Em casa, tenho feito muita coisa que há tempos planejava. Estou revendo uns dvd's, ouvindo músicas esquecidas, lendo. Estou sem internet temporariamente. Meu notebook teve problemas com a tela e está no conserto. E ele resolveu quebrar na quarta-feira, justamente no dia em que meu pai acordou com o típico mal humor ariano, aquele sem motivo e sem direção. Meu pai consegue ser pior que eu quando acordo nesses dias. Ele foi buscar meu note na biblioteca com a cara de quem tinha acabado de chupar um limão. E falou: "por que você não levou para arrumar antes de quebrar de vez e bla bla bla..." Sim, meu note vinha apresentando problemas há mais de uma semana, mas como ainda dava pra usar, deixei pra lá. Agora vou pagar caro por isso. Nessa de ficar sem internet, tenho aproveitado para colocar meu sono em dia. Fico anestesiado, como se tivesse tomado o mais potente dos calmantes. Tenho medo de abrir a boca de sono e engolir algum objeto.
Minha semana no teatro foi produtiva, não como deveria, mas foi. As coreografias da "Casa de Brinquedos" estão quase todas montadas. A produção da peça é difícil e leva tempo, por isso, Paulo optou por estrear "Somos todos do jardim da infância" antes. Isso me pegou totalmente de surpresa. Temos em mente a data de 23 de novembro. Nessa semana, o número musical com "Banho de lua" ficou pronto. Um pequeno insight com "Help" dos Beatles, resultou numa calça minha rasgada. Quem mandou me abaixar demais? Ainda bem que ninguém percebeu. Ô urucubaca! O fato é que meu bloqueio criativo pra essa peça vai acabar nesse feriado quase prolongado, nem se for na marra.
Começamos também os ensaios para a apresentação de "Sexo dos Anjos" no festival de Varginha, que acontece no fim do mês. É, não tenho muitos motivos para conseguir dormir bem, sem ataques de sonambulismo. Numa manhã aí dessa semana, minha mãe entrou no quarto e me acordou. Eu me virei pra ela e disse "você é um garoto infantil". Ela: "o quê?". E eu: "é, está escrito aqui no teatro, 'garoto infantil'". Numa outra, no meio de algum sonho bizarro com os meus amigos, Che foi até a mim e disse "meu amor, está na hora de acordar!". Acordei assustado e vi que era minha mãe na porta do quarto. Ah, fora os pesadelos que tenho nos cochilos depois do trabalho. Depois de um deles na quarta-feira, acordei dando a volta no mundo. Não sabia que em eu era e demorei muito pra reconhecer minha casa. Mas tudo isso já foi muito pior na minha adolescência. Já tentei subir no guarda-roupa. Uma vez, meu pai foi me buscar na esquina de casa. Foi quando ele e minha mãe passaram a esconder as chaves de casa toda noite. Ah, e teve também a vez em que saí correndo, gritando, derrubando as cadeiras da copa e dando socos no suposto monstro que corria atrás de mim. #tenso.
Quinta-feira foi um dia difícil também. Sabe quando você perde oportunidades de ficar calado? Você caça problema, sarna pra se coçar. Pois é. Falei demais, fiz pergunta que já sabia a resposta, reclamei demais da vida e ouvi o que não queria. E o pior de tudo é que depois, ainda achei que estava em condição de cobrar alguma coisa. Ô urucubaca! Isso rendeu uma conversa difícil, dessas de novela, intermináveis e reveladoras, no final da noite. Sinto muita falta de alguém pra conversar. O único que me ouve é o Che. As outras pessoas que me cercam não saberiam me entender, não dariam nenhum conselho proveitoso, ou não estariam preparadas pra uma barra tão pesada. Já teve gente que até se aproveitou (nesses momentos aí de fraqueza em que preciso esvaziar o copo que está cheio) pra tirar um sarro da minha cara, ou então pra aliviar os próprios problemas. O Che é o único que ainda me suporta. Eu faço a minha parte também. Estou com ele para o que der e vier, pra quebrar qualquer galho. Mas mesmo assim, acho que às vezes fica tudo muito pesado pra nós.
Ainda na quinta, antes disso, Éder apareceu. Entrou mudo e saiu calado. Cumprimentou nós todos estranhamente. Sentou conosco no posto com a cara fechada e logo foi embora. Eu não tinha o que dizer. A questão não era não querer falar, mas sim não ter o que falar. Nenhuma demonstração de que a situação iria se resolver, então, ficou tudo como está.
Depois, alguém que andava meio sumido apareceu, alguém que apareceu na minha vida no começo do ano numa das vezes em que estive solteiro, e que quase ganhou meu coração. Tivemos um lance rápido e bom, mas que acabou por uma certa instabilidade sentimental que ainda ronda, pelo que percebi. Quis falar comigo. Entrei no carro e fiquei um tempão lá, ouvindo lamúrias amorosas e dando conselhos. Se fosse bom, a gente vendia né, mas já é um consolo conversar. Sei bem como é. Ainda mexe comigo, muito.
Sobre a noite de hoje, ainda não decidi nada. Muita coisa conversada nessa quinta-feira foi determinante para o que vai rolar hoje. Acho que preciso dar um tempo, aliviar a minha barra e dos outros, que me carregam nas costas. Estou sobrecarregando meus amigos. Não quero bloquear, podar ninguém. Todo mundo tem direito de correr atrás dos seus lances, suas vontades, de fazer sua própria história. Me incomoda demais o fato de que viro preocupação das pessoas toda noite, de que gostem de mim e tentem me proteger de mim mesmo. Podem deixar, eu me aguento. Será a noite da liberdade.
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