Uma noite de Natal

"Era uma vez uma princesa chamada Isabela. Ela era uma dançarina das estrelas. Ia passar a vida dançando entre elas. E era abençoada, pois, podia voar de estrela em estrela. Mas também, Isabela era amaldiçoada, porque cada estrela que visitava, tinha que abandonar. Essa era a história, viver a eternidade dançando entre as estrelas, livre como um pássaro, mas sozinha. Isabela espalhava alegria para cada estrela que visitava, mas sempre partia."

Noite de Natal. Minha família toda reunida, feliz, com os braços cheios de pacotes; na mesa, os mais variados pratos, um bom vinho, a coca-cola que não pode faltar. No rosto de todos, ou de quase todos, um sorriso, de quem quer que a noite seja especial e abençoada. A época de Natal sempre foi mágica pra mim. Me lembro do meu pai sair mais cedo do trabalho, e dele ajudando minha mãe na cozinha, que sempre assa alguma carne pra ceia. Me lembro do cheiro dos temperos, do telefone que não parava de tocar, e da agitação da cidade. Tudo me empolgava, até os fogos de artifício que soltavam durante todo o dia. Me empolgava tanto que era como se caísse neve e eu visse tudo pela janela. Ouvia músicas de Natal enquanto esperava ansioso a chegada da minha família, que sempre teve a tradição de ir à missa antes da ceia. Quando chegavam, era muito barulho, e os cheiros se misturavam. Todo mundo vestido com a melhor roupa, alguns até estreando. Meus primos e eu correndo pela casa e aguardando a meia-noite chegar, afinal, Papai Noel poderia aparecer a qualquer hora.
Quando tinha uns 7 anos, enfiei na cabeça que ia vê-lo, e fiquei atento na árvore de Natal, que todo ano montava com minha mãe na sala. Ela era toda prateada e com bolas vermelhas. E no último galho, um anjo tocando uma flauta. Naquela noite, fui até a sala muitas vezes, e nada de presente. Até que, na última vez, corri e encontrei os pacotes debaixo da árvore. Olhei para a porta e vi uma sombra, de alguém que acabara de sair. Corri até a porta e não vi ninguém, só uma estrela que piscou pra mim. E eu jurei durante muito tempo que aquela estrela era o bom velhinho indo embora. Depois, foram mais alguns anos que passei a noite de Natal olhando pro céu, esperando ver o trenó passar.
O clima natalino toma conta de todos. Na última segunda-feira, Lislaine, Marcinha e eu chegamos para abrir a biblioteca, e levamos um susto ao encontrar pacotes embrulhados por todo lado. Cada um tinha um cartão na frente, com os nossos nomes. Eram os panetones que o Paulo nos presenteou, com um bonito cartão da Quintal das Artes. Josi e Fatinha trabalharam na terça-
-feira. Fizemos um revezamento. Sexta-feira da semana passada, foi o último dia que as vi esse ano. Nos cumprimentamos e desejamos boas festas, depois de lancharmos na cozinha da biblioteca.
Lislaine me acompanhou nos últimos dias na compra dos presentes que faltavam. Fomos também visitar o Che, na terça-feira. Ele tinha ido ao médico naquele dia e não estava mais com a perna toda imoblizada. Foram 5 dias com a perna toda enfaixada. A cirurgia aconteceu mesmo naquela quinta-feira, e foi muito bem sucedida. Falei com a mãe dele na quinta a tarde, e ela deu a notícia de que estava tudo bem. Na sexta, Che já estava em casa. Agora, ele está andando com o auxílio de muletas, e ainda não pode dobrar a perna, tendo que ficar o tempo todo com ela esticada. Na próxima semana. voltará ao médico para tirar os pontos e depois, iniciará a fisioterapia. Ele não sente dor e a única coisa que realmente o incomoda, é ter que ficar em casa, de molho. Voltei para visitá-lo também na quinta-feira. Passei a tarde toda por lá. Temos assistido a uns filmes, e ouvido umas músicas também. Em breve, tudo voltará ao normal.
Nesse ano, mais uma vez aconteceu o tradicional amigo secreto em família. Pra mim, é a hora mais divertida da noite. Damos muitas risadas, tiramos fotos, e esperamos ansiosos a abertura de cada presente. Presenteei minha tia Vera, assim como no ano retrasado. Além de uma caixa cheia de souvenirs, que comprei de palhaçada, dei uma coletânea dos Beatles. E ganhei, da minha
prima Thalita, uma camiseta do Queen. Presentes entregues, todo mundo satisfeito, e chegou a hora da oração. Nos demos as mãos, agradecemos pela união naquela noite, por estarmos todos juntos mais um ano, e rezamos. Meia-noite, é Natal! Nasceu o menino Jesus, em nossos corações. E dá-lhe champanhe, vinho, comidas que só aparecem no Natal, e todo mundo conversando ao mesmo tempo. Mandei mensagens de texto para a Lis, para o Alan, e falei com o Che no celular. Ele estava na casa dele, com a família.
A festa acabou às 3 da manhã, com todo mundo caindo de sono. E no dia seguinte, na hora do almoço, tinha mais confraternização. O almoço de Natal foi em casa. Me senti muito feliz por ter meus pais, minha família, que tem problemas como qualquer outra, mas que não trocaria por nada desse mundo. Deus me abençoou muito quando me colocou no caminho de todos eles...
Eu sou o sobrinho mais moleque, então sobra pra mim a diversão da criançada na piscina. É um tal de fazer touro mecânico, de levar de cavalinho, de nadar junto... A criançada não me dá folga, e isso me rende boas dores musculares depois... Tia que não entra na piscina também se molha. Eu saio da água e corro pra abraçar, sento no colo. É um barato!
Nesse Natal, pensei em tanta gente, em tanta coisa, e mandei a todos muita energia positiva, de amor e de paz. Faltou só um ritual, que cumpri durante 5 anos, ligar para uma pessoa que sempre foi muito especial, mas que esse ano se afastou de mim. Enviei um e-mail de boas festas.
Não esperava resposta, mas ela veio, no dia seguinte. Isso não significa nada. Continuamos distantes, cada vez mais. Cada um seguiu seu caminho da maneira que pôde, mas saber que o respeito e a consideração ainda continuaram vivos, já foi especial. Eu perdi e perdi muito pelo caminho que esse riacho percorreu esse ano. Perdi a noção de prioridades. Perdi a pessoa mais especial que já cruzou meu caminho, dei valor a quem não merecia, a quem nunca me mereceu. Ah, se eu pudesse voltar atrás, acender a chama. Se tivesse pedido desculpas na hora certa, se tivesse aberto meus olhos antes... Podia ter pego o primeiro ônibus pra São Paulo e ter tentado resolver as coisas a tempo. Cogitei durante dias a hipótese de aparecer, de surpresa, na época em que nos separamos. Pensei em abrir meu coração, em pedir perdão. Mas não. Imbecil que fui! A vida é tão engraçada que não me poupa de me mostrar todo dia o quanto que fui equivocado. Nos últimos dias, pensei numa maneira de resolver tudo, de parar de errar, de fazer algo bom por mim mesmo, mas me preocupei também em não ser injusto com ninguém, nem precipitado. O dia de Natal me mostrou o caminho a seguir, e eu vou levar como presente, pra vida que segue, pro tempo que não pára. O mais importante ainda pode ser resgatado, eu mesmo. E é só isso que deve importar agora.

2 comentários:

Amar sem sofrer na Adolescência disse...

Adorei o post e as lembranças tão vivas e agora compartilhadas. O Natal é sempre propício a sentimentos assim.
Aproveito para antecipar os meus votos de um Ano Novo repleto de realizações, alegrias e lindos posts como este. Obrigada por compartilhar.
Feliz 2011
Saúde e paz
bjs

Vânia disse...

fiquei admirada com o toque que voce tem ao escrever seus post,uma naturalidade incrivel!adorei mesmo,grande beijo