". Nessa hora, já estava com a galera, tomando uma cerveja. Curti muito o show! Os caras, vestidos com macacões coloridos, foram de Lady GaGa, Wando, Rolling Stones, Mamonas, Balão Mágico, Black Eyed Peas... Lislaine subiu no palco com Neto e Rodrigo para dançar a música do "Churros". Um barato, impagável!"
Encontramos Cesinha e Maikinho, que está solteiro de novo e voltou pra turma. Um ano já que conheço os dois... São duas figuraças que são amigos do Che há anos. Quanta bebedeira já tomamos juntos... Já tomamos chuva deitados no banco da praça. Lex Luthor sem os dois não tem a menor graça. Cesinha me ensinou alguns passos de psy. E eu já cheguei em várias meninas pro Maikinho. É muito bem humorada a forma como os dois levam a vida, e encaram os problemas. Fomos pro Mancha tomar um vinho. O Mancha foi nosso canto preferido em 2010. Muitas conversas-cabeça, muitas risadas, muito vinho e rock 'n roll.
"E um dia você se vê num bar, conversando e cantando com um catador de latinha, que tem unhas sujas, dentes da frente podres, roupas encardidas, mas o mesmo gosto musical que o seu, tá tão cansado de tudo e das mesmas coisas, do mesmo jeito que você. Grita liberdade,liberta fantasmas e mágoas, vomita ao cantar Raul Seixas, Capital Inicial, Cazuza, o grande mestre Zé Ramalho. Tanto teatro presente, um bando de atores usando a música como texto e apresentando o seu inconformismo, no palco da vida."
Tocou Beatles na nossa última noite do ano no Bar do Mancha. Aliás, a música dos Beatles esteve presente em vários momentos nossos esse ano. Foi Beatles que encerrou nossa caminhada em mais um espetáculo da Quintal das Artes, o primeiro que eu dirigi.
"O palco estava vazio, as cadeiras desarrumadas. Era confete e serpentina pra todo lado. Fui até a vitrola e perguntei para o Che: "você viu que isso aqui funciona?". Coloquei o disco dos Beatles. 'Hey Jude' ecoou pela SAT, na velha vitrola potente do Paulo. Ouvimos a música, enquanto sentíamos a energia que ainda rodava pelo espaço, o calor humano da arte, do aplauso, da vontade de ser e acontecer em cena, espíritos despertados pelo som da criação. A música acabou. O silêncio voltou. Saímos. Era o fim de mais um espetáculo."
Foi um beatle também (e foi o que o Paulo assistiu ao vivo no Morumbi em 2010) que tornou o evento de Natal que não aconteceu num dos momentos mais emocionantes desse ano.
"Enquanto esperávamos, o som rolava lá fora com músicas de Natal de John Lennon. De repente, 'Imagine' ecoou na praça Carlos Gomes. A galera do teatro estava quase toda com camisetas de bandas de rock. Che, Neto e eu, vestíamos camisetas dos Beatles. Num coral improvisado, todos cantaram a canção imortal de John Lennon das janelas do museu, com os braços para o ar, e o coração cheio."
Falando em teatro, 2010 superou todas as nossas expectativas. Foram vários projetos. Uma nova Quintal das Artes nasceu na cidade. Logo no início do ano, um desafio: Sexo dos Anjos. Che e eu voltamos a atuar. Dessa vez, juntos, pela primeira vez. Viajamos com a peça para um festival, e mesmo que não levamos nenhum prêmio pelo espetáculo, saímos de cena com sensação de missão cumprida. Foi delicioso encenar o texto de Flávio de Souza. Todos os ensaios, as apresentações, todo o trabalho valeu a pena.
"Cigarro, oração, abraço no meu grande amigo, um grande cara, um grande ator nascendo ali. Começou. Meu Deus, que emoção, que coisa boa! Um dos melhores momentos para o ator, pisar no palco no primeiro segundo de espetáculo, ouvir a respiração do público, buscar confiança nele, sentir o cheiro da arte. Foi uma noite perfeita! Risos na hora certa, silêncio arrepiante, depois suspiro de alívio, cabeças pensantes tentando desvendar o mistério das duas personagens. O aplauso. Foi tudo ótimo, dentro daquilo que almejávamos."
"Somos Todos do Jardim da Infância" também nos marcou bastante. Lembro que tremi na base quando Paulo me disse na biblioteca que eu iria dirigir o espetáculo. Foram meses difíceis, sem sono, ansiosos, preocupantes. Mas o resultado foi belíssimo. Todos que assistiram saíram satisfeitos e encantados. Conseguimos reunir um ótimo elenco, que mostrou a que veio e lotou a plateia da SAT nos 3 dias de apresentação.
"Me tranquei no quarto, liguei o som. Cantei, cantei muito. Alegria, alegria; Soy loco por ti America, I want to hold your hand, Call me, Hey Jude... Me acalmei. Pensei em tanta coisa. também não caberia aqui. Coração estava em frangalhos, sem força, batendo ora rápido, ora devagar. Na SAT, andei de um lado para o outro. Todos estavam nervosos, a sua maneira. A peça começou. Meus pais estavam na plateia, e tivemos um público muito bom nessa noite... Os aplausos vieram. Plateia em delírio. Paulo emocionado, com os olhos marejados. Eu não estava diferente. A noite seguinte foi mais especial. Mais público, mais aplausos e a peça mais redondinha. Tudo saiu como queríamos. Meus pais me cumprimentaram no final e eu vi, novamente, meu pai com os olhos vermelhos de emoção, orgulhoso de mim."
Depois da noite de rock no Mancha, Lislaine, Cesinha, Maikinho e eu saímos de lá, assim que o bar fechou, meio altos, com 2 garrafas de vinho que tomamos, seguimos até em casa. Lislaine tentava se equilibrar no salto agarrada em mim. E eu tentava me equilibrar com a Lislaine. Na esquina de casa, sentamos na calçada. Elton apareceu também. Conversamos mais um pouco. Minutos depois, nossa última noite juntos acabou.
Terça-feira foi meu último dia de trabalho na biblioteca em 2010, junto com a Lis. Na segunda, Josi e Fatinha trabalharam. Meu Deus! Quanto trabalho que a biblioteca nos deu... O jeito que a encontramos e o que ela é hoje, é irreconhecível. Paulo conseguiu reunir uma ótima equipe que deu gás, sangue, e conseguiu transformar o mundinho tambauense das letras num lugar agradável e acessível. Os projetos realizados lá contribuíram bastante com a nova biblioteca. Tivemos o projeto Agosto Folclórico, que apresentou o novo espaço aos alunos de todas as escolas de ensino fundamental da cidade.
"Os atores da Quintal das Artes estão dando um show de interpretação, divertindo e encantando as crianças. A Fatinha, funcionária da biblioteca, tem um jeito todo especial para contar histórias aos pequenos. As professoras, na sua maioria, saem satisfeitas da biblioteca, que possui agora novas instalações e está totalmente modificada para atender às necessidades dos seus sócios. O fato é que o projeto vem sendo muito prazeroso para todos nós. Especialmente em relação ao Teatro, é maravilhoso trabalhar para crianças, o público mais sincero que pode existir. Vê-los com os olhinhos brilhando ouvindo o canto da Yara, e dando gargalhadas com o fazendeiro correndo atrás do Saci e do Lobisomem, já vale todo trabalho."
Outra apresentação teatral que fizemos na biblioteca foi com fantoches, em mais um ótimo desempenho dos atores do grupo de teatro que encantaram as crianças.
"Cerca de 100 alunos das escolas de ensino fundamental compareceram na biblioteca no período da manhã acompanhados dos professores. A tarde, mais 150. Estava um calor terrível. Mas deu tudo certo. Todos saíram satisfeitos com o trabalho e mais uma vez a biblioteca apresentou um ótimo projeto. A história da peça foi adaptada por mim e pela Fatinha. O sapo Risonho se apaixona pela macaquinha Lindinha, e com a ajuda do amigo-jacaré Bacana, tenta conquistar sua amada com a brincadeira do bem-me-quer, mal-me-quer. A peça divertiu as crianças, que cantaram, dançaram, riram e treinaram matemática com os personagens."
O dia passou rápido, e para um dia da semana de ano novo, o movimento foi muito bom. Lislaine logo de manhã ficou presa no armário pelos cabelos. E eu tropeço o dia todo. Penso que se trabalhássemos sozinhos lá todo dia, não iria sobrar muita coisa da biblioteca. Fechamos e a missão por lá também estava cumprida em 2010. Foi a última vez que vi a Lis no ano.
Quinta-feira saí com minha família. Fomos até um pizzaria com minha mãe e meus tios. Rodamos, rodamos, e achamos um lugar aberto, em Santa Cruz das Palmeiras, cidade vizinha da nossa. Foi agradável. Rimos muito. Sonhei, sonhei e tracei na mesa todos os planos para passagem de ano novo do dia seguinte no Rio de Janeiro. Será que dava tempo de chegar, de ônibus? As pizzas chegaram. Meia aliche e meia calabresa, meia frango e meia portuguesa. Foi uma noite e tanto...
No último dia do ano, falei com o Che pelo celular logo de manhã. Os telefones em Tambaú passaram a manhã toda sem funcionar, mas depois tudo voltou ao normal. Tinha combinado com Che de ir até sua casa a tarde. Falei com Alan, tentei fazer com que ele fosse, mas alguns imprevistos o impediram de ir comigo. Fui sozinho então. Che e eu, pra variar, discutimos na ultima semana, por causa de uma besteira que aconteceu na noite de Natal, mas que foi decisiva pra mostrar para os dois como tudo ainda continua complicado, impossível de resolver. Os últimos dois natais antes, passamos a madrugada juntos na praça da cidade (o primeiro, o Alan também passou conosco), conversando e rindo até o sol nascer. E isso sempre foi importante pra mim. Sabia que esse ano, isso não iria acontecer, por causa da cirurgia que o impediu. Nesse natal, naquela conversa pelo celular, eu percebi que talvez não foi tão importante assim...
Bom, a tarde foi tranquila. Não conversamos sobre o ocorrido. Penso que nem precisava. Um sabia o que o outro tinha pra dizer. E estava, mais uma vez, tudo resolvido, até a próxima vez... Che está bem. Pode agora fazer movimentos com a perna. Não precisa mais ficar deitado o dia todo. Semana que vem, ele começa a fisioterapia. Estamos todos confiantes de que logo o teremos de volta. Alan ligou. Ele estava resolvendo os últimos detalhes da apresentação teatral da qual participou a noite, na missa do Santuário. Alan continua longe de nós. Quase não o vemos. Mas ele disse no telefone que Che e eu fomos os primeiros amigos de verdade que ele conseguiu aqui em Tambaú, e que isso não mudará nunca. Che e eu conversamos a tarde toda, sobre tudo. Foi como se tivéssemos nos conhecido a uma semana. Sempre é assim. Fizemos a maratona "Dawson's Creek". Assistimos 4 episódios da primeira temporada. Falei da série o ano todo pra ele, e finalmente, tivemos a chance de assistir. Eram quase sete horas da noite quando fui embora. Desejamos feliz ano novo um para o outro. E eu fui embora. Foi a última vez que o vi em 2010.
Sozinho em casa, antes do reveillón, minhas companhias foram as redes sociais, os desejos de ano novo e as músicas da Kiss FM. Soube pela Paulinha, a @fenix_manca, do especial das 500 melhores da rádio. Bora lá!
O meu reveillón foi em família, mas meus pais, tias e primos. Dançamos, bebemos, comemos, festejamos. Meu celular tocou um pouco depois da meia noite. Era uma ligação de Limeira. Era Carla, que conheci em Santa Rosa, na primeira vez que Che e eu fomos juntos pra lá com o John Móvel. Falei com ela, nos cumprimentamos, nos saudamos, e ela disse que tinha alguém lá que queria falar comigo. E eu me lembrei...
"Não tem mais nada pra falar. Os olhares se cruzam, dessa vez mais apertados e mais assustados. Há um silêncio, mas rola uma música nos ouvidos uma música particular. Os dois vão chegando perto e o beijo rola, lento, um tiro no escuro. Depois clareia tudo e fica mais quente, e mais seguro. Foram 20 minutos de carinho. O coração aguenta isso tudo? Não tô falando de paixão, mas sim de química, aquela que faz o coração bater mais rápido, o sangue passar apressado pelas veias. Tem aquela vermelhidão no rosto. Você pensa que o mundo é seu, e esquece de tudo."
Ouvi pelo celular as mesmas saudações e cumprimentos, e também que era adorável ouvir minha voz, e que a ligação era pra isso. Sei lá. Por um momento, eu parei e não soube o que pensar. Quis usar as mãos e modificar a história toda, modelá-la do jeito que eu sempre pensei e quis que fosse. As palavras estavam ali sendo ditas, e era exatamente tudo aquilo que precisava ouvir... Logo depois, como na noite de Natal, falei com o Che. Ele estava na casa da avó com a família dele. Assim como no Natal, desejamos tudo que queríamos...
Os fogos de artifício cortaram o céu da cidade, no meio das chaminés das cerâmicas, tão evidentes por aqui. O barulho era forte, no meio de aplausos e gritos de euforia. O colorido estampou o céu que quase não tinha estrela. Era a esperança do novo ano brotando no coração acelerado das pessoas. Minha família e eu assistimos tudo da calçada, enquanto nos cumprimentamos nos primeiros segundos de 2011.