Somos todos do teatro

Em 1996, minha família morava numa casa no centro da cidade, do lado da farmácia onde meu pai até hoje trabalha. Era uma casa velha, com teto de madeira carunchada. Tinha um quarto só e, por isso, passei boa parte da minha infância dormindo no mesmo quarto que meus pais. Eu estudava na Escola Padre Donizetti, que era pertinho de casa. Ia todo dia a pé pra escola. Passava no mercado Abackerli, que era na mesma rua e até hoje continua no mesmo lugar, comprava um Fandangos e um chocolate pro recreio, e ia estudar. Meus amigos estavam sempre em casa. Meu pai pagava sorvete pra nós quase todo dia, já que a sorveteria era muito próxima da minha casa. Todo dia a noite saía de bicicleta pra pedalar na praça. Ficava dando voltas no quarteirão, e sempre parava na locadora Fox Vídeo pra ver as prateleiras. Foi lá que um dia roubaram minha bicicleta. No mês de outubro na minha rua, a Dr. Alfredo Guedes, tinha a Festa da Amizade. Eu adorava. Estão aí grandes lembranças de brincadeiras e comilanças da infância. Meu pai nessa época já tinha um fusquinha, mas na nossa casa não tinha garagem. Ele guardava o carro na oficina do Seu Mauri Rocco, pai do Paulo Rogério, que fica nos fundos da casa dele. Seu Mauri alugava a oficina para guardar carros dos moradores da região que não tinham garagem em casa. Numa noite, quando meu pai guardava o carro, vi o grupo de teatro que o Paulo dirigia na época ensaiando na garagem. Era o Grupo Curtura que ensaiava, se não me engano, a peça "Seis Personagens a Procura de um Autor". Os atores usavam roupas bonitas, falavam alto e eram enormes aos meus olhos de criança. Ficava admirado e olhava tímido, com a cabeça baixa. Não devia entender nada mas gostava muito do que via. Isso aconteceu durante várias noites. Em uma delas, meus pais e eu ficamos mais tempo e assistimos algumas cenas a mais. Meu pai então começou a perceber meu interesse e conversou com o Paulo, que me convidou para entrar para a Escola Municipal de Teatro, que ele também dirigia com o apoio da Prefeitura. Mas a vergonha e o receio me seguraram ainda durante 2 anos. Em 1998, ainda morava no centro e numa noite, fui com amigas minhas até o Centro Cultural, onde Paulo ensaiava. Começava ali minha história no teatro.
Apresentamos naquele ano o musical "Casa de Brinquedos". No começo dos ensaios, fiquei tímido sim, receoso, mas fui me soltando, até que comprei o cd com as músicas da peça e numa tarde na casa de uma amiga minha, montei a coreografia da "Bicicleta". Cheguei no ensaio naquela noite e disse pro Paulo que tinha algo pra mostrar pra ele. Foi só a primeira. Algumas coreografias da peça fui eu que montei. Eram simples, infantis, mas me orgulhava tanto delas. No ano seguinte, veio mais um musical, dessa vez, "A Arca de Noé". No cartaz da peça, em vermelho, vinha escrito "Coreografias de José Ono Junior". Eu tinha 14 anos e não tinha noção do tamanho disso.
Nessa época, o Grupo Curtura continuava seus projetos. As peças eram mais bem produzidas, tinham figurinos especiais, iluminação, e uma estrutura bem diferentes das pecinhas que a gente fazia na Escolinha de teatro. Eu assisti "Uma Serpente no Seio de Roma" e pensei que um dia iria conseguir chegar ali, trabalhar naquele grupo, com aqueles atores e aí sim eu seria importante.
Minha trajetória no teatro continuou. Em 2001, montamos "Tribobó City". Fiz o "El Mexicano", até hoje um dos personagens que mais gostei de fazer. Numa apresentação para a escola Alfredo Guedes, lembro das crianças correndo atrás de mim nos fundos do Centro Cultural e gritando "los indios, los indios" e pedindo autógrafo hehe. Foram meses andando pela cidade e ouvindo gente gritando o bordão do Mexicano. Em 2002, fizemos leituras de uma peça de Domingos de Oliveira, "Somos Todos do Jardim da Infância". Adorei o texto e gostei logo de cara do personagem "Felipe". Mas a peça não aconteceu. A escolhida foi um clássico de Molière, "O Médico a Força". Nunca vi um público rir tanto quanto nessa peça. Era gargalhada do começo ao fim. Mutreta e eu éramos uma dupla infalível nessa época, mesmo vivendo às turras. Era ego demais num grupo só.Logo depois, um novo desafio, "Édipo Rei", tragédia grega de Sophocles. Fazia o "Tirésias". Usava uma maquiagem pesada. Raspei a sobrancelha e o cabelo. Tirésias era cego e da boca dele saía a perdição de Édipo. Com essa peça, encarei meu primeiro festival de Teatro, em Pirassununga, o que não foi uma experiência boa. Era importante demais pra mim e o nervosismo já me tirava do sério.
No ano seguinte, veio minha primeira apresentação como "Herodes", na Paixão de Cristo.
Mas a mais elogiada foi a de 2004, quando Paulo dirigiu "Inri - Pietá". Até hoje ele diz que foi minha melhor atuação, que nunca me viu tão bem em cena. Eu já estava em São Paulo, cursava o curso profissionalizante de ator no Teatro-Escola Célia Helena. Morava sozinho numa kitnet da Alameda Santos, perto da Avenida Paulista. Meu pai pagava a escola pra mim. Ele não gostou muito da ideia quando soube que queria me formar como ator. É uma profissão difícil, instável, e bem concorrida. Mesmo contrariado, querendo que eu cursasse Medicina ou Farmácia, meu pai sempre me apoiou. Em 2005, apresentava a peça "Portobello Circus" em São Paulo, no Teatro Célia Helena. O camarim do teatro ficava em cima do palco, e de lá de cima, se via a plateia atrás da cortina preta. Meus pais estavam em São Paulo. Era a minha primeira peça que eles iriam assistir em São Paulo. Puxei a cortina preta e vi os dois sentadinhos, no meio de toda aquela gente bacana, encantados com o teatro e ansiosos para me verem em cena. Eu usava uma maquiagem toda branca, era o dono do circo na peça. Naquele momento, não resisti à emoção e derreti um bocado dela. Queria que meu pai se orgulhasse e visse que seu esforço para me manter em São Paulo não era em vão, que a minha alma era de artista e se não fosse assim, eu não seria nada. Foi a primeira vez que encontrei meus pais com os olhos marejados depois de me verem atuar. Ali, naquela noite, tive a certeza que estava no caminho certo.
Passei 5 anos em São Paulo, 3 deles estudando. Fiz várias peças com a escola e uma profissional apresentada durante 3 meses no Espaço dos Satyros. Participei de muitos testes, fiz teste até na Globo hehe, atuei num curta-metragem, muita história que nem caberia aqui agora. Trabalhei com telemarketing também durante um tempo, e passei também muito tempo como ator desempregado. Cresci muito como pessoa durante esses 5 anos. Me apaixonei muitas vezes, quebrei muito a cara, vi meus sonhos surgirem e escoarem pelo ralo várias vezes. Durante esse tempo, ainda fiz alguns trabalhos com o Paulo. Ministrei alguns laboratórios com os atores e participei do grande sucesso do Curtura, "A Gaiola das Loucas". Em 2008, voltei para Tambaú.
Estava perdido, com uma mão na frente e outra atrás, sem amigos, sem nada.
Todo mundo estava fora, fazendo a vida. Pra mim, eram vários passos pra trás. Paulo então me chamou para acompanhar o ensaio de "O Príncipe da Quermesse". Foi quando conheci os atores e o novo grupo que tinha se formado enquanto estava fora. Li o texto, ouvi as músicas e as ideias começaram a surgir. Com a permissão do Paulo, comecei a mexer na peça. Fiz muitas coreografias e o espetáculo depois de 2 meses de trabalho, ficou pronta. A peça foi um sucesso. Tivemos um público ótimo durante as 3 apresentações e todo mundo saiu satisfeitíssimo. Na última apresentação, quietinho, na última cadeira da plateia, me emocionei muito. Teatro é minha vida e ele estava presente novamente nela. Ver os garotos trabalhando, curtindo o que eu curtia quando tinha 13, 14 anos, foi tocante. Demorei um tempo para entender que Deus escreve certo por linhas tortas. Quis a vida toda trabalhar com teatro, e estava. Num lugar diferente e de uma forma diferente, mas estava vivendo de arte.
Em 2009, o teatro se fez ainda mais presente. Passei em um concurso da prefeitura e dei aulas de teatro nas escolas durante 6 meses, até quando o projeto acabou. Na SAT, continuei trabalhando com o Paulo, assumindo maiores responsabilidades. Foi sofrível no começo. Tinha medo, me sentia despreparado. Me formei como ator, e não como diretor, e a ideia de aprender assim, na raça, me assustava demais. Fui me adaptando aos poucos ao grupo, ganhando intimidade, me soltando, e o medo foi passando. Nesse ano, dirigi junto com o Paulo a peça "Tribobó City", a mesma que atuei em 2001. A peça foi bem musical e agradou muito as crianças que prestigiaram. Além dessa, também me apresentei com "Confissões de Adolescente", onde contracenei com as meninas do grupo. Era pai delas, foi uma experiência ótima.
Em 2010, o trabalho na Quintal das Artes seguiu em frente. No início do ano, surgiu "Sexo dos Anjos". Lembrei daquele antigo sonho de atuar no Grupo Curtura. Já tinha passado por ele, umas 3 vezes antes, mas essa foi especial, o melhor texto que já encenei. Tenho recordações dos ensaios, das apresentações, muito vivas dentro de mim. Foi tudo muito forte e essa peça nos orgulha muito. Além de trabalhar na biblioteca, as aulas no grupo de teatro continuaram. Um dia, Paulo me questionou sobre a peça que faríamos nesse ano. Me lembrei de "Somos Todos do Jardim da Infância", do quanto que gostava do texto. Sugeri que transformássemos
a peça num musical. Paulo topou na hora. Até estranhei, mas nem disse nada. Dividimos o grupo e começamos os ensaios, além do musical, da "Casa de Brinquedos" também. Num dia de extremo cansaço, de fadiga mesmo, estava de saco cheio, estressado, e num rompante, disse para o Paulo que pensava em sair fora do teatro. Ele foi enfático: "se você for sair, precisa me avisar logo, pois estava pensando em deixar a direção do 'Jardim da Infância' com você". Paulo me conhece muito bem e sabia que isso iria fazer com que mudasse de ideia. Minha cabeça deu um nó. Travei. Não ia nem frente, nem pra trás. As ideias não saíam. Foram noites de difíceis ensaios, a passos de tartaruga, e cada vez mais, me sentia culpado, frustrado. Numa noite dessas, resolvi que isso não me dominar mais. Criei vergonha na cara e comecei a trabalhar, mostrar tudo que sei. A peça começou a aparecer. Isso empolgou Paulo também, que me ajudou bastante nos equívocos que eu cometi no meio do caminho. Os ensaios se intensificaram. Era "ou vai, ou racha". E foi. A divulgação começou, as coreografias foram ficando prontas, os figurinos aparecendo, e o trabalhando ganhando forma.
Dia 25 de novembro de 2010! Chegou o dia da estreia. Vivi dias muito difíceis em 2010, com muitas perdas e desilusões, como acontece com todo mundo. Ainda é hora de crescer. Tem dia que acordo e vejo que não sei nada da vida, nem de mim. Os últimos dias foram de bomba-relógio. Pensei em alguns momentos que iria explodir. No dia da estreia, saí mais cedo da biblioteca. Fui pra casa, dormi bastante. Acordei muito nervoso, deprimido. Me tranquei no quarto, liguei o som. Cantei, cantei muito. Alegria, alegria; Soy loco por ti America, I want to hold your hand, Call me, Hey Jude... Me acalmei. Pensei em tanta coisa. também não caberia aqui. Coração estava em frangalhos, sem força, batendo ora rápido, ora devagar. Na SAT, andei de um lado para o outro. Todos estavam nervosos, a sua maneira. A peça começou. Meus pais estavam na plateia, e tivemos um público muito bom nessa noite. A voz do José Eli narrando as falas do autor veio primeiro. Logo depois, "We go together", do filme Grease, que sempre me encheu os olhos. E aí foi... Os meninos na sala de aula, tomando sorvete na Milka, dançando Elvis com as meninas na festinha. Veio a triste cena de desamor com Isabelle e Gabriel, sensibilizando. Depois, o xodó "Biquini de bolinha amarelinho" com as queridas Camila e Carolzinha, segurando as revistas Cláudia, tão coloridas e ousadas. "O bom" Neto fez graça no cinema, e depois do beijo, veio o tapa com o "Splish Splash". Os hilários Marco Antonio e Tales tomando um tenso café desigual, procurando solução para aqueles problemas tào complexos. O baile de formatura funcionou como panela de pressão para aqueles personagens. Claudinha surgiu, com nome de flor, trazendo beleza e perfume. Juliano tentando ganhar o primeiro beijo para seu personagem, mas o tiro saiu pela culatra, com o soco que levou do cadete, namorado da Norma. Veio a hora do "Rock around the clock", logo depois, a descoberta do amor com "Can't take my eyes off of you". Ane Caroline, nossa grande Carol, surgiu de vestido vermelho na frente da lua, que era poste. A tensão do vestibular com os delírios de "Get Back", dos Beatles, que apareceram bastante no espetáculo com "Hey Jude", "Let it Be", "Yesterday" e "I want to hold your hand", que relembrou os momentos dessa turma para plateia numa mistura de cinema e teatro.
O brinde findou. E a turma se calou. O Artur, do Rodrigo, tombou junto com o Brasil. E a peça enfim ganhou tons em preto-e-branco. Começava o período negro que nos libertaria só no ano em que nasci. A cor voltou. Veio o carnaval e aqueles queridos amigos cantaram: "eu te amo, meu Brasil, eu te amo". Os aplausos vieram. Plateia em delírio. Paulo emocionado, com os olhos marejados. Eu não estava diferente. A noite seguinte foi mais especial. Mais público, mais aplausos e a peça mais redondinha. Tudo saiu como queríamos. Meus pais me cumprimentaram no final e eu vi, novamente, meu pai com os olhos vermelhos de emoção, orgulhoso de mim.
Minha sensação é de que poderia ter trabalhado mais, ter deixado tanto de insegurança, e ter caído de cabeça na peça mais cedo, mas Deus entra de novo na história, e Ele sabe o que faz. O trabalho está aí, cumprido, e todos nós somos do jardim da infância, na hora de comemorar nossos êxitos. A arte liberta, conforta, nos inspira, nos faz crescer, compreender, aguentar. E eu rezo pra que ela esteja comigo, em minha vida, até o último dia, e que esse seja sempre o meu caminho.
Hoje ainda temos espetáculo, a última apresentação. E a noite ainda guarda muitas surpresas e muita emoção pra todos nós. E a nossa história nesse riacho da vida continua...

"Estou aqui de passagem. Sei que adiante um dia vou morrer de susto, de bala ou vício, num precipício de luzes, entre saudades, soluços. Eu vou morrer de bruços, nos braços, nos olhos, nos braços de uma mulher. Mais apaixonado ainda, dentro dos braços da camponesa, guerrilheira, manequim, ai de mim, nos braços de quem me queira."

"Eu vou, por entre fotos e nomes, os olhos cheios de cores, o peito cheio de amores vãos. Eu vou, por que não?"

Balada triste

Este blog é um diário pessoal, desde o início. Portanto, tudo o que conto aqui é verdade, mesmo que essa verdade não esteja completa em alguns casos. Afinal, não é tudo sobre nós que devemos expôr na internet. O fato é que, tudo que for importante para as histórias contadas aqui, está aqui, com uma pincelada maior nisso, naquilo e uma forma diferente de contar as histórias, com um pouquinho de ficção, para que fique interessante para quem lê. Este relato foi o mais difícil de escrever até hoje, o mais doloroso e o que mais demorou para ficar pronto. Me sinto tão machucado que achei que não conseguiria. Foram 3 tentativas e nenhuma deu muito certo.

Primeira tentativa

A casa amanheceu toda bagunçada. No meu quarto, o edredon estava no chão, e na cama desarrumada, várias peças de roupa amarrotada. Do lado, a pulseira verde do baile da noite anterior rasgada. O all star preto com meias suadas e encardidas também estava lá. Na mesinha da sala, um prato sujo com a pizza do almoço, um pano de prato e o notebook morrendo quase sem bateria. Na cozinha, os tapetes todos tortos pelo chão, e a caixa da pizza aberta em cima da mesa.

Segunda tentativa

São quase meia-noite de quinta-feira, dia 18 de novembro. Lá fora, o céu está estrelado. Eu não perdi a minha mania de criança de não entender porque é que o céu, depois de tanta chuva, ainda consegue mostrar as estrelas. Amanhã volto a trabalhar, depois de 2 dias de molho em casa, doente. Ainda estou me recuperando, tomando remédios que me fazem suar muito. Tem sido horrível. Fui ao ensaio da peça hoje, que, aliás, foi ótimo. A turma estava animada e deu gosto de ver. Amanhã eles apresentarão, num evento sobre a juventude tambauense, que ocorrerá na SAT, um número musical da peça. Ficaram sabendo disso hoje e saíram do ensaio felizes da vida. Depois do ensaio, Che apareceu na SAT, como combinamos. Faziam 4 dias que não o via. Durante esse tempo, o que eu mais quis foi reencontrá-lo, para realmente ver que está tudo bem entre nós. Fomos para o posto, conversando. Ficamos lá um tempo e fomos embora. Che estava animado, feliz, percebi que até queria ficar mais por lá. Eu não, eu queria mesmo era ir embora e pensar naquilo tudo. Tentei agir como se estivesse tudo bem, e eu até achei que estava, mas o nosso reencontro não me animou como eu esperava. Por um momento, eu desejei não estar ali.
Na principal rua do centro da cidade, passei e vi a primeira árvore de Natal desse ano, na vitrine de uma papelaria. Estava ouvindo “Wind of change”, do Scorpions, quando meu celular tocou. Era o Murilo, de Limeira. Ele já havia me ligado antes, mas estava no meio do ensaio e não pude atender. A ligação me espantou bastante. Pensei que nunca mais iríamos nos falar. Sempre é assim que acontece. Conversamos um pouco. Ele falou do emprego novo que apareceu, e que
não sabe se pega ou larga. A conversa resistiu até ele perguntar se estava tudo bem. Ele percebeu pela minha voz que não, nada ia bem. Tentei desconversar, disse que não era nada com ele. Foi quando ele perguntou do baile de sábado. E eu contei a história toda.

Terceira tentativa

O final de semana chegou novamente e dessa vez eu nem senti, nem rezei pra que chegasse logo. Hoje é sexta e meu relógio biológico está todo errado. É meu segundo dia de trabalho na semana. Depois do feriado de segunda-feira, fiquei mais dois dias em casa, de cama, por causa de um infecção na garganta que me pegou de jeito e quase acabou comigo. Estou sentindo um sono descomunal. Acordei atrasado hoje e ontem fui dormir tarde pra burro.
Na noite de ontem, aconteceu na SAT um evento que deu início a uma campanha em prol da juventude tambauense. Várias autoridades da cidade, psicólogos, assistentes sociais, nossos atores e alunos das escolas de Ensino Médio estiveram presentes. Para mostrar um pouco do que a juventude de Tambaú vem fazendo na área artístico-cultural, a banda Quantum's Loko's
foi a primeira a se apresentar. Neto, Wagner, Gabriel e Marco Antonio, que são atores da Quintal das Artes, fazem parte da banda, juntamente com Kadmo e Rodolfo, que são amigos deles. Logo depois, foi a vez da Dança Circular com os
alunos da Escola Padre Donizetti, ensaiados pela professora Ana, de Educação Física. Desse grupo, Carolzinha e Marcos, alunos da Quintal, fazem parte. E para fechar com chave de ouro, os atores da nossa peça "Somos Todos do Jardim da Infância", apresentaram dois musicais do espetáculo, vestidos com figurinos e tudo mais, e saíram de cena muito aplaudidos. Isso só aumenta a expectativa da estreia, que acontece na próxima quinta-feira, dia 25, às 21 hs na SAT.
Para assistirem o evento, Lis e Che apareceram. Depois de tudo, fomos os três para o posto, como há alguns dias não acontecia. Nosso papo foi agradável, com muitas risadas, muitas piadas. Nem tudo se perdeu entre nós nesses tempos difíceis que vivemos, o mais importante, que sempre foi nossa cumplicidade e nossa vontade de estarmos juntos, permanecem, mesmo que hoje nos vejamos de formas diferentes.
Lis e eu acompanhamos Che até o Cruzeiro. Ele queria ir conosco até mais lá embaixo, mas Lis e eu não quisemos. Nos despedimos e seguimos o caminho. Lis e eu ouvíamos "Let it be", no meu celular. Uma cadelinha muito simpática nos acompanhou até perto do hospital. Esperando o pai da Lis aparecer, sentamos na sarjeta, ouvindo a música, com a cadelinha olhando piedosamente pra nós. Lis, rompendo o silêncio verbal, disse:
- Como a noite hoje está nostálgica!...
- É o ano que está acabando... - disse eu, sentindo o mesmo.
Hoje a noite, começa o Motofest. Eu planejei tanto com os meninos, queria tanto ir. Hoje também tenho ensaio. Depois, do ensaio, talvez apareça por lá. Sei lá qual é a minha vontade e o que eu devo fazer... Me sinto tão mal essa semana, desde sábado. Nunca mais fui o mesmo. É como se eu sofresse de um grande mal, calado, silencioso e sombrio, que pesa.

A parte mais difícil

Num sábado animado como há muito tempo não acontecia, levantei tarde pra caramba, atualizei meu blog e saí. Passei na loja, comprei meu ingresso para o baile havaiano e fui pra SAT, para mais um ensaio da peça. Ensaiamos exaustivamente as coreografias e depois, a peça toda. Saímos de lá quase 7 da noite. Che me ligou e ficou tudo certo para irmos ao baile a noite, o último que ele iria antes da cirurgia que terá que fazer. Foi então que ouvi Neto perguntando para os meninos se eles iriam na cachaçaria naquela noite. Acabei descobrindo que a banda Over Rock, que faz um rock’n roll da hora, iria tocar na cachaçaria a noite. Cheguei em casa e liguei para o Che, que topou tentar vender os ingressos do baile na porta do clube, e trocar de balada. Mais a noite, estava na avenida no centro da cidade, quando Che e Cesinha passaram de John Móvel e me deram uma carona. Paramos na praça, onde encontramos Maikinho, Elton e os outros meninos. Eram 10 e meia da noite e nada tinha ficado decidido sobre qual seria a balada da noite. Che e eu queríamos ver o Over Rock. Maikinho queria ir no baile. Cesinha queria ir ver o Over Rock, mas não queria deixar Maikinho sozinho no baile. Parei de falar no assunto e me conformei em ir ao baile havaiano mesmo. O mais importante para mim era estar entre amigos naquela noite que já era, de certa forma, especial.

O baile começou animado. Logo que entramos, fomos ao bar. Não bebemos nosso vinho habitual naquela noite e estávamos todos secos. Comprei a promoção de cerveja, que me rendeu 4 fichas. Dei 2 para o Che, que sabia estar meio sem grana esse mês por causa dos gastos com o John Móvel. Eu não estava muito bem para beber e Che tinha dito que não beberia muito, já que estava dirigindo. Cesinha e Maikinho estavam afim de enfiar mesmo o pé na jaca. Logo Leandro se juntou a nós. O show não havia começado e, por isso, fomos para a pista. O clube estava lotado de gente e fazia um certo frio lá fora.

Estava fazendo um grande esforço para me divertir, porque queria mesmo era estar no Over Rock. A essa altura, o show da banda Opus já tinha começado ao lado da piscina. Cesinha, Maikinho e Leandro tomaram vodka de frutas vermelhas e estavam visivelmente alterados. Quando eles ficam assim, perdem o pudor e aí já viu, ficam correndo atrás de rabo-de-saia, como tontas aleluias batendo a cabeça na lâmpada, andando pela balada de um lado pro outro. Minha cerveja acabou e chamei o Che para irmos ao bar. Comprei 4 fichas de cerveja e estava pensando em dar mais 2 pra ele, mas ele acabou comprando também uma dose de vodka. Na hora, deixei bem claro minha desaprovação. Não é por nada, mas ele era o único que estava dirigindo. Os outros todos não tinham esse compromisso naquela noite. Che entendeu o que estava dizendo e disse que a vodka não estava forte. O fato é que os outros 3 estavam bem bêbados com a mistura vodka e cerveja, e ali, o baile pra mim já tinha terminado. Quis ficar longe, disse pro Che que queria ficar sozinho e fiquei, um bom tempo, perto da academia, bebendo cerveja e fumando, fumando e bebendo cerveja. Depois, o encontrei e avisei que ia embora. Ele quis saber o porquê, Inventei uma desculpa qualquer, disse que não iria me despedir dos meninos para não ter que explicar nada. Che quis me acompanhar até lá fora, mas se ele saísse, não poderia mais entrar, então não deixei que fizesse isso.

No caminho, fui chutando lata. Peguei o colar havaiano de papel que entregaram na porta do baile e amassei bem forte na mão, depois joguei por aí. Na mesma rua do clube, na frente de um outro baile que acontecia mais acima, vi outro personagem desse blog que arrumou muita confusão e está meio sumido. Fiz com que não percebesse que algo havia acontecido e passei numa boa. Acho que não percebeu.

Essas noites causam uma ressaca terrível no dia seguinte, maior do que se tivesse bebido uma garrafa de vodka sozinho. Acordei com a história na cabeça e tentando entender o que tinha acontecido. Tinha vários motivos pra me irritar, pra ficar mal, mas nenhum se comparava com o que viria depois. Meus pais tinham ido para o sítio de alguns amigos. Estava só em casa. Minha mãe deixou uma pizza na geladeira para que eu assasse. Era melhor mesmo ter a casa vazia, assim não teria que explicar nada sobre minha cara horrível. Entrei no msn. Logo Che apareceu. Nos dias em que brigamos, sinto muita vontade de falar com ele depois, me acertar, dizer "ah, vamos deixar disso, você é meu chapa!", mas eu sou orgulhoso, e ele também, apesar de ser quem sempre vem puxar papo. Ele puxou papo naquela tarde, queria saber se estava tudo bem, se eu estava puto com ele, com alguma coisa. Eu disse que não, que estava tudo certo, e que nos falaríamos na terça-feira. Foi o que bastou para que uma longa e triste conversa começasse. Foi a maior e mais triste de todas. Dessa vez, nem eu previa o resultado dela. Não fomos estúpidos, não xingamos. O tom da conversa foi sóbrio, de certa forma, mas lentamente, o papo foi desenterrando um monte de histórias, de problemas que, se não foram resolvidos, estavam mortos e enterrados. Não tão mortos assim. Esses fantasmas voltaram naquela tarde pra assombrar e causaram um estrago terrível. Foram meses tentando lutar contra esses fantasmas, foi uma luta difícil, que envolvia muita gente e muitos detalhes. E agora, tudo estava sob a mesa, exposto, pronto pra levar a primeira mordida de quem quisesse se deliciar. Eu quebrei, rachei. Eu não tinha interesse nenhum de que isso acontecesse, até porque iria contra minha própria verdade sobre tudo. Mas aconteceu e a verdade era outra, mais dolorosa e cruel, e não aguentaria mesmo ficar sufocada mais tempo.

Che e eu nos falamos de novo a noite. Conversamos e ficou tudo bem. Ele não quis sair naquela noite, e eu não saí também. No dia seguinte, de manhã, comecei a me sentir mal. Estava com muita dor no corpo. A tarde, fui para o ensaio da peça na SAT. Foi o dia em que o Paulo levou a vitrola que irá compor o cenário. No ensaio, eu fiquei bem, não estava com dor, nem nada. Quando cheguei em casa, liguei para o Che. A essa altura, já estava com febre de novo. Pensei até em sair, mas daquele jeito não dava. Naquela noite, eu rolei na cama a madrugada inteira. De manhã, meus pais me levaram ao Pronto Socorro. O hemograma indicou que era uma infecção na garganta. Foi uma semana tomando antibiótico e mais 2 remédios por dia. Hoje, eu estou bem. Não tenho mais febre, nem dor no corpo. A garganta arranha um pouco ainda, mas é suportável. Por dentro, eu estou quebrado. Sabe aquela sensação de que você não tem mais controle de nada e entao você se sente anestesiado? Eu cansei, cansei mesmo, de tudo isso. E agora eu não tenho forças pra reagir. Me sinto vencido. Desde aquele domingo, eu nunca mais fui o mesmo. O que pensava ser bonito e cheio de glória em minha vida, virou um quadro negro, impossível de decifrar, e que apagou principalmente quem eu era e quem eu tentava ser. É, ninguém pode fugir da vida não, tentar tapar o sol com a peneira. Mais cedo ou mais tarde, a verdade volta e ainda mais violenta. Antes, eu sabia lidar com tudo, ter controle, o que não estou conseguindo agora. Mas tudo vai ficar bem, na hora certa.

Somos Todos do Jardim da Infância: Os anos 60

A década de 60 representou, no início, a realização de projetos culturais e ideológicos alternativos lançados na década de 50. Os anos 50 foram marcados por uma crise no moralismo rígido da sociedade, expressão remanescente do Sonho Americano que não conseguia mais empolgar a juventude do planeta. A segunda metade dos anos 50 já prenunciava os anos 60: a literatura beat de Jack Kerouac, o rock de garagem à margem dos grandes astros do rock (e que resultaria na surf music) e os movimentos de cinema e de teatro de vanguarda, inclusive no Brasil.

Podemos dizer que a década de 60, seguramente, não foi uma, foram duas décadas. A primeira, de 1960 a 1965, marcada por um sabor de inocência e até de lirismo nas manifestações sócio-culturais, e no âmbito da política, é evidente o idealismo e o entusiasmo no espírito de luta do povo. A segunda, de 1966 a 1968 (porque 1969 já apresenta o estado de espírito que definiria os anos 70), em um tom mais ácido, revela as experiências com drogas, a perda da inocência, a revolução sexual e os protestos juvenis contra a ameaça de endurecimento dos governos. É ilustrativo que os Beatles, banda que existiu durante toda a década de 60, tenha trocado as doces melodias de seus primeiros discos pela excentricidade psicodélica, incluindo orquestras, letras surreais e guitarras distorcidas. "I want to hold your hand" é o espírito da primeira metade dos anos 60. "A day in the life", o espírito da segunda metade.

Nesta época teve início uma grande revolução comportamental como o surgimento do feminismo e os movimentos civis em favor dos negros e homossexuais. O Papa João XXIII abre o Concílio Vaticano II e revoluciona a Igreja Católica. Surgem movimentos de comportamento como os hippies, com seus protestos contrários à Guerra Fria e à Guerra do Vietnã, e o racionalismo. Esse movimento foi também chamado de contracultura. Ocorre também a Revolução Cubana na América Latina,

levando Fidel Castro ao poder. Tem início também a descolonização da África e do Caribe, com a gradual independência das antigas colônias.

Em 1960, é inaugurada a cidade de Brasília, nova capital do país, pelo presidente Juscelino Kubitschek. Jânio Quadros sucede Juscelino e renuncia cerca de sete meses depois, sendo substituído pelo então vice-presidente João Goulart. Sob o pretexto das supostas tendências comunistas de Jango, ocorre o golpe militar de 1964, que depõe Goulart e institui uma ditadura militar que duraria 21 anos. No final da década, tem início o período conhecido como "Milagre Brasileiro". O Brasil torna-se bicampeão mundial de futebol, durante a Copa do Mundo FIFA de 1962, no Chile.

Tem início o uso da informática para fins comerciais, embora ainda não de forma massificada.

Em 1964 a IBM lança o circuito integrado, ou chip

Surge a Arpanet, que se tornaria o embrião da Internet

Os soviéticos enviam o primeiro homem ao espaço (Iuri Gagárin) em 1961.

Neil Armstrong é o primeiro homem a pisar na Lua, um americano em 1969.

Os soviéticos enviam um robô para a Lua (1966).

Também em 1969, uma sonda dos EUA alcançou Marte e, meses depois, a URSS descia um robô em Vênus.

Os Beatles comandam a Invasão Britânica, ou British Invasion, no rock, seguidos por The Rolling Stones, The Who, The Animals e vários outros.

Surge a música de protesto, com Bob Dylan, Joan Baez, Peter, Paul and Mary, entre outros, já nos primeiros anos da década.

O Rock and Roll ganha crescente popularidade no mundo, associando-se o final da década à rebeldia política.

No início da década o rock recebeu no Brasil o nome de iê-iê-iê, uma livre tradução do refrão da música She Loves You, dos Beatles: "She Loves You, Yeah, Yeah, Yeah!".

Na música erudita, começa a se desenvolver o minimalismo, a partir das obras de Philip Glass.

Em 1963 surge o Clube da Esquina, importante conjunto musical mineiro, com Milton Nascimento e os irmãos Borges.

Chega aos cinemas em 1964 o primeiro filme dos Beatles, A Hard Day's Night. No Brasil recebeu o nome Os Reis do Iê, Iê, Iê.

Em 1965 Elis Regina interpreta Arrastão, de Vinícius de Moraes e Edu Lobo, e com isso surge a MPB, ou Música Popular Brasileira, no Festival de Música Popular Brasileira da TV Record.

O programa Jovem Guarda estréia em 1965, apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. O programa de tevê acaba gerando o movimento com o mesmo nome, onde os jovens tiveram pela primeira vez um espaço, lhes permitindo uma identidade própria, pois foi a primeira vez que se era dedicada aos adolescentes uma parte do cenário cultural.

Em 1966, Chico Buarque se revela ao público brasileiro com a canção, "A Banda", interpretada por Nara Leão, durante o Festival de Música Popular Brasileira, transmitido pela TV Record (a canção empata em primeiro lugar com "Disparada" de Geraldo Vandré).

Surge o Movimento Tropicália, em 1967. Com Caetano Veloso e Gilberto Gil, além de Os mutantes, Tom Zé e Torquato Neto.

Em 1967 os Beatles lançam aquele que é considerado o melhor álbum da história: Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. O álbum se tornou um dos discos mais vendidos da história e tido como o mais influente.

Ainda em 1967, surge o primeiro festival de rock Monterey Pop Festival, ou Festival Pop de Monterey, na California. Organizado por Lou Adler, John Phillips (The Mamas & The Papas) e Derek Taylor o festival foi a estréia de The Jimi Hendrix Experience, com Jimi Hendrix; Big Brother and the Holding Company, com Janis Joplin e Otis Redding.

Em 1969 ocorre o Festival de Woodstock, nos EUA, com apresentações ao vivo de Jimi Hendrix, Creedence Clearwater Revival, The Who, Sly and Family Stone, Carlos Santana, entre outros lendários do rock clássico.

Começam as transmissões de TV em cores no mundo.

1965-A TV brasileira começa a utilizar a tecnologia do vídeo-tape, que permitiu a edição de programas televisivos, reduzindo o risco de erros, comuns nas exibições ao vivo.

1965-Inaugurada a Rede Globo, no Brasil.

A televisão passa a se tornar meio de comunicação em massa.

1967-1968 tornam-se os anos do auge dos festivais da canção, no Brasil, que eram uma forma alternativa de expressão político-ideológica da juventude, diante da repressão da ditadura militar.

A TV Record lança o programa musical, "Jovem Guarda" (1965-1968), apresentado por Roberto Carlos, com Erasmo Carlos e Wanderléia.

Em 1962 surge o melhor filme da década "What Ever Hapenned to Baby Jane?" com Bette Davis e Joan Crowford.

É filmado A Bout de Souffle (Acossado, título no Brasil), de Jean-Luc Godard, trazendo a bela Jean Seberg, atriz que se tornaria ícone de beleza da década.

O clássico La Dolce Vita (no Brasil A Doce Vida), de Federico Fellini, com Anouk Aimée, Anita Ekberg e Marcello Mastroianni.

O diretor Stanley Kubrick lança Dr. Strangelove (Doutor Fantástico), uma das maiores e mais duras críticas satíricas à Guerra Fria.

Brigitte Bardot reina absoluta como o maior símbolo sexual da década.

A atriz Audrey Hepburn estrela Breakfast at Tiffany's (no Brasil Bonequinha de Luxo). O figurino de Hepburn para o filme é do estilista francês Givenchy.

O filme brasileiro O Pagador de Promessas, adaptação do produtor, diretor e ator brasileiro Anselmo Duarte da peça homônima de Dias Gomes, recebe a Palma de Ouro do Festival Internacional do Filme de Cannes, na França. É a primeira vez que um filme brasileiro ganha o prêmio máximo do festival.

Surge a série de filmes de James Bond, o espião 007, das novelas de Ian Fleming. O primeiro é Dr. No , no Brasil 007 Contra o Satânico Dr. No, com Sean Connery e a sensual Ursula Andress. No filme, a célebre cena de Andress usando um inesquecível biquíni branco saindo do mar.

Blowup, de Michelangelo Antonioni, com Jane Birkin e Veruska é um filme cheio de referências dos anos 60.

Nesse ano também, ao som de Mrs Robinson, entre outros sucessos de Simon & Garfunkel, Dustin Hoffman vive um jovem universitário recém-formado que se inicia sexualmente com uma mulher mais velha, no clássico The Graduate, A Primeira Noite de um Homem no Brasil, de Mike Nichols.

A atriz Jane Fonda é Barbarella, a sensual heroína espacial do filme de homônimo de Roger Vadim.

Easy Rider (Sem Destino), é um dos filmes mais vigorosos dos anos 60, de Peter Fonda, Dennis Hopper e Terry Southern, estrelando os próprios, Fonda e Hopper, e Jack Nicholson. O filme critica a intolerância e a vulgaridade da sociedade americana.

Os jovens são influenciados pelas idéias de liberdade On The Road, livro do beatnik Jack Kerouac, da chamada geração beat, e começam a se opor à sociedade de consumo vigente.

"Somos Todos do Jardim da Infância" estreia dia 25 de novembro na SAT. Texto de Domingos de Oliveira, produção executiva de Paulo Rogério Rocco e direção de José Ono Junior. Venha viajar no tempo conosco...

No sol de quase dezembro

“Eu vi lá do alto, a cidadezinha toda iluminada. Estava silenciosa, imóvel e inspirava uma delicadeza que eu nunca tinha reparado antes. O vento cortava suas antenas e telhados. A torre da igreja, aquela da pracinha do final de semana, também se encontrava com o vento. Lá do alto, eu vi as avenidas vazias, sozinhas, tristes, e as casas, escondendo grandes segredos e dores numa grande solidão. Lá do alto, vendo a cidadezinha toda iluminada, eu tentei me encontrar no bucolismo desse cenário. Onde eu estou? Onde eu caibo? Onde cabem minha história, minha vida, meus desejos, sonhos, meus gritos de liberdade? Não, não cabem na cidadezinha, transbordam e escorrem pelas mãos. Eu tenho coração e mente ciganos, de andante. Eles nunca param o movimento assavalador. Tudo é sempre pouco. O novo fica velho bem rápido, a novidade envelhece. Eu tenho coração de andante e o que me consome é o tempo. Olhando a cidadezinha iluminada, lá de cima, eu quis voar pra bem longe, pra um lugar onde não houvesse nenhum pedaço de história minha perdida. E eu ia ficar lá, fincar o pé, espalhar minha arte, amar na contramão. E eu ficaria lá, até que a cidade parecesse me sufocar.”

Alguns dias se passaram desde que voltamos do festival de Varginha, e a história finalmente morreu. Quase não se fala mais nisso, não com aquela seriedade de antes. Hoje tudo é em tom de piada. Hoje é sábado de tempo meio estranho por aqui. Sol entre nuvens, entende-se muitas nuvens, nunca quer dizer nada. Eu me recupero de uma semana corrida, que passou voando e me esmagando. E o fato de que esse é um início de feriado prolongado é uma bênção. Ontem Che e eu saímos. Fomos no evento de encerramento dos Jogos da Primavera 2010, na Lex Luthor. Cheguei por lá um pouco depois das oito, jurando que estava atrasado. Quis matar a Lislaine quando me dei conta de que o evento ia começar uma hora depois. E a Lis nem apareceu, estava cansada. Ela está cheia de compromissos nos últimos dias. Prestou o ENEM na semana passada, está ensaiando para o Festival de Dança que irá participar no dia 11 de dezembro, e tem o vestibular que se aproxima também. Quase não a vimos nos últimos dias. Na biblioteca, ela apareceu só umas 2 vezes nessa semana. Bom, Che apareceu e fomos para o posto. Depois, voltamos para a Lex. Tenho sentido muita vontade de estar perto do Che nos últimos dias. No próximo mês, ele vai enfrentar uma cirurgia complicada no joelho e ficará de molho durante a recuperação. Ele não fala, mas sei que está preocupado, principalmente por ter que ficar em casa, sem poder sair durante algumas semanas. Nós amigos temos que apoiá-lo de alguma forma nesse momento. Nem estava afim de ir no baile hawaiano de hoje a noite, num clube aqui da cidade, mas como será o último antes da cirurgia dele, resolvi ir.

Ontem na Lex, quem foi coroada Rainha dos Jogos da Primavera 2010 foi a Belinha, aluna nossa do teatro, que está no elenco de “Somos Todos do Jardim da Infância”. Ela representou a Bandeira Azul e conseguiu vender mais votos. Em terceiro lugar, ficou a Carol, que também faz uma participação na nossa peça. Ela também ganhou o Troféu de Rainha que teve maior destaque na abertura dos Jogos, e representou a bandeira amarela. Depois das premiações, uma banda de pagode daqui de Tambaú se apresentou no palco da balada. Os caras mandam bem, mas como pagode não é nossa praia, Che e eu fomos embora. A noite ontem foi de vento cortante. Meus olhos lacrimejavam com a terra que entrava neles. Usar lente de contato às vezes é foda. Quando cheguei em casa, com os olhos emaconhados, a chuva não demorou a cair. A noite foi divertida. Che e eu conversamos bastante, principalmente sobre nossa adolescência, como nós eramos “loosers”. Bom, pelo menos não estudamos em escolas americanas, né. Eu disse pra ele que a gente melhorou muito, mas ele discordou. Na Lex ontem só tinha adolescente, e aí vem aquela hora de se sentir meio “tiozinho”. Sou muito novo ainda pra sentir isso hehe.

Che não é o único que vai entrar na faca nos próximos dias. Eu também vou me submeter a uma cirurgia, no mês que vem, não tão complicada como a dele, mas igualmente necessária. Fui numa consulta essa semana, uma consulta constrangedora, com aquele tipo de médico que você nunca quer visitar. Pois bem. Ah, não, não foi com o proctologista, ok? Foi menos pior, mas igualmente chato. Algo como “bota o bicho pra fora...” e “quando ele fica duro, dói?”, não é agradável de se ouvir, principalmente quando se está uma pilha de nervos. No dia seguinte, fiz os exames. Urinar no potinho de manhã é outra coisa chata. A gente nunca sabe a quantidade necessária de xixi. Exame de sangue é perturbador. A enfermeira disse: “eu vou tirar um pouco do dedo e depois da veia, certo?”. “Ah sim, certo”. E continuou: “você está morando aqui agora?”. “Sim, estou, voltei de São…”. Aaaaaaai! O dedo já tinha ido. E ela insistiu: “você está bem, está trabalhando?”. “Sim, estou trabalhando na biblioteca e no te...”. Aaaaaaaaaai! Foi a vez da veia! E foi mais assustador porque ela tirou uma seringa gigante de sangue. Por um momento, achei que tinha entrado na fila da doação. #tenso. Ah, os gritos foram só em pensamento. A única reação foi virar o rosto e fazer a expressão de quem chupa uma laranja azeda.

A semana no trabalho começou tranquila, sossegada, depois acabou parecendo um episódio de “Eu, a Patroa e as crianças”. Na quinta a tarde, uma pomba invadiu a biblioteca e instalou nas madeiras do telhado. Depois de um tempo, tentou sair e bancou a suicida ao se lançar em cheio no vidro em cima da porta de entrada. Começamos a nos importar quando a pomba, lá de cima, sujou a primeira mesa. Tinha pouca gente lá naquele dia, só alguns meninos usando a internet. Che e eu então pegamos umas pedrinhas e tentamos acertar na pomba, para que ela se assustasse e saísse. Demoramos muito pra acertar e algumas pedrinhas ficaram perdidas no meio das estantes. Che conseguiu acertar um tempo depois, mas o máximo que conseguiu foi que a pomba virasse as costas. Josi trouxe então uma bolinha de papel de jornal com uma pedrinha dentro. Impossível, não subiu nem metade do caminho. Tentou então uma tampinha de caneta amarrada na ponta de um rolo de barbante. Nem a deixamos tentar em vão hehe. Che jogou a caneta toda, com tampa e tudo. Acertou e a pomba nem se mexeu. Tentou de novo e nada. Tentou a terceira e acabou com a mão azul, quando a caneta estourou. Marcinha trouxe então o adaptador do aspirador de pó. Quase rachamos a mesa e a pomba continuava lá, sujando tudo. No dia seguinte, a maratona continuou. A biblioteca estava movimentada. Tinham os caras que estão instalando os ventiladores, e um deles, o Neto, tentou acertar a pomba também. Ele acertava pela esquerda, ela voava pra direita. Ele acertava pela direita, ela voava pra esquerda. Isso rolou umas 10 vezes, juro que fiquei tonto. Neto desistiu. Todos nós desistimos. No fim do dia, a pomba voou morta de fome pela porta, pousou na entrada e saiu andando. Minutos depois, Paulo chegou com alpiste e uma gaiola, no que seria uma tentativa de pegar a pomba. Mas chegou tarde demais hehe. Ah, teve também o menino que quis fazer um pic-nic e colocou uma garrafa de Fanta na mesa de estudos, tiveram também os problemas com a informatização. Nos demos conta de que não será nada fácil. Teremos que começar praticamente do zero a arrumação das estantes.

No teatro, a expectativa e o nervosismo são cada vez maiores. Faltam menos de 2 semanas para a estreia da peça. O vídeo que finaliza a peça ficou pronto, com imagens em preto e branco originais da época em que se passa a história, a década de 60. Os figurinos começaram a aparecer. As coreografias estão todas prontas, só faltam alguns ajustes. Troquei “Stupid Cupid” por “Rock Around The Clock”, e incluí “Can’t Take My Eyes Off Of You”, na versão apaixonante da banda Frankie Valli And The Four Seasons. A peça conta a história de 4 amigos que, no ano de 1963, vivem a complicada fase de formatura do colegial e vestibular, quando ainda tentam se dar bem com as garotas e fazem planos para o futuro, numa bonita história de amor e amizade. É a última fase, antes dos anos inocentes se tornarem rebeldes, quando o Brasil nunca mais foi o mesmo. A peça possui grandes momentos que irão emocionar e fazer rir a plateia. É uma história que encantará quem viveu ou não aquela época mágica. A estreia acontece no dia 25 de novembro, e as apresentações seguem pelos dias 26 e 27, na SAT. Tivemos ensaio quase todos os dias da semana, e alguns na APA, onde há um Centro de Convenções. Ensaiamos até na biblioteca uma noite dessas. Passamos e repassamos as coreografias muitas vezes, e isso me garantiu um incômodo terrível no rim. As pedrinhas saíram do lugar e reclamaram… Ah, e nessa semana, eu consegui fazer a proeza de queimar o rádio do Paulo, que usamos nos ensaios. Bom, se bem que foi ele quem ligou no 220 sem olhar, então, metade do estrago é culpa dele.

O ano está mesmo chegando ao fim. Já vi propaganda de Natal na tv, alguns papais-noéis pelas lojas da cidade. Minhas tias já montaram a árvore. Ufa! 2010 está indo embora, e a história desse riacho também está chegando ao fim. Mas ainda falta ver como tudo vai terminar… Eu só sei que não vai terminar como começou. A vida vai passando, nós vamos perdendo e ganhando o tempo todo. E algumas mudanças são inevitáveis. O ser humano tem que sempre esperar alguma coisa acontecer, ou alguém chegar, ou simplesmente ter um motivo externo que o faça querer continuar vivendo, acreditando, com esperança. Depois que consegue, arruma outro querer, depois outro e outro. Nessa semana, eu senti que o que me fazia bem no começo dessa história não é mais o que me mantém de pé. Nem aquilo que me fez perder esse “apoio” imaginário, existe mais. E aí eu fiquei sem nada, caçando novos motivos externos pra continuar acreditando. Quem sou eu pra tentar entender essas coisas sem explicação? A vida vai passando, modificando tudo e a sensação que eu tenho é só a de que tinha que ser assim mesmo. No domingo passado, eu liguei para Limeira e coloquei um ponto final na história que nem tinha começado direito. Não ia dar certo, já estava chato, maçante e insistente, murro em ponta de faca, sabe? Planejei fazer isso a semana toda, criei coragem e fiz. É difícil pra alguém que sempre reclama por estar sozinho tomar uma atitude dessa. Mas a gente tem que se proteger de futuras decepções, principalmente quando elas são evidentes. Depois disso, aquele fogo resistiu mais uns 2 dias, depois apagou de vez. E a história ficou pra trás. Fiquei de coração limpo, e essa falta de amor, me fez ver o porquê que essa breve história aconteceu.

No dia seguinte, um temporal estava chegando em Tambaú. Eu estava na internet, no bate-papo do Facebook. A chuva começou. Vi então que aquela antiga paixão, que se manteve acesa durante 5 anos, e que começou a apagar quando voltei para o interior, abrindo mão da vida em São Paulo, estava on line. Escrevo, ou não escrevo? Escrevo! Não, não escrevo! Ah, vou escrever! “Oi!”. Nessa hora, um trovão ensurdecedor ecoou no céu e pareceu que a luz do dia deu um pique. Desliguei o computador na mesma hora e não vi sequer se a minha mensagem teve resposta. Vai entender a vida… e seus sinais…

Todo mundo odeia...

... teatro de fantoches
A semana começou com muita expectativa. Na segunda de manhã, começaram os preparativos para o teatro de fantoches que ocorreu na biblioteca, em comemoração a Semana do Livro. Fatinha e eu fomos buscar o palco no Santuário, com a Catarina, o carro dela. Depois de tirarmos o palco pesado da igreja, ele não coube no carro. Nossa sorte foi que um caminhão da prefeitura estava por lá com os jardineiros, e eles ofereceram ajuda. Passamos a tarde toda ensaiando na cozinha da biblioteca, com a Carolzinha, o Wagner e o Caio, os atores da peça. Depois, Che e eu saímos mais cedo e fomos para a SAT, de John Móvel. A moto do Che estava com problemas em um dos pneus, que furou num dia desses em que ele ia para o trabalho, então ele estava com o carro. Paulo não pôde aparecer e ensaiamos sozinhos, sem cenário nem nada, só batendo o texto. Terça-feira foi dia de montar o outro cenário, na biblioteca. Fatinha e eu passamos o dia todo fazendo isso, esticando cortina, desmontando estante, encapando a casinha, instalando o som. Che também ajudou. Estava tudo pronto e chegava a hora do ensaio. Eu sei que saímos de lá umas seis e pouco da tarde, mas deixamos tudo pronto. A noite teve ensaio de "Somos todos do jardim de infância". Paramos de ensaiar a outra peça temporariamente, já que estrearemos o musical dos anos 60 antes, no final desse mês. A quarta-feira chegou e meia hora antes do previsto, a biblioteca já estava cheia de crianças para assistirem o teatro de fantoches. Cerca de 100 alunos das escolas de ensino fundamental compareceram na biblioteca no período da manhã acompanhados dos professores. A tarde, mais 150. Estava um calor terrível. Mas deu tudo certo. Todos saíram satisfeitos com o trabalho e mais uma vez a biblioteca apresentou um ótimo projeto. A história da peça foi adaptada por mim e pela Fatinha. O sapo Risonho se apaixona pela macaquinha Lindinha, e com a ajuda do amigo-jacaré Bacana, tenta conquistar sua amada com a brincadeira do bem-me-quer, mal-me-quer. A peça divertiu as crianças, que cantaram, dançaram, riram e treinaram matemática com os personagens.
Che chegou meia hora atrasado esse dia na biblioteca. John Móvel deu problema, quebrou o freio de mão quando ele saía do posto, depois de ter sido abastecido. Che desceu de bicicleta até a biblioteca numa carona oportuna do Alan.
Lis não apareceu na biblioteca esse dia. Ela mandou uma mensagem no meu celular. Sua avó havia falecido naquela madrugada. Ligamos pra ela ao sabermos do ocorrido.
A noite, mais uma vez, tivemos ensaio do musical dos anos 60. A peça está pronta.
Faltam alguns ajustes nas coreografias e na interpretação dos atores, mas confiamos e trabalharemos muito para que ela estréie da melhor maneira possível.
Quinta-feira de manhã, mais uma apresentação do teatro de fantoches, a última. Um pouco antes do almoço, Paulo apareceu na biblioteca com o jipe. Ele, Che e eu fomos levar o palco de volta ao Santuário. A essa hora, a ansiedade para a viagem no dia seguinte já começava a aparecer. A tarde parecia que ia ser tranquila na biblioteca, só não foi por causa de um dos computadores que explodiu, de repente, assustando a todos. A noite, Che, Lis e eu nos reunimos em casa para assistirmos o dvd do "Sexo dos Anjos", o que prometíamos fazer há tempos. Conversamos sobre a peça, sobre nossos personagens, nossa interpretação, empolgados com a viagem do dia seguinte.

... festivais de teatro
Acordei seis da manhã. Minha mala já estava pronta. Faltava só juntar o que ia levar na mochila. Óculos de sol, celular no bolso, fone de ouvido pendurado no pescoço, café tomado, all star no pé, e simbora pra casa do Paulo, nosso ponto de partida. A kombi chegou um pouco atrasada. Na hora de carregar o cenário, uma pergunta: sera que vai caber? Empurra daqui, empurra dali, aperta e volta e vira... Coube. Alguém teria que ir embaixo da escada, outro deitado, mas coube. Na frente, foram Lis, Carolzinha e o motorista. No banco de trás, Che e eu. No último banco, o Paulo. Pegamos a estrada na maior expectativa e todos pareciam estar com bom humor matinal. Depois de um tempo de viagem, meu celular começou a fazer a trilha sonora, ja que a kombi, cedida pela prefeitura, não tinha aparelhagem de som. Uma parada no posto para fazer xixi, tomar uma água. E pegamos a estrada de novo. Todos dormiram em determinados momentos da viagem. O tempo estava bom, com sol. Passando em Paraguaçu, percebi que o meu celular já marcava o ddd 35, de Minas Gerais, hehe. Logo depois, reconheci um hotel-pesqueiro que vimos da pista, um lugar onde meus pais e eu nos hospedamos em 2001, em férias.
Chegamos em Varginha por volta de meio dia. Da entrada se via alguns prédios, o que indicava que a cidade não era tão pequena assim, como a maioria das que vimos pelo caminho. O trânsito indicava isso também, era uma loucura. Che chegou a comentar algumas vezes que, se víssemos vacas andando pelas ruas, poderiamos confundir com o trânsito da Índia. Varginha possui o tal mito do ET, que o povo de lá jura que é verdade. O turismo na cidade se fez através dessa história, e desde então, Varginha se desenvolveu muito. No lugar da antiga prefeitura, construíram uma nave, um disco voador luminoso. Na praça, que virou Praça do ET, tem um ET gigante. Nas lojinhas de souvenirs, vende-se ETzinhos de resina, chaveirinhos de ETs, ETs com camisa de time de futebol, uma loucura inacreditável. Até num restaurante, existe um mascote na porta, que não poderia ser diferente, é um ET.
Encontramos o Colégio Marista Mestrinho, onde fica o teatro que aconteceu o festival. A primeira peça havia acabado de terminar. Vimos alguns atores saindo. Conhecemos
então o teatro, onde iriamos nos apresentar um dia depois. Um palco grande, com cortina vermelha, muitas engrenagens, aparatos de iluminação, cadeiras acolchoadas, ar condicionado, coxias grandes nas laterais... Um espaço perfeito que propiciou em mim um terrivel frio na barriga. Deixamos o cenário da peça em um dos camarins e fomos para o restaurante almoçar. O clima era ótimo, de descontração misturada com um nervosismo bem humorado. O almoço foi ótimo, com carne de churrasco e tudo.
Fomos então para o hotel, que era praticamente na mesma rua, mas bem longe dali. Num quarto, ficaram Lis e Carol. No outro, Che, Paulo e eu. Queríamos todos descansar da viagem. Nos deitamos e depois de uma passagem pelos 2000 canais da tv a cabo, conseguimos dormir um pouco. O motorista foi embora com a kombi e voltaria pra nos buscar no domingo de manhã, depois do festival. Então, quando acordamos, enfrentamos a primeira maratona até o teatro a pé, onde a segunda peça do festival ia começar.
A peça foi "A noiva do defunto", uma comédia circense do grupo de teatro Mensageiros da Arte, de Campinas. O espetáculo tinha música ao vivo e um elenco engraçadíssimo às voltas com uma história de mortos-vivos que queriam se casar. O cenário e os figurinos eram bem coloridos, e as piadas bem infantis, como devem ser os espetáculos de circo mesmo. Foi muito gostoso ver. Depois de tomarmos um café e eu repor meu estoque de cigarros, pelo fato da próxima peça ser só às 19 hs, voltamos para o hotel.
Duas peças, das 10 selecionadas para o festival, não foram apresentadas, porque os grupos tiveram problemas com transporte. A peça das 19 hs, só Paulo e Lis assistiram. Nós dormimos e perdemos a hora, então, Che, Carolzinha e eu tomamos banho e subimos depois para o teatro.
Era a hora do espetáculo "Navalha na Carne", famosa obra de Plínio Marcos, encenada pelo Grupo de Ninguém, de Campo Limpo Paulista. No cenário, um televisor, uma cadeira e algumas roupas espalhadas pelo chão. O figurino era simplório, sem muita cor. Mas a ação cênica foi delirante, maravilhosa. Muita porrada, muito tapa, muito palavrão, num drama urbano que nos escorregava na cadeira, assim como tem que ser as peças de Plínio Marcos. A atriz que fez Neusa Sueli, a prostituta, foi a que mais me agradou. Os momentos de humilhação que ela passa nas mãos do amante Vado tiveram uma perfeita combinação de emoção e revolta. A iluminação doía um pouco nos olhos. Era uma lâmpada que vinha do teto, bem fraca, que iluminava as cenas. No final, o público saiu num silêncio profundo, mortal até, e no rosto dos jurados, que a essa hora nós já tínhamos visto por lá, havia um sorriso de satisfação.
Recuperados do agressivo espetáculo, fomos comer uma pizza, num barzinho perto do teatro. Eu não estava muito bem, não estava animado, por alguns motivos que vocês saberão daqui a pouco. No telão, vimos Dilma e Serra no debate da Globo. Foi quando eu me lembrei de que domingo era dia de eleição. Você vai para outra cidade e esquece das coisas. Às vezes, dá a impressão que você está num mundo paralelo. Bom, fomos de meia calabresa, meia mussarela. A expectativa para o espetáculo da manhã seguinte era notável. A conversa não poderia ser outra senão teatro.
Comemos e voltamos para o hotel. Era quase meia-noite. As luzes se apagaram no nosso quarto. Paulo dormiu logo, Che também, ele que tem um sono pesado que eu nunca vi igual. Eu rolei, rolei na cama e nada. Não conseguia atingir nenhum estágio do sono, nem sequer o primário. De repente, vi Che levantar da cama e, depois de ir ao banheiro, sair apressadamente pela porta do quarto, fazendo um barulhão. Pensei na possibilidade dele estar passando mal e fui atrás. Não tinha ninguém nos corredores. Desci e fui encontrá-lo no andar de baixo, assustando-o. Ele tinha ido beber água, só isso. Disse então que não conseguia dormir. Nos sentamos numa salinha no meio do corredor, onde tinham uns sofás. Acendi um cigarro. Ficamos ali uns 15 minutos conversando por cochichos, e voltamos para o quarto. Paulo continuava dormindo como pedra. Eu passei a noite toda rolando na cama. A nossa peça não saía da minha cabeça. As falas se repetiam insistentemente. Penso que talvez tenha conseguido dormir umas 4 da manhã.
Às 7 e meia estávamos de pé. Tomamos café da manhã no hotel, arrumamos as coisas e fomos para o teatro. Chegando lá, o técnico de iluminação estava à espera. Paulo deu as coordenadas para ele, aumentou alguns focos, alguns efeitos. Enquanto isso, Che e eu passávamos o texto no palco. Estávamos muito felizes, uma tensão disfarçada de felicidade. Eram quase 11 hs quando fomos para o camarim e nos trocamos. Carolzinha fez nossa maquiagem com a ajuda de Lis. O mp3 do meu celular estava ligado e a música servia pra relaxarmos, o que podíamos relaxar.
Faltava pouco. Subimos até o palco e repassamos os focos. E descemos para fazer o aquecimento vocal e corporal. Sempre faço isso e logo depois uma oração particular, em silêncio, de mãos dadas com o Che. Mal terminamos nossa concentração e o segundo sinal tocou. Corremos até o palco que já estava no breu profundo. Demorei um pouco pra achar minha escada. Quando achei e me sentei, a peça começou.
Che e eu estávamos nervosos e eu conseguia perceber isso nele nitidamente. Esquecemos algumas palavras do texto, mas sem deixar que o público percebesse. Seguimos em frente. Em determinado momento, percebi um silêncio exagerado na plateia, que não reagia às ações dos personagens. Comecei a me preocupar e a perceber que a peça estava lenta, até um pouco arrastada. Bom, no final, os aplausos vieram. No camarim, disse para Che que a apresentação parecia que não tinha sido boa.
Era hora do debate com os jurados. Nos reunimos no fundo da plateia. Dois dos três jurados estavam presentes. Um deles parecia que tinha caido de
pára-quedas naquela hora, ali, no fundo do teatro, ou então que tivesse visto a porta aberta e entrado, assim, sem mais nem menos. Disse de maneira enrolada que não gostou disso, daquilo, e pronto! O outro merecia créditos. Ele quis saber a história do nosso grupo, quis saber de onde veio a ideia do projeto, perguntou se tínhamos DRT. Foi então que disse que Che e eu temos talento, que ele vê potencial em nós, que vê que somos bons atores, mas que a peça não o agradou. Ele achou monótona, a iluminação bucólica, e o jogo desinteressante, faltava ação dramática numa peça totalmente verborrágica. Disse também que faltava ousadia no nosso trabalho.
Existem muitas maneiras de se montar uma peça, principalmente uma peça com texto lúdico e com tantas quebras de contexto, como o do Flávio de Souza, que escreveu "Sexo dos Anjos". A maneira que o nosso grupo enxerga a peça é essa, numa montagem onde sugerimos para o público a monotonia daquela sala de espera no purgatório, fazendo um jogo que expande e volta para o lugar, para expandir no final e fazer a grande revelação. A maneira que os jurados fariam a peça é diferente da nossa, inevitavelmente. O nervosismo realmente atrapalhou e aquela apresentação perdeu sim um pouco o ritmo, mas nada que comprometesse o belíssimo figurino das marionetes e a iluminação bem distribuída.
Bom, saímos de lá sabendo que não tínhamos agradado, mas ainda felizes, afinal, é assim mesmo. Nosso interesse de ir até Varginha apresentar a peça era exatamente mostrar nosso trabalho, conhecer outros grupos, ver esses trabalhos, e lógico, se possível, trazer algum prêmio para o grupo, mas, naquela hora, todos sabiam que isso estava bem longe de acontecer.
Almoçamos e fomos para o hotel. Descansamos bastante daquela manhã que poderia ter sido mais fácil. À tarde, a chuva chegou na cidade. Carolzinha dormia no quarto das meninas e deu a deixa perfeita para Che sugerir a brincadeira da pasta dental. Sim, e a vítima foi a Carolzinha. Eu que executei o serviço, coitadinha! Lis disse depois que, quando Carolzinha percebeu a pasta no seu rosto, disse 100 palavrões em 20 segundos.
Por causa da chuva, não pudemos sair do hotel, afinal estávamos sem carro. Então, tomamos um banho e pegamos um táxi mais tarde até o teatro, onde assistimos a penúltima peça do festival, "Cor de chá", do grupo teatral Emílio Silveira, um monólogo escrito e encenado pela atriz Noemi Marinho, da cidade de Alfenas. Não chegamos a nenhuma conclusão, mas pra mim, até hoje, a peça possuía um texto auto-biográfico. Aqueles dramas da personagem, a solidão, eram dramas e conflitos da própria atriz, por isso, a emoção das cenas foi só dela, e não veio até a platéia. Dias depois, iríamos descobrir que Noemi Marinho tem um currículo invejável. Ela se formou na EAD, já foi roteirista do "Sai de Baixo" e da novela "Seus Olhos"do SBT, já ganhou prêmios importantes como o Shell, o APCA e o Apetesp. e tem até um livro na Coleção Aplauso com sua obra, com três peças que escreveu. O gozado é que mesmo assim, seu espetáculo "Cor de chá" não levou nenhum prêmio dessa vez, no Festival de Varginha.
Fomos comer um lanche no intervalo das peças e voltamos para o teatro, onde o início da última peça estava atrasado. Quase uma hora depois do horário previsto, a peça começou. "Gaiola - o caçador de solidão", da Companhia Távola de Teatro, era o espetáculo, um monólogo da cidade de Lauro de Freitas, na Bahia. O texto era meio cansativo, repetitivo, mas o cenário e a iluminação eram belíssimos, de encher os olhos. Folhas secas pelo chão, uma armação de espelho, em meio a correntes, caixas e mais caixas, uma em cima da outra... As marcações de cena davam o tom exato da emoção do personagem. Bonito de se ver!
Não demorou muito pra chegar a hora da premiação. A maioria dos grupos se reuniu na plateia, ansiosos. Nós estávamos lá também. Logo de cara, Paulo ganhou um Troféu de "Experiência Profissional". Mas dos prêmios conferidos aos grupos pelos espetáculos apresentados, não levamos nenhum. Esperava que a nossa peça ganhasse pelo menos um segundo ou terceiro lugar por figurino ou iluminação, mas nada. Ninguém gosta de perder, isso é fato. Che e eu queríamos que uma nave do ET de Varginha viesse e nos abduzisse dali naquela hora hehe. À medida que os prêmios eram anunciados, escorregávamos mais um pouco na cadeira. Penso que diminuí alguns centrímetros de altura nessa noite. Foi tenso, mas depois rimos de toda a situação. Todo mundo tentava fingir que estava tudo bem, numa forma de não acabarmos tão abruptamente com o nosso bom humor, e tentando mesmo acreditar que o importante é competir, já que estávamos entre os 10 espetáculos das 180 inscrições que o festival recebeu. O fato é que pra mim, tudo ficou mais fácil por ter passado por essa experiência ao lado do Che, meu grande amigo, que estava no mesmo barco que eu. Talvez se ele não estivesse ali comigo, tudo seria bem mais difícil.
No dia seguinte, arrumamos nossas coisas, esperamos o motorista chegar, carregamos a kombi com o cenário e pegamos a estrada de volta a Tambaú. Dessa vez, o silêncio foi maior durante a viagem. Che e eu fomos sentados um em cada ponta do banco, sem falar muito, mas os dois pensando exatamente a mesma coisa, em tudo que havia acontecido diferente do que a gente planejava dessa viagem, e da premiação. Acho que todo mundo pensava nisso.
Ah, esqueci de contar. No sábado a noite, antes de irmos embora do teatro, eu fumava do lado de fora. Che estava comigo. Um dos jurados passou, indo embora. Ele parou, apertou nossas mãos, e nos disse: "Juízo hein, e vê se emagrece..."

...feriados prolongados
Segunda-feira, o Brasil amanheceu diferente. Já tínhamos o novo presidente da República, ou melhor, a primeira presidenta do país. A noite anterior tinha sido animada. Quanto eu estava esperando pelo momento de sentar numa mesa no Mancha, ouvindo rock e tomando um vinho, vendo a vida passar sem graça. Tem dia que é bom não acontecer nada. Acordei cedo. Não iria trabalhar, a biblioteca estava fechada e isso era uma das coisas que me animavam. A outra era que, a qualquer momento, meu notebook ia chegar e eu ia poder novamente usar a internet, atualizar meu blog, ouvir minhas músicas... Almocei com meus pais, na mesa, coisa que há tempos não acontecia. Sempre almoço no trabalho e eles em casa, então nem nos vemos na hora do almoço. Logo depois, toca a campainha. Era o cara da loja de informática, com meu notebook na mão dizendo que não tinha boas notícias. Sim, meu note não estava funcionando, depois de um mês fora. Fiquei louco da vida, putíssimo, irado. Quando um ariano fica assim, sai de perto porque sobra pra todo mundo. Estava cheio de coisas pra fazer e iria continuar sem internet. Viver de lan house e de casa de parente não dava mais. Então, saí decidido a dar um jeito nisso e acabei comprando um note novo.
Encontrei o Che na praça a tarde. Eu estava resolvendo meu problema com o computador, e ele o problema do carro. O John Móvel teve a embreagem trocada e já podia rodar de novo. Tínhamos pensado em ir na cachaçaria, mas caiu nossos beiços quando a gente descobriu que homem pagava 40 reais pra entrar naquela noite open-bar. Desencanamos logo da idéia e a saidinha foi como sempre... Segunda-feira, o Mancha estava fechado. No posto, quase ninguém. A frente da cachaçaria estava lotada. Fomos então para a praça, depois de uma passada rápida no Geraldo pra tomar uma cerveja.
Estávamos Che, Marília, amiga dele e do Elton, o Elton, Maikinho e Cesinha, e mais duas ou três turminhas de amigos sentados na praça. É a hora que aparece sempre um bêbado pra encher o saco. Nessa noite, apareceram dois, e eu resolvi partir.
Na tarde do dia seguinte, teve ensaio da peça na SAT, uma droga de ensaio. Foi péssimo, muito ruim. Às vezes, dá pra desacreditar que a peça saia até dia 25 de novembro, data da estreia. Mas não podíamos esperar muito de um ensaio a tarde no feriado de Finados...
Saí de lá com a Lis e encontramos o Che na praça. Isso eram umas 6 e meia da tarde. Ficamos no posto até 8 da noite, conversando sobre esses últimos dias difíceis... E fomos embora porque no dia seguinte, a vida ia tentar voltar ao normal.
Na manhã desse feriado, tinha falado com o Che no msn. O fim da noite anterior não tinha sido boa pra ele, nem pro John Móvel, que chegou em casa com o pára-choque amassado, bem no meio, e mais uma vez vai precisar de um conserto. Um animal não identificado deve ter entrado na frente do carro e esse foi o ruído que Che e Cesinha escutaram quando passavam na avenida a noite, a caminho de casa. Até hoje Che não sabe explicar o que aconteceu, já que olhou pra trás na hora da tal batida, e não viu nada.

...telefonemas
Lis ligou e não atenderam. Che ligou, foi atendido e ouviu o que não queria. Eu liguei, fui atendido e disse o que não devia. Ou sei lá também se não devia. Ainda em Varginha, na tarde de sábado depois da fatídica apresentação da peça no festival, fiz uma cobrança, uma pergunta nada delicada sobre o que tinha ocorrido na noite seguinte, na balada que eu não tinha como estar presente. Acabei me estressando e meu caso amoroso dos últimos dias, que apresentava sinais de futuro e bons frutos, desmoronou. Voltamos a nos falar depois, ainda estamos nos falando. Eu pedi desculpas, expliquei a situação. Na verdade, houve uma incompatibilidade sobre o que estava rolando. Eu achei que era uma coisa, que já era quase sério, só faltava oficializar e que a fidelidade estava implícita nisso. Mas não estava. Não havia nenhum compromisso, e se houvesse, ele era bem liberal. Eu só sei que desde então, a relação esfriou um pouco. Não é mais a mesma coisa. Passou aquela empolgação, aquele frio na barriga gostoso, aquela ansiedade pra falar, pra nos vermos. A viagem pra Limeira no próximo final de semana, eu cancelei. Não tem mais clima, pelo menos pra mim. O outro encontro parece que continua de pé. Ah, a gente vai vendo o que rola, o que acontece. Nesse feriado prolongado, outra pessoa reapareceu depois de meses, aquela que eu fiquei em julho, que era paixão antiga! Mas sei lá. Depois de tudo que aconteceu esses dias, não fiquei com vontade de ver ninguém, de ficar com ninguém, de paparicar e cortejar ninguém. A solidão e a quietude foram muito bem-vindas, e voltar todo dia pra casa sozinho, e só deitar a cabeça no travesseiro e poder dormir pra ver se nascia um dia melhor, bastava pra mim.