ESTE POST NÃO É RECOMENDADO PARA OS QUE NÃO ACREDITAM NO AMOR, OS QUE VÊEM O AMOR COMO UMA GRANDE BOBAGEM, OS QUE NUNCA O EXPERIMENTARAM. NÃO É RECOMENDADO
TAMBÉM PARA AS PESSOAS QUE ME VÊEM COMO UM IDIOTA APAIXONADO E INCORRIGÍVEL. NÃO LEIAM TAMBÉM OS QUE, NESSE MOMENTO, TEM O CORAÇÃO PARTIDO.
Não gostaria de comentar esse assunto aqui, tão abertamente, evitei ao máximo fazer isso, até porque não estava em condições de escrever nada, redigir nada
que fosse claro sobre o assunto. Passei dias perturbado, sem saber o que pensar, o que dizer. Hoje posso ver tudo com mais clareza, e resolvi escrever porque
esse blog, desde o começo, tem o intuito de registrar fatos importantes (e irrelevantes) de minha vida, um registro para que eu mesmo possa acompanhar minha
evolução pessoal. E sem dúvida, os últimos acontecimentos são parte importantíssima de minha história.
Foi numa tarde fria de junho do ano de 2005 que, de repente, lembrei de um número de telefone. Não queria nada demais, apenas conversar, saber notícias. A
última vez que tínhamos nos encontrado tinha sido há um tempo, como meros amigos. Liguei, marcamos de nos encontrar na Avenida Paulista, mais precisamente na
frente do famoso prédio da FIESP, e exatamente nesse lugar, que seria cenário de muitos momentos da nossa história posteriormente, que meus olhos brilharam
quando vi aquela anatomia se aproximando de mim. Era uma anatomia linda, perfeita, sorridente, doce e gentil, mais gentil que nunca. Não foi amor a primeira
vista, eu confesso. Estava muito perdido quanto aos meus sentimentos nessa época, mas talvez tenha sido um sinal, um presságio de que uma bela história
começaria a ser construída ali, naquele dia. Foi uma tarde muito feliz, e um início de noite empolgante. Não estávamos sozinhos. Enrolados nós dois num único
cobertor na sala do apartamento onde morava, aconteceu o primeiro e inesquecível beijo. Primeiro sim, porque os que haviam acontecido antes tinham sido
despretensiosos. Esse também foi despretensioso até então, mas existia uma mágica diferente no ar. A visão de sua chegada ainda mexia comigo nesse momento, e
fez com que o beijo fosse um delicioso mergulho numa piscina de água refrescante, num dia de calor insuportável.
Nossa história havia começado. Depois de um mês de encontros esporádicos, foi feito um pedido de namoro. Não me lembro quem fez o pedido, o que me lembro era
que a felicidade era muito grande, e havia muita disposição de ambas as partes de fazer tudo dar certo.
Eu passava por um momento muito difícil e contraditório nessa época. Havia uma outra história mal esclarecida, mal terminada, que havia arrasado comigo
psicologicamente durante alguns meses, e tudo era muito confuso. Demorei algum tempo para entender tudo o que estava acontecendo. Com isso, houve uma
separação muito dolorosa de 3 semanas, quando passávamos pelo temido terceiro mês de namoro. Depois, a história recomeçou. Foi nessa época, em que o amor deu
as caras. Eu tinha 20 anos, achava que já tinha amado muito, me apaixonado muitas vezes. Me apaixonei pela primeira vez aos 8 anos de idade por uma
coleguinha de classe, quando estava no primeiro ano. E até chegar aos meus 20, tinha sofrido muito por amores platônicos mal resolvidos. Que nada! O amor
chegou pra mim exatamente aos 20 anos. Não era nada do que eu pensava. Era muito mais. Era muito melhor.
Durante 6 meses, eu vivi de amor como na música do Cazuza, "ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida, um trocado pra dar garantia e um
remédio anti-monotonia". Foram os melhores 6 meses de minha vida. Eu não conseguia ver beleza em mais ninguém, tudo que eu precisava estava comigo, do meu
lado. Foi uma época em que, até o teatro, minha paixão de toda vida, foi demasiadamente deixado de lado. Isso não foi certo, mas poxa... Eu estava
experimentando pela primeira vez uma sensação maravilhosa de ser e estar, que eu sempre busquei. Quando eu olhava meu amor, eu não via uma pessoa, eu via
luz, liberdade. Ouvíamos muito nessa época, um recente lançamento da cantora Shakira, que continha uma faixa que se transformou pra mim como o nosso hino, o
hino da nossa história. A música diz: "quando você me prende em seus braços, quando olho dentro dos seus olhos, eu sei que Deus existe, e não é difícil de
acreditar". Era muito amor! Foi a fase em que estive mais frágil, e também mais feliz. O nosso encontro dos corpos era poesia, era música, era uma onda
calma, era instigante, perturbador, e vertia lágrimas. Foram 6 meses pedindo para que a Terra parasse de girar, para que o tempo parasse, e aqueles momentos
fossem eternos. Dizíamos isso um pro outro. Quanta coisa vivemos juntos! Com o meu amor, ganhei e dei presente no dia dos namorados, assisti um inesquecível
show de meus grandes ídolos na época, fui a festas, arrumei meu primeiro emprego, fui a pré-estreia de filme, gozei a vida plenamente.
Mas a nossa história foi feita de muitos desencontros. No sexto mês após nossa última reconciliação, mais uma complicada separação, dessa vez, mais
catástrófica. Nunca mais fui o mesmo depois disso. Mas o amor continuava em mim, não de uma forma menor, mas de uma forma mais branda, mais sossegada.
Nosso amor era rebelde, intenso, ousado. Para alguns, era inacreditável, inaceitável, e exatamente por isso, atraiu muitos opositores, gente que nunca tinha
experimentado o que nós estávamos vivendo, e que talvez não experimentaram até hoje. Lutamos muito por nossa história. Enfrentamos diversos obstáculos, vindo
de toda a parte. Muita coisa ruim aconteceu depois desses 6 meses. Não comentaria aqui até porque esse não é nenhum relato vingativo, nem depressivo. Não
comentaria também porque o espaço é limitado, e não caberia aqui. O importante a ser relatado é que, depois de muitas idas e vindas, ocorreu uma inevitável e
necessária separação, dessa vez, com quilômetros de distância. Passado o choque, tivemos outras tentativas de tocar o barco adiante. Ainda vivemos muitos
momentos legais depois disso. Viajamos bastante para nos encontrarmos e manter vivo o que havíamos construído. Mas o mundo se mostrou cada vez mais cruel. O
tempo e a distância se aliaram e o que era infelizmente previsto, aconteceu.
O que eu sei é que não abro mão de nada que tenha vivido. Tudo foi muito transformador. De verdade, sem demagogia nenhuma, nossa história faz parte de mim
até o último fio de cabelo, porque moldou a pessoa que sou hoje. Me levou da glória ao desespero e angústia total do ser. Minha passagem por São Paulo está
ligada diretamente a todos esses encontros e desencontros. Descobri parte de minha vida e parte de mim com esse louco amor, que passou ora como um riacho
calmo, ora como uma tsunami devastadora e caótica. Por que terminou? Ah, na vida tudo tem um começo e um fim, apesar de ser doloroso aceitar e reconhecer
isso. O que precisa ficar claro é que eu sou totalmente contra esse ponto final. Se pudesse, viveria tudo de novo, desde o começo, cada detalhe. Iria
corrigir sim muita coisa, mas a essência e a inevitável fase de amadurecimento de mim mesmo, ficaria intacta. Não concordo com o fim, mas também aprendi que
não adianta na vida você lutar contra certas coisas. As suas escolhas tem consequências, o seu destino se desenrola, se desenvolve e você vai perdendo
histórias, fatos, fotos. Queria guardar tudo numa caixa dentro do guarda-roupa, para poder ter acesso a qualquer hora, reviver tudo. Mas como não é possível,
recorremos então as boas recordações. Continua tudo em mim, nos meus discos e cd's, nos meus livros, nas minhas roupas, no meu armário, no meu vocabulário,
nos milhares de álbuns de fotos. Há um pedaço dessa história em cada canto da casa, em cada canto de mim.
Não devo mais falar dela depois desse relato. Nem todo mundo está preparado para acreditar que tudo isso aconteceu exatamente dessa forma, explosiva e
mágica. Nem todo mundo experimentou tudo isso ainda. Alguns nunca irão experimentar. Também não quero me transformar num chato que só sabe falar de um
assunto, e que só oferece lamúrias. Então, a dor do fim continuará comigo, até quando tiver que continuar. Mas esse blog e essa boca não se pronunciarão mais
sobre esse assunto. Um final tão melancólico merece mesmo o silêncio. Sem choros e sem velas, afinal não há defunto. Muito pelo contrário, tudo continua bem
vivo.
Pensei numa foto para ilustrar este post, talvez um coração, ou uma foto antiga. Mas cheguei a conclusão de que a imagem não faria muita diferença agora. As
palavras dizem sozinhas, tudo.