O meu quintal

A primavera chegou e trouxe a chuva com ela. A noite de quinta-feira foi chuvosa, e de folga. O ensaio de teatro foi uma noite antes. Aliás, correu tudo bem. Avançamos alguns passos. Meu bloqueio criativo dá sinais de desaparecimento. Os últimos dias tinham sido bem tensos,
complicados e demorados, aqueles dias que você não tem vontade de sair da cama e não quer ver a cara de ninguém, dias de ressaca moral, de arrependimento de ter dito o que não devia e pra quem menos deveria ouvir. Por isso, prometi pra mim mesmo que o final de semana seria bom. Antes dele começar, na sexta a tarde, Che e eu demos uma escapada da biblioteca, debaixo de chuva, e fomos visitar a feira do Meio Ambiente, no Salão Paroquial, promovida pelo Setor de Educação juntamente com as escolas municipais daqui de Tambaú. Exposições de reciclagem, historinhas de conscientização ambiental e teatrinho com as crianças! Na biblioteca, a frequência foi pequena. Dia de chuva é assim mesmo. Saí de lá às 5 com uma garoa e um sorriso no rosto porque a semana tinha acabado.
Saí a noite mais cedo do que de costume. Combinei de ir com a turma na abertura dos Jogos da Primavera, que é tradição aqui na cidade. Os alunos da escola Padre Donizetti, uma das mais antigas e importantes de Tambaú, são divididos em bandeiras, nas cores branca, azul, amarela e verde, e participam de campeonatos de várias modalidades de esporte. Passei quase toda minha vida na escola Padre Donizetti. Estudei lá desde o pré até a oitava série. Participei de muitos Jogos da Primavera. Na maioria, fui das bandeiras azul e verde, as que eu mais gostava. Jogar mesmo que é bom, nada. Só fiquei na torcida. Era uma semana que não tínhamos aula. A Lis nesse ano, está na bandeira branca. Ela estava lá no Ginásio de Esportes sexta-feira, representando a bandeira. Muitos alunos do teatro que estudam no Padre Donizetti, também compareceram. Ane e Isabelle são candidatas a Rainha dos Jogos da Primavera, premiação que ocorre na próxima semana. Carol e Caio são capitães da bandeira amarela. Bom, Che foi comigo na abertura. Nos encontramos na porta. A chuva continuava, mansa. Uma das minhas promessas para o final de semana era exatamente consertar o que não estava certo na minha relação com os meus amigos, arrumar o que estava estremecido. Era certo que eu não iria conseguir nada sozinho, sem a ajuda e a boa vontade deles se acertarem comigo também. Saímos do evento, Che, Lis e eu, debaixo de chuva, e sem muito destino. Passamos na praça, pensamos em ir no Deoclides, mas a chuva atrapalhava os planos. Mais cedo, quando ia para o ginásio, eu encontrei o Alan na frente do Santuário, onde ele trabalhava na quermesse. Nos falamos cordialmente e combinamos de nos falarmos mais tarde. Na falta de lugar pra irmos, decidimos ir na quermesse. Che não se animou muito, mas foi com a gente. Chegando quase lá, encontramos Éder que se juntou a nós. Na quermesse quase vazia, a pedida foi um pastel e uma cerveja. Pastel de quermesse só não é melhor que o pastel do japonês, da lanchonete da Paulista, onde comia todo domingo de manhã. Era sempre pastel de calabresa, e depois um quibe. Para beber, coca-cola. A noite estava agradável. Sentia que o clima estava bom entre nós. Eu precisava recuperar aquilo que era nítido que tínhamos perdido nos últimos dias, a agradabilidade e a fluência de estarmos juntos. Tudo corria bem até Alan se juntar a mesa conosco, e a velha rusga que existe no relacionamento dele com Éder, aparecer. Sim, Alan falou demais e acabou respingando em mim. Me senti um grande idiota, por estar ali, por ter ficado feliz de termos nos juntado a ele essa noite. E ele é assim, quando a bomba estoura, ele sai fora, pra depois aparecer com cara de cachorro sem dono como se nada tivesse acontecido. Dito e feito, ele saiu para tirar as toalhas das mesas, na quermesse que já estava no fim. E foi o fim pra nós também, que fomos rumo a praça. Ah, eu sou um cara que não frequenta missas, que bebe todo final de semana, que fuma compulsivamente, que tem ataques exagerados e comete sincericídios, sou ciumento, grudento, tenho amores impossíveis, platônicos, mal-resolvidos, mal-acabados e a distância, e sofro por cada um deles, falo palavrão, ah e o inferno me espera. Bla bla bla... Che tentou conversar comigo sobre o ocorrido, mas eu evitei, sei lá porque, talvez porque não queria estragar o clima que, pelo menos entre nós, estava bom, conversando sobre um assunto difícil e sem muitas respostas, que é a forma como o Alan trata todos nós. O fim da noite meio silenciosa foi no Mancha, de frente pra praça que, a essa hora, estava deserta.
No sábado, minha família se reuniu no casamento de minha prima, Andresa. Ela é filha de um tio meu, irmão da minha mãe, já falecido. Meus tios, meus primos, até os de Campinas, todos reunidos. O casamento foi na Igreja Santo Antonio que, pra mim, é a mais bonita da cidade. Minha prima sempre foi muito bonita, doce, carinhosa, inteligente, e, na minha infância, fui muito apegado a ela e ao irmão dela, Juninho, que é meu padrinho. A emoção tomou conta de todos quando ela, de braços dados com o irmão, entrou na igreja. Me lembrei muito de meu tio Odair. Sempre gostei muito dele também. Era o tio mais animado, que mais promovia churrasco, que me levou pela primeira vez pra ver o mar. Minha mãe conta que meu tio adorava bagunçar comigo quando eu era bem pequeno, que uma vez, saiu escondido comigo da casa da minha avó e me levou ao barbeiro, e pediu que ele raspasse a minha cabeça. Chamava-o de Tio Dail hehe. Quando tinha festa na casa dele, brincava com meus primos no parquinho das Pitas, jogava vôlei, brincava na areia. Tive uma infância muito bonita na companhia deles. Nos reuníamos todo final de semana na casa de minha avó materna, a vó Maria. Saudades imensas dela, que nos deixou quando eu tinha 7 anos. Lembro dos cafés da tarde que tomava na casa dela. Tinha sempre, sempre, leite com café e pãozinho quente com manteiga. Molhava o pão no leite, ficava uma delícia. Até hoje quando faço isso, é impossível não me lembrar dela. Nos fundos da casa dos meus avós, tinha uma cerâmica, onde meu avô trabalhou a vida toda. Nosso quintal da infância era imenso. Tinha horta, jardim, muito morro pra subir, muita madeira pra inventar brinquedo, muito formigueiro, muito espaço pra deixar a imaginação correr solta. Lembro da gente saindo pra se esconder perto do forno, quando fazia algo de errado. Era perfeito pra brincar de esconde-esconde. O quintal pegava o quarteirão inteiro. Meus primos eram todos mais velhos que eu, 3,4 anos. Eles aproveitaram muito mais. Quando eu ainda queria brincar, eles já estavam pensando nas namoradinhas. Mas o tempo que aproveitei foi bom. Foram muitos natais lá, muitos aniversários. Era pequeno nessa época, lembro de pouca coisa, mas as fotos me remetem a muitos momentos. Lembro claramente da semana que minha avó faleceu. Não entendia muito bem o que acontecia, mas minha mãe estava em Ribeirão cuidando dela. Eu fiquei com as minhas tias e meus primos nessa semana, na casa da minha avó. Saía da escola e ia pra lá. Foi uma semana que passamos muita coisa juntos, Acho que nós no fundo, sabíamos que nunca mais iriamos ver a vó Maria. Depois, meu avô e minha tia Rita, a filha caçula que ainda morava com eles, se mudaram. Ela não teve tempo de estrear
a casa nova. Lembro que senti muito nessa época, quando pensava que nunca mais iria ver nosso quintal. Poderia até voltar a vê-lo, mas aí não seria mais nosso. Os natais e aniversários passaram a ser na minha casa. Era doloroso pra todos, e minha família demorou bastante tempo para se recuperar. Mas a minha infância continuou. Lembro de uma época em que a nossa mania, minha e a dos meus primos, era brincar com saquinho de pano com feijão. Lembro também da Aline brincando comigo de apresentadores de programa de fim de ano, e dos nossos arranca-rabos fenomenais que aconteciam no final das festas, da minha farra com a Andresa e o Juninho na praia, da paixão do Nivaldinho pelo Palmeiras. do Ricardo e do Rodrigo, meus primos gêmeos de Campinas que me levavam pra comer cachorro-quente gigante e depois pra passear no EXTRA de madrugada, da Fernanda gravando as trilhas de novela dela pra mim em fita k7, da Thalita, que chorava pra eu brincar com ela, e quando eu ia brincar, não deixava eu pôr as mãos nos brinquedos, todos eles fizeram parte lindamente da fase que tenho mais saudade de minha vida, quando ela parecia uma caixa de lápis de cor, e era só colorir. Hoje, passo na frente da casa onde meus avós moravam e as lembranças são inevitáveis. Outros moradores estão lá, a casa foi reformada, mas imagino o quintal igualzinho como era antes, e por isso, pra não mudar nada em minha memória, que não me atreveria a entrar lá hoje.
O casamento me trouxe todas essas lembranças. Fiquei muito emocionado e feliz
pela Andresa, a quem desejo muitas felicidades. Depois da igreja, o encontro familiar continuou na festa, que aconteceu em Santa Cruz das Palmeiras, cidade do Leandro, o noivo. Bebidinhas, comidinhas, e corta gravata, e joga o buquê. Estávamos todos muito felizes. Quando deu 1 e 15 da manhã, meus pais e eu fomos embora. Tinha combinado de ir na Lex Luthor, com o Che e o Maikinho. Sábado teve show do Armandinho. Cheguei em Tambaú, liguei para o Che, como tínhamos combinado, e ele foi me encontrar. Eles já estavam lá, e o show ainda não havia começado. Estavam também Éder e Neno. A noite foi divertidíssima. Rimos, brincamos, jogamos futebol com latinha de cerveja. Estava tudo certo, todo mundo se entendendo e sem nada pra atrapalhar,
pra quebrar o vínculo. Uma hora e meia de show que mal vi passar. Não conheço muita coisa do Armandinho e estava mais feliz por estar ali, com meus amigos, depois de uma noite também especial com a minha família. Bebi até além da conta mas estava muito feliz. Na hora de ir embora, no meu celular, tocava rock. Éder e eu subíamos quando, num momento de extrema animação e felicidade, comecei a dançar. Dancei muito na rua debaixo da minha casa, no chão
molhado. "Highway to hell", "You shook me all night long", "Satisfaction", essas músicas fizeram a trilha do fim de noite. Ajoelhei no chão e fiz guitarra na coxa, pulei, vibrei. Naquele momento, eu amei a vida, amei estar vivo, amei ser quem sou e ter o que tenho. Quis muito que a Lis e o Che estivessem comigo ali, naquele momento, curtindo essa onda. A farra acabou quando, na esquina da minha casa, vi uma luz vermelha refletida na parede, piscando. Era uma viatura da polícia. Pra não nos metermos em encrenca, ficamos de boa. Não importa se um dia eu for parar no inferno, dane-se. O fato é que faço o melhor possível para ser bom para as pessoas que merecem, para andar na linha segundo aquilo que Deus, meus pais, e a minha própria vida, me ensinaram. A gente não está aqui a passeio, tem que viver, aproveitar, fazer o que tem vontade, ser feliz, curtir as fossas também, de verdade. Não dá pra passar tudo em branco. Eu vou andar por toda a minha vida atrás do sol, como um pássaro gigante, grande, da cor do
mar. Isso é de alguma música bem antiga, mas cabe aqui agora. Isso já é algum tipo de salvação.
Domingo, ainda chovia. O almoço foi em família na casa de minha tia, com o pessoal de Campinas. Divertido! Depois em casa, falei com o Che e combinamos a saída da noite. Foi legal! Lis apareceu, não a vi no sábado. Éder e Maikinho também apareceram. Algumas reações ameaçaram a paz, algo não estava bem, mas como o mal parecia ter sido cortado pela raiz, achei que estava tudo bem. A noite no Mancha terminou ao som de "Como nossos pais", com Elis, e "Exagerado", do Cazuza, a música que definitivamente me define, explica meu ser. Jogado aos seus pés, com mil rosas roubadas, exagerado, Eu adoro um amor inventado. Nos despedimos. Tudo parecia ter sido perfeito. Rimos, nos divertimos, estava tudo pronto para eu enfrentar a semana numa boa, começar a segunda-feira com o pé direito e continuar o fluxo de boas vibrações. Mas, infelizmente, não foi bem assim que tudo aconteceu depois.

Jogos mortais

Hoje é quarta-feira. A semana está na metade e, pra mim, é como se tivessem passado duas. Estamos no fim de setembro e as responsabilidades vão aumentando, responsabilidades no meu trabalho, e a de fazer por onde para chegar no fim do ano e dizer que 2010 foi um ano bom, responsabilidade de viver lances que valham a pena e que mereçam ser lembrados. Quase não tenho tido tempo livre. Quando tenho, é escrevendo, dormindo ou com os amigos arranjando mais problemas para o caos que a minha vida às vezes se transforma. A Quintal das Artes está produzindo 2 peças, onde Paulo e eu estamos trabalhando juntos. "Casa de Brinquedos" vem funcionando. Penso nas coreografias e, quase que instintivamente, elas surgem, brotam. Tenho uma certa familiaridade com a peça. Foi o primeiro espetáculo que participei, em 1998, quando tinha 13 anos e entrei para a Escola Municipal de Teatro, que era dirigida pelo Paulo. O trabalho flui na "Casa de Brinquedos". A outra peça, "Somos Todos do Jardim da Infância", vem me tirando o sono. Tenho bloqueios criativos. Meu cérebro pifa. Eu penso, penso e não sai nada. Uma hora passa. Tudo volta ao normal e as ideias aparecem. Já passei por isso outras vezes, sempre que alguma responsabilidade muito grande caiu no meu colo. Esses bloqueios não têm data marcada para irem embora, e a espera pela partida deles é angustiante. Hoje então, tudo está mais evidente. Foi marcado excepcionalmente ensaio, já que, quinta-feira, nosso espaço físico, a SAT, estará ocupado. Não sei como será a noite de hoje. Bom, a de ontem, tinha tudo pra não dar em nada, mas acabou em dor de cabeça.
O ensaio da "Casa de Brinquedos" foi produtivo. Uma nova coreografia foi ensaiada, e os meninos se apresentaram cantando "Aquarela", do Toquinho, num número musical que provavelmente entrará no espetáculo. Depois do ensaio, o destino foi o posto. Lis, Alan, Che e eu, subimos. Lá encontramos o Neno e a Edna, irmã dele, que é um amor de pessoa. Éder apareceu de moto por lá, tinha acabado de sair do trabalho. Leandro e Joãozinho, que completou 30 anos nessa semana, apareceram também. Paguei um pau pra camisa dos Stones que o João estava usando. Primeira atividade da noite foi um inocente jogo de UNO, como sempre fazemos. Mais cedo, na manhã desse mesmo dia, Alan apareceu na biblioteca. Che não estava porque foi fazer uns exames. Papo vai, papo vem, no meio dos certificados do Projeto Agosto Folclórico que estava imprimindo para as escolas, Alan iniciou um DR comigo. Sim, ele estava chateado porque, segundo ele, nossa amizade não é mais a mesma. Disse que não me importo com ele, que não faço questão da sua presença, que não converso com ele para saber dos seus problemas. Ele é ariano como eu e, desse assunto, eu entendo muito bem. Não acredito em horóscopo de jornal, de revista. Acredito nos signos e no quanto que a lua interfere nosso estado de espírito e comportamento. Quem nunca se sentiu diferente e/ou viveu uma situação atípica numa noite de lua cheia? "Vamos cantar o blues da piedade pra quem não muda quando é lua cheia". O fato é que muita água passou nesse riacho antes dessas histórias melancólicas e sem sentido que vocês acompanham aqui, meus queridos. Já falei aqui de quando conheci o Alan e o Che. Éramos inseparáveis, fazíamos tudo juntos, saíamos todos os dias. Foram madrugadas e madrugadas na rua falando sobre o tudo e não dizendo nada. Mas a vida não ia se resumir só a isso pra sempre. O tempo vai passando, outras pessoas vão cruzando nosso caminho. Nossa visão e a forma de encarar as relações vai mudando. Gosto muito do Alan, sinto sua falta quando saímos e ele não aparece. Nunca esqueci o quanto que ele e o Che me ajudaram num dos momentos mais difíceis que já vivi, que foi meu retorno para Tambaú. Sempre fui um pouco cruel com ele. Acho que sou um pouco cruel com todos os meus amigos. Essa crueldade nada mais é que a minha completa sinceridade com eles. Amigo serve pra isso mesmo, pra abrir nossos olhos, pra compartilhar alegrias e tristezas, e dúvidas. O Alan nunca entendeu isso e me vê como um cara de gênio forte e difícil. Nós somos muito parecidos. Enfrentamos dificuldades parecidas na infância, somos observadores e adoramos dar tapa com luva de pelica, numa forma de carinho e preocupação.
Bom, ontem a noite, ele me disse que pensou em tudo que conversamos na biblioteca e que viu que tenho razão. Tudo está bem. Nada me tira da cabeça que isso foi coisa do Che, que hoje negou tudo, mas enfim. Depois do UNO, com a quantidade boa de pessoas reunidas, eles resolveram jogar "Ladrão e cidadão". Sempre tivemos problemas com esse jogo. Tivemos brigas feias em outras épocas por causa dele. Lislaine sempre tentou apaziguar as situações. Ontem, nessa hora, ela já tinha ido embora. É um jogo onde se usa o poder de persuasão, grandes blefes e o próprio argumento verdadeiro. Alan, Che e eu sempre levamos o jogo muito a sério. Eles podem até dizer que não, mas, pra nós, ganhar "Ladrão e cidadão" um do outro, virou uma questão de honra. Alan e eu somos bons na persuasão e usamos também um tanto de teatro nas nossas argumentações. Che já abusa da malandragem e das caras e bocas.
Começamos o jogo. Cinco cidadãos e três ladrões na jogada! O primeiro a sair foi o Neno: cidadão! A segunda vítima votada pela maioria, Leandro: cidadão! Eram 3 ladrões contra 3 cidadãos agora. Nessa hora, minha desconfiança era do Che, por causa da mudança repentina de voto e pelos olhares sacanas. Já tinha desconfiado também da Edna e do Éder, que lançavam sorrisinhos sarcásticos. O Joãozinho, eu tinha certeza que não era ladrão. A maioria foi no Che: BINGO! Achamos o primeiro ladrão. Para os cidadãos ganharem, faltava achar um ladrão, mas aí já estava meio óbvio. Che e Alan não votaram um no outro nenhuma vez. Eu, Edna e Éder fomos no Alan. GAME OVER! Achamos o segundo ladrão. E ele matou o jogo entregando o terceiro, pasmem, Joãozinho. Aí foi só alegria. Vibrei, comemorei muito, fiquei hiper feliz. Parecia final de Copa do Mundo. Ganhar do Alan e do Che nesse jogo, como dois ladrões na jogada, é motivo de comemoração mesmo. Os caras são feras nesse jogo e, sempre que puderam, se uniram contra mim na hora da argumentação. Ah, comemorei mesmo, como eles já fizeram várias vezes quando se saíram bem no final de outras rodadas em outros tempos. O Che não gostou muito. Quando ele se irrita, sai dizendo coisas sem pensar, e não consegue separar o que é sério e o que é brincadeira. Poxa, eu convivo com ele há bastante tempo, e hoje, durante boa parte do dia. Então, acho que sei diferenciar quando está tudo bem e quando há algo estranho acontecendo. Somos muito próximos e algumas atitudes ganham uma proporção enorme, pro bem ou pro mal. Temos sorte com o fato de que tudo se resolve logo. A gente conversa e se acerta. A amizade e o respeito falam sempre mais alto, mas segurar a onda desses altos e baixos é sempre muito difícil. Não podemos prever o tamanho do conflito antes dele acontecer, e o tamanho da rachadura que ele vai causar.
Nosso final de semana foi divertido. No sábado a noite, Che, Lis e eu fomos para um sítio, onde toda família do meu pai se reuniu para comemorar o aniversário de uma prima minha, a Naiara. Revi muita gente que há muito tempo não via. Foram com esses primos que, na minha infância, eu rolei na terra, brinquei no barro, pulei fogueira, cacei vagalume, andei a cavalo, bebi leite da vaca tirado na hora, com o copo cheio de achocolatado e açúcar. Foi com eles que fui mais moleque. Alguns eu nem lembro mais o nome, eram tantos, mas foi nostálgico. A Lis, o Che e eu dormimos lá. Três da manhã, quando todos os convidados que não iam dormir lá, já tinham ido embora, ficamos sentados numa mesa, debaixo de sereno, ao som de rock no celular. Um dia, eu tive alguém importantíssimo em minha vida, alguém que dizia que ia estar comigo pra sempre. Nós nunca íamos nos abandonar, éramos fatalmente inseparáveis. Mas o destino não cumpriu a promessa e todas aquelas palavras e declarações viraram pó no vento. "O mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos tão mesquinhos". Tem vez em que a culpa é nossa, do nosso egoísmo, nosso orgulho e da imbecibilidade de acharmos que somos insubstituíveis. Naquela noite, depois de conversarmos sobre esse assunto, entramos no quarto para tentarmos dormir. E quem disse que conseguimos? Foi um tal de dar travesseirada na Lis, "montinho" no Che. E conta história de terror, coloca música no celular e puxa o outro pelo pé, e conversa, e fala, fala sobre religião. Conseguimos dormir com o dia já amanhecendo. Depois, umas dez e meia da manhã, acordamos. Aí era só esperar o almoço, a cochilada necessária logo após, um futebolzinho tímido no campo, uma caminhada com algumas fotos, para irmos embora. A noite, mesmo exausto, pregado, eu saí com a turma. Umas duas ou três horas no Mancha, e descemos. Saímos de lá quando começou a tocar Beatles. Droga! Na esquina de casa, o clima deixou claro que não há só uma dupla de amigos em crise por esse reino. Leandro e Éder tiveram a sua DR, mas dessa vez, fui só espectador. Pouco se falou, mas exatamente o silêncio que foi crucial na hora de buscar certas respostas. Tudo acaba passando, mais cedo ou mais tarde, até o dia que não passar mais nada. o dia em que as águas desse riacho irão correr pra outra direção.

Clube do Bolinha

Na sexta-feira, Lis foi para o Hopi Hari, com a turma da escola, e passou o dia todo por lá. Saiu de Tambaú às 6 da manhã, e voltou às 2 da manhã de sábado. Tentei falar com ela, achando que ia chegar mais cedo pra gente poder sair, mas não rolou. Alan está ajudando na quermesse de Nossa Senhora Aparecida, toda sexta e sábado, na praça do Santuário. Ele faz parte do Grupo de Jovens, do qual todos nós já participamos um dia. Foi quando conhecemos a Lis e o Leandro, que logo começaram a fazer parte da nossa turma. O Alan é o único que ainda frequenta, e acredito que seja sempre quem mais precisou estar lá. O Éder não tem dia para aparecer. Ele trabalha num supermercado aqui da cidade e às vezes sai de lá 10, 11 da noite. Quando está muito cansado, nem aparece. Se vai aparecer, liga sempre no meu celular pra confirmar onde estamos.
O Che e eu nos falamos a noite na sexta, e combinamos de sair. Nos encontramos no posto, como toda sexta-feira. Eu sempre chego primeiro e meu destino é a loja de conveniêcia. Brahma Malzibier... hummm tão docinha... tá virando vício! Aí espero o Che e a Lis, e quem mais estiver, chegarem e decidimos nosso destino, que, no fim, acaba sendo sempre o mesmo hehe. Quando o Che chegou nessa sexta, nosso papo foi sobre música, sobre jazz e blues. Eu gosto muito de blues, do americano também. No Brasil, Cazuza nos presenteou com alguns clássicos. Lembro de "Bilhetinho Azul", da época dele no Barão:

"Hoje eu acordei com sono, sem vontade de acordar
O meu amor foi embora e só deixou pra mim um bilhetinho todo azul, com seus garranchos
Humm que dizia assim: "Chuchu, vou me mandar, é, eu vou pra Bahia, talvez volte qualquer dia
O certo é que eu tô vivendo, eu tô tentando, uhh, nosso amor foi um engano".

"Hoje eu acordei com sono, sem vontade de acordar
Como pode alguém ser tão demente, porra-louca, inconsequente e ainda amar?
Ver o amor como um abraço curto pra não sufocar".

O Che lembrou de "Telefone", do Tim Maia. Ele adora Tim Maia, sempre cantamos músicas dele nas madrugadas afora, chapados...

"Eu bem que te avisei, pra não levar a sério o nosso caso de amor
Eu sempre fui sincero e você sabe muito bem
Eu não te prometi nada
Não venha me cobrar por esse amor
Pois esse sentimento eu não tenho pra te dar
Sinto muito em te dizer, vê se tenta esquecer
Os momentos que passamos, que juntinhos nos amamos
Leve um beijo e adeus."

Meus amigos modificaram bastante, ou abriram meus olhos, para novas possibilidades na música. A Lis já me apresentou muito rock n' roll. O Che também, e rock nacional, mpb. Temos sim muitos gostos em comum nesse sentido. Pra ele, eu já mandei bastante música do Cazuza, Tom Jobim, da Shakira também, já que ele também é fã, de certo modo, de música latina. Ultimamente, ele tem me mandado vídeos dos episódios do Chapolin. Temos nos divertido muito, comentando as cenas. Nós somos fãs de Chaves e Chapolin desde crianças. Bom, tínhamos passado dois dias meio estranhos. Não conversamos muito, os dois com um mau humor danado, sem muita explicação. Quinta-feira, no teatro, o Paulo exibiu para os alunos o filme "Across The Universe", que tem toda história amarrada em cima de 33 músicas dos Beatles. Que maravilha! Um filme delicioso, com uma história de amor forte e comovente, que resistiu ao tempo, a distância, e a guerra. Tenho uma certa história com a obra dos Beatles. Sempre curti muito "I want to hold your hand", "Yellow Submarine", "Can't Buy Me Love", "Let It Be", "Hey Jude", "Help", e principalmente "Don't Let Me Down". O Pedro, fã incondicional de Beatles, que estudou comigo no Teatro-Escola Célia Helena e que foi um grande amigo que tive, me presenteou uma vez com um cd de uma banda em que participava. No cd, ele cantava "Don't Let Me Down". Foi quando conheci a música e amei logo de cara. Assisti o filme do lado do Alan, vidrado. Não perdi um segundo e, aproveitando a certa melancolia, ok, a forte melancolia, ah tá, a melancolia filha da puta que me fez chorar copiosamente no banheiro de casa, me emocionei no fim do filme também, que termina com um olhar apaixonado e esperançoso do casal protagonista, na cobertura de um edifício, nos levando a imagem da última apresentação dos Beatles. Essa noite foi foda, foi tocante! Sei lá, às vezes a gente segura onda demais, não bota pra fora aquilo que precisa dizer, que precisa fazer, as declarações de amor, de ódio, aí chega uma hora que tudo transborda, e a gente chora, chora pra valer, sentido mesmo. É uma forma de descarregar o peso. Fomos pro posto mas nem quis ficar muito por lá. Saí fora, sentei na praça, sozinho, com meu mp3 e uns 2 ou 3 cigarros. Queria essa solidão naquela hora. Não tinha onda pra segurar, nem muito o que dizer, nem fazer, nem quem amar, e nem quem odiar graças a Deus.
Ficou tudo certo na sexta a tarde, com uma notícia que veio pra salvar o final de semana. A peça "Sexo dos Anjos" foi classificada para o competitivo Festival de Teatro de Varginha. Foram 180 inscrições e nós ficamos entre as 10 selecionadas. O Paulo me ligou, na hora do almoço, me contando. Fiquei eufórico, queria contar logo pro Che a nossa conquista. Voltei para a biblioteca, deixei o estranhamento de lado, e dei a notícia pra ele. Ah, ficamos felícissimos. Isso nos alegrou muito, e o final de semana estava salvo, depois de uma ou duas palavras trocadas no fim do expediente que fizeram uma enorme diferença e que deixaram tudo bem de novo.
Depois do papo musical, dando uma volta pelo centro da cidade, encontramos o Elton e o William. Conheço os dois há algum tempo, através do Che também. William estava empolgado. Ele ia pra São Paulo no sábado para curtir o show do Scorpions. Falei com ele no dia seguinte e ele não cabia dentro de si de tanta felicidade. Ver a sua banda favorita cantando a trilha sonora da sua vida ao vivo, é algo pra não se esquecer nunca. Já passei por isso e foi louco, muito louco. Provavelmente, a chance de você ver a sua banda favorita uma única vez tocando ao vivo num show, é grande.
Bati os olhos na barraca de tapioca, e a vontade de comer uma de chocolate foi maior que eu. Conversa vai, conversa vem, Che e eu sobramos de novo. Sentamos na praça e sem muita ideia do que fazer, continuamos a falar. Fala do festival e fala do Cesinha, que está prestes a voltar a sair com a gente. Ele está bastante recuperado do acidente que sofreu no trabalho, e já recebeu permissão do médico para sair. Saudades do Cesinha! Disse pra ele no msn que vou enchê-lo de porrada quando o encontrar, e ele me disse que já acionou seus advogados hehe. Um tempo depois de conversa, Leandro apareceu. Nós três nos damos bem quando estamos juntos, sem a interferência das pessoas que adoram vilipendiar o Leandro, que o pegam pra Cristo mesmo. Gosto bastante dele, apesar de tomar certas atitudes às vezes que me tiram completamente do sério. Demorei a acostumar com o jeito pacíficador que o Leandro vê as situações, a própria vida, o jeito de sempre "deixar pra lá". Ainda me incomoda, mas hoje eu entendo mais. Sei lá, a gente tem que viver alerta. Recebemos sinais e mensagens todo tempo, bons e ruins, que basta um pouco de intuição para sabermos como aproveitar. E também não podemos deixar as pessoas mal intencionadas fazerem o que bem entendem de nós, não. Tem que se rebelar, cair fora de gente assim. A noite já tinha virado um Clube do Bolinha. No bar do Geraldo, que fica na praça, onde antigamente ficava a locadora onde eu alugava os filmes do Pestinha, e os cd's do Rei Leão e do Meu Primeiro Amor, o rock comandava no dvd ao vivo. Nós três e cerveja! E cigarro! Falamos de mulher, de política, de nós mesmos. Comecei a notar a cerveja fazendo efeito quando vi que não tinha percebido que meu copo estava furado, e que por isso, minha calça estava molhada. Detalhe!
Os caras foram jogar sinuca. Eu fiquei lá fora mesmo, com um cigarro solitário, e o rock de companhia. A noite estava tranquila, sossegada, sem stress. Uma última cerveja antes do Che ficar tentado a comprar os dvd's dos Cavaleiros do Zodíaco. Não, mas ele não comprou. No ponto de ônibus, sentados, a rua já praticamente deserta, batia um vento cortante. Não se via estrela no céu, e nem a lua. Ameaça de chuva? Não! Achamos que fosse, mas não choveu nessa noite. Curamos nossa solidão cantando. Nossa, já cantamos muito nessa vida juntos. Uma vez no ano passado, bebemos muito numa balada no Centro Cultural. Fomos pra praça 4 da manhã e cantamos muito. Eu fiquei deitado no banco da praça com garoa caindo na cara. O Cesinha, o Alan, o Éder e o Maicon estavam nesse dia também. Boêmio e inocente demais! Nessa sexta, Che e eu fomos de Roupa Nova, Só pra Contrariar, Alceu Valença, Cazuza, Juan Luis Guerra, Caetano etc... Foi legal! Há tempos, não tinha uma noite tão divertida, sem cara feia, trepidações, sem meias palavras, doces elogios escondendo fortes críticas. Quando está tudo bem entre nós, meus amigos são os melhores do mundo. Será que não são?

...

Eu estou na contra-mão de tudo. Os carros passam a 1000 por hora e não me atropelam. Caras feias me olham e me julgam. Me sinto sozinho essa noite. É o estopim. Tenho guardado muita coisa, muito lixo. Seguro firme e enfrento tudo de peito aberto, mas tem hora que não dá. O copo enche e derrama. É horrível essa sensação de sempre querer estar em outro lugar. Hoje, a solidão me cabe como uma luva de 5 dedos que me massacram. Vontade de sair correndo, de desaparecer no breu, de não deixar vestígios. Abro mão essa noite de qualquer esperança de que algo que já é velho venha a acontecer. Quero o novo, quero querer o novo, ver outras e novas possibilidades, jogar fora pedaços perdidos de histórias inconcretas, e fechar esse livro. Estou cansado, exausto. A vida tem passado por cima de mim e me estagnado. Eu estou na contra-mão de tudo. Quero paz quando todos estão com armas em punho. Quero guerra quando as bandeiras brancas estão na janela. Quero dançar no sofrimento, sofrer doloroso em dia de festa. Quero o amor impossível, quero o amor doente, que sangra, quero o novo amor que chega como brisa mansa, mas não cobre o vazio. Quero todo mundo a minha volta tocando violão enquanto canto. Quero piano mágico que toca sozinho no escuro. Quero cerveja em dia de semana, quero água em encontro de bêbados. Quero a minha vida de volta. Quero poder caminhar sozinho, sem precisar que ninguém me complete, nem que segure a minha mão, menos ainda que me bata nos ombros com piedade, que me dê abraço afastado. Quero perder a sensação de que fui inventado. Quero me reinventar, ou simplesmente lembrar que eu sou. Quero água de riacho passando e levando tudo embora, de uma vez, e deixando apenas eu, o que eu era, meus gostos, minhas músicas, minhas fotos, minha gente, meu coração, meu, só meu. Estou caindo fora, pra voltar a ser eu.

Três visões

Eu sempre acreditei na missão que nós todos temos na vida. Nunca achei que a gente veio ao mundo assim, a passeio, como uma consequência da noite prazerosa (ou não) que um dia nossos pais tiveram. Não gostaria de saber também que nasci simplesmente porque a tv estava quebrada naquela noite, ou então porque minha mãe esqueceu de tomar a pílula, ou nem sabia o que era pílula e nem como se fica grávida. Acredito em missão. Todos nascemos com um propósito, com um destino traçado. Se estamos aqui hoje, e vivendo tudo isso, é porque tinha que ser assim mesmo. Minha vida sempre foi de muitas coincidências, algumas que me fizeram o cara mais feliz do mundo, e outras que me fuderam legal, que mudaram toda a rota que era certa, e que me fizeram ver que a minha missão não era a que eu imaginava. Essas coincidências são exatamente o que me fazem pensar que tudo está planejado. Sim, temos o livre arbítrio de fazer nossas próprias merdas, e pagamos por elas, mas nada que fazemos foge do script. Pense na quantidade de pessoas que já passaram por sua vida, algumas delas por uma temporada, um dia, apenas um encontro, e elas surgiram na hora certa, no momento em que precisava delas, e por aqueles instantes, elas modificaram toda sua história pra sempre, e você nunca mais foi o mesmo.
Perdido nessa ideia, eu, que sou um ariano convicto, ariano com A maiúsculo, procuro saber as respostas dos porquês, e tento entender o que significa tudo, o porquê de tudo. É uma forma de enxergar tudo com olhos de passagem, de achar que não vai durar tanto tempo, que tudo vai passar e que lances melhores, e piores, virão.

Os três dias úteis da semana prometiam passar bem rápido. Que nada! Foram grandes, longos, pesados... Quinta-feira a noite, eu joguei a toalha. Já não prestava mais pra nada. Eu olhava as cenas no teatro e meu cérebro não funcionava, não reagia a nada, a nenhum estímulo. Estava vindo de um final de semana atribulado, de puro cansaço mental. Duas baladas quase que seguidas, com um dia de trabalho no meio, e muita conversa, muito blablablá doído, muito reality show pro meu gosto. Tem dia que o que eu mais quero é ser um cara normal, que bebe, que fuma, que joga futebol, que come mulher, que cospe no chão, coça o saco, ouve samba e funk, que rala a semana inteira num emprego desgraçado, que vota na Dilma e tem um fusca. Simples assim! Na terça, feriado de 7 de setembro, a gente arriscou uma aventura. Fomos na casa do Alan. Estava escuro, ele mora nos fundos e não sabíamos se estava em casa. O Che ficou no portão. A Lis e eu, com medo do possível cão que rondava por ali, fomos andando pelo corredor até chegar na casa do Alan. Mas o único sinal do cão que rondava, foi algo viscoso em que pisamos, atolamos, enfim. A cena foi linda. A Lis calçava seu imponente sapatinho de lacinho preto com salto, que se viu gelatinoso por alguns instantes. Fomos lá só pra isso né, pois o Alan não estava em casa. Ele apareceu na praça depois. O Leandro, a gente encontrou no meio do caminho, e fomos todos juntos pra casa do Alan jogar UNO. Já jogamos muito, antigamente era toda noite. Discutimos muito por causa das cartas de compra, e das combinações que fazíamos pra ferrar uns com os outros. Mas dessa vez, o jogo foi tranquilo.

"Sexta-feira, dia 10/09/2010 era uma sexta comum e eu rezando pra que chegasse a noite.. Acordei cedo, fui para a escola. Ao voltar almocei e lá vou eu para a biblioteca .... Encontrei Zé, Che, Fatinha (ela não teve que conta a Historia da dona Baratinha) e Josi.. Atende de lá e atende de cá, da um Berro no Zé, chama a Josi, e o Che não precisou mudar as caixas de lugar. Durante o dia, lá vem o Zé com esse tal de Shinguilingui ou Miauuu.. Final do dia... Combinamos de ir no (Deo)clides, foi Sossegado.. o Eder Apareceu por lá, Fiquei só na coca e os meninos na Cerveja.... Conversa vai e vem .... o Alan chegou depois rir com agente mas logo foi embora.... A mesa terminou com Zé e Che, eu fui mais cedo para casa.." (Lislaine)

"Sexta-feira, dia normal de trabalho na biblioteca, meio cansado, mas feliz por ter chegado o final de semana, não que o final -de- semana seria especial, mas por que eu só pensava em descansar... hehee... isso depois de uma semana mais curta em circunstâncias do feriado de 07 de setembro. No entanto, essa semana começou de verdade na quarta-feira. Trabalhamos só três dias, mas mesmo assim... o final de semana é sagrado!!!
Meus amigos, companheiros de aventuras ( e de trabalho )... hehehe... e eu, passamos o maior tempo possivel juntos, eles são muito especiais e onde eles vão, eu tambem vou..., entao, ainda na biblioteca, começamos a combinar, qual seria a boa da noite. Na nossa cidade, não há muita opção de lazer nos finais de semana, temos a praça, um barzinho aqui, um outro ali... umas baladas aos sabados, afinal, a cidade é pequena!!! Combinamos então de ir num barzinho, meio escondido, mas até que é um espaço legal, muito bom pra beber com os amigos quando se está de boa, hehee... pois então..., lá fomos nós, conversando sobre as coisas da vida, alias, fazemos muito isso...!
Bom... meus amigos, são o Zé e a Lis, duas otimas pessoas, confiabilíssimas, e sem comentários... só há elogios pra eles, com esses dois fui no bar, pedimos umas 3 cervejas, e uma coca, pois a Lis não bebe, conversamos sobre as palhaçadas no horário eleitoral, música, vida etc..., a noite foi curta, ficamos um tempo lá e fomos embora. O pai da Lis veio buscá-la e sobramos o Zé e eu... hehee, acabamos a noite falando sobre o modo com que ele escreve o blog, se é deprimente ou não..., a minha opinião é que existem formas e estados em que se escreve, por exemplo... você pode usar uma linguagem cômica, romanceada, ou então fictíca, e tudo depende tambem do estado de espirito em que se encontra na hora de escrever, mas eu não acho que o blog do Zé seja melancólico!
Assim, terminamos a nossa sexta-feira... e combinamos ainda de tomar uma cervejinha no sábado a tarde, hehee...!!!" (Che)

A noite de sexta-feira chegou. Os três mosqueteiros se reuniram no posto, como sempre, animados com o que o final de semana reservava. Não, nossa vida não se resume só a sexta, sábado e domingo, e nem nos encontramos só nestes dias. Na verdade, estamos juntos todo dia, o dia todo. Fomos no Deoclides, com o Éder e o Alan, que apareceu por lá depois. Passamos antes na praça, onde as barracas que vieram a Tambaú no ano passado, estão de volta. Isso gera um movimento maior por ali. Vendem tapioca, acarajé, e outras comidinhas com coco, e apimentadas, da Bahia. E tem as bugigangas também. Preciso passar por lá e adquirir alguns itens, aliás. Bom, no Deoclides, o mais falante da mesa era eu. Sabe aquela sensação, "ahhh me mandem parar, por favor..."? Então... Os meninos estão desanimados. Sinto principalmente o Che desanimado há alguns finais de semana. Nele, o desânimo fica mais evidente porque ele é o meu companheiro das risadas, piadas, dancinhas e lembranças esdrúxulas. Tenho uma leve ideia do que porquê isso vem acontecendo. Já tentei falar com ele, mas não saiu nada, então, só observo. Falei (amos) de sexo, de maconha, de porre, de música, de política, do avião da TAM que caiu em Congonhas, da torcida do São Paulo quebrando a Paulista inteira... Foi papo pra horas! O Éder era o mais quieto. Ele está com a perna toda enfaixada. É a segunda vez em menos de duas semanas que cai de moto. Dessa vez, foi um pouco mais grave. Imagina eu, quando tirar a carta. Espero que já tenham providenciado os postes de borracha... O final da noite foi uma discussão infundada sobre o quanto que esse riacho aqui é de águas depressivas, ou não. Essa parte, só o Che e eu íamos aguentar mesmo. E fomos nós que ficamos uns 20, 30 minutos, pensando em teorias que expliquem isso aqui tudo.

"Eram 7:30 hrs da manhã, quando o celular despertou , primeiro aviso de que teria de acordar pra fazer a tarefa... mas enfim, virei para o lado e dormi até às 8:30. Xiii... Atrasei, 10:30 hrs era pra eu estar no Inglês.... Fui depois de 1 hora de aula. Breakfast uhuhu.... Vou atacar as bolachas pra enfrentar mais uma hora de aula.... acabou! Hora do almoço! Pensei em ir dormir mas 14 hs o Zé ligou falando que ele e Che iriam estar na praça conversando.. E Lá vou eu só que antes dei uma passada na Loja claro pra ver o preço de um fone de Celular novo.... Na praça encontrei Zé e o Che... Detalhe: Zé estava colocando o chip no celular do Che... Andamos um pouco pelo centro e voltamos para a praça, vimos até uma noiva entrar na igreja. Fiquei até umas 19:00 hrs depois fui pra casa e dormi. Acordei na hora de tomar banho pra sair. " (Lislaine)

"No sábado, acordei umas 10 horas se bem me lembro, não fiz absolutamente nada de manhã, só a tarde que eu tinha combinado de sair com o Zé e a Lis tomar uma cervejinha, ir nas lojas, etc..., combinamos de nos encontrar umas 2 horas da tarde, e lá fomos nós, hehee... nos encontramos na praça, tava um calorzinho, nem tinha muitas pessoas no centro da cidade, ficamos por lá um pouco, depois fomos até a papelaria, ver algumas coisas por lá, passamos depois em uma loja, onde vendem as camisas de rock, e lá nós ficamos mais, escolhendo alguma coisa, são muito legais as roupas... por fim eu comprei uma camisa e o Zé comprou outra. Passamos em uma outra loja, dessa vez para ver se comprariamos as entradas para o Baile Havaiano... estava meio cara, mas mesmo assim compramos... alias, não tinha nada na cidade mesmo...,depois, procuramos um lugar pra comer, e voltamos na praça. Ficamos lá mais um tempo, até escurecer... estava começando um casamento na igreja, ficamos vendo e pensando em músicas propícias pra casamento... hehehe... saiu cada coisa!!!
Fomos embora, ja eram umas 7 e meia da noite, cheguei em casa, tomei um banho e desci de novo, pra encontrar o povo e ir pra balada, ihhhu!!!" (Che)

Sábado a tarde, fomos às compras. Sim, havia uma promessa há tempos de conhecermos a loja de rock que abriu aqui na cidade. e finalmente fomos juntos lá. Eu já usei camiseta de banda, em outra época, quando cheguei em São Paulo. Tinha uma do Lennon, só do rosto dele de óculos, que pegava a frente toda da camiseta. Foi a que usei na primeira balada que fui por lá. Dessa vez, comprei uma do The Doors. O Che, ficou com a do Kiss. A tarde varou o comecinho da noite. Nós dois, e mais a Lis e o Alan, brincando de montinho no banco da praça, infantilóides que não foram convidados para o casamento que rolava na Igreja Santo Antonio, e que até agora a gente não sabe de quem era.

"Chegando na praça, a noite, lá estavam os dois... o Zé e a Lis, em frente ao posto... nos encontramos lá, e descemos, alias, vi tambem o Piri, o Edson que é um amigo meu que faz 1 ano mais ou menos que eu não via. Chegamos na praça, e o Maicoool e o Elton estavam lá... ficamos um pouco lá, tomamos uma garrafa de vinho, e lá fomos nós pra balada cara... só que dessa vez fomos só eu, o Zé e o Maicoool, alias fomos a pé, e é meio longinho o lugar, hehee...
Chegamos lá, entramos, estava o Jardão logo na entrada, hahaha... ele ficou com a gente e lá fomos nós...! Era uma festa de axé, que aliás nao vejo nada em comum com baile hawaiano... o que é que tem a ver??? Mas enfim, eu ja fui em festas muito melhores com preços muito menores, estava frio e o povo tambem não tava muito animado, saiu porrada lá, eu passei mal tambem, ... enfim..., fomos embora!!!" (Che)

"Na rua, várias voltas até encontrar o Zé..... Che apareceu depois. Na Praça encontramos Piri , Elton. . 23:30hs, lá vão Che, Zé e Maicon pro baile. Eu, para a cama ..." (Lislaine)

O sábado foi uma incógnita a semana toda. Combinamos São Paulo, Santa Rita, Santa Rosa, e até Argentina. Nos empolgamos bastante quando estamos com dinheiro, mas sempre escolhemos a mais comum e batida das opções: baile hawaiano do Ipê Tenis Clube, um dos clubes da cidade. O preço salgado do ingresso tirou a ideia de ir de nossa programação, mas sei lá, fiquei com vontade de ir quando soube que a Aline, minha prima, e a Giovana iam. Compramos os ingressos e convencemos o Maicon a ir também. Passada rápida pela praça, aquele velho e bom vinho no Mancha ao som de Raul Seixas. Me deu um sono, um cansaço, mas não podia desanimar. Nenhum casaco meu combinava com a noite, com o possível clima da festa, então, saí só de camiseta. O Che e o Maikinho entraram nessa também. No caminho, o frio já apareceu. Êta avenida gelada, e a gente a pé. Chegamos numa boa. Quiseram selecionar o público, mas acho que selecionaram demais. Não tinha muita gente, como nos marcantes bailes hawaianos em que já estive no Ipê, e tudo parecia mais um jantar de negócios onde o traje obrigatório eram as estampas de frutas e flores, e bla bla bla, sim, muito bla bla bla. Encontramos o Jardão por lá. Ele tocou no final do baile, com uma dupla que canta sertanejo universitário, o que mais se ouve por essas bandas nos últimos tempos. O show principal da noite era de axé, da cantora Jana Lima, que já esteve por aqui no ano passado. Não, eu não curto mais axé, mas poderia ter percebido isso antes. O que salvaria a noite seria o whisky com energético que Che e eu combinamos de tomar. Mas essa foi mais uma desistência do sábado, por motivos nobres, mas foi. O Che não estava bem, passou meio mal. Eu nessa hora me acabava na cerveja. Tinha encontrado a Aline e as amigas delas por lá, mas a noite por ali também não parecia nada boa. A Lislaine chamou no dia seguinte quando soube de tudo, a noite de sábado de "a balada das desilusões". É, a carência bateu forte em mim. Num descuido, em que todos foram ao banheiro, e eu fiquei sozinho, peguei meu celular e mandei um "eu amo você", numa mensagem de ddd 11. O que eu não queria e não devia fazer, que me controlei durante semanas, caiu por terra assim, em segundos, por causa de algumas cervejas. Depois, foi só chá de banco de cimento o resto da noite, entre cigarros inexpressivos e silenciosos. E o frio era cortante, doía. Uma briga no fundo rolou, quando destruíram parte da decoração da festa, bem #tenso. Eu não estava no meio não, nós só assistimos. Eu crio tanta expectativa quando saio de casa no final de semana. Nunca quero que seja normal, comum, só nos dias em que fico de saco cheio. Eu acredito ainda que o vento vire e que lances inesperados aconteçam, que eu receba um olhar, um toque que vai mudar tudo pra sempre, e que vai botar cor em tudo. Mas sempre volto pra casa do mesmo jeito que saí. A única diferença é o acúmulo da sensação de que tudo é uma grande cilada, um grande engano, e que o destino insiste em continuar me passando a perna. Nesse baile aí que vai passar em branco na minha história, eu ganhei uma flor, arrancada de um dos arranjos da festa. Ganhei do nada assim, sem intenção nenhuma, sem pretensão nenhuma, só o mesmo jogo de cartas abertas que está na mesa há tempos, e que não muda nunca. Foi quase um espasmo muscular. Mas na hora, foi tão significativo, tão importante, e se tornou o melhor e o pior acontecimento da noite. Tem dois lados pra ver tudo isso. O lado de que isso não muda nada no próximo conto, pois não significou nada, e o lado de que, se fosse verdade, se tivessem me dado a flor do jeito que eu recebi, tudo seria maravilhosamente diferente e mágico. De qualquer forma, ela me fez companhia até em casa. Eu guardei, num canto escondido do meu quarto. Acabei de olhar e ainda está viva, colorida. Talvez demore ainda pra secar, ou talvez morra logo, de sede. O tempo vai dizer, e o acaso vai fazer dela o que quiser.

"No domingo, acordei mais tarde, só que, felizmente, não estava com a ressaca que eu esperava, mas tomei o meu velho e bom Engov, e já estava bom de novo, pronto pra outra, mas dessa vez nada de comer pizza de ovo, eu comi antes de sair no sabado, bebi vinho e cerveja e acho que foi isso que me fez mal no baile, sem contar que o almoço no domingo era a mesma pizza de ovo... não podia sentir nem o cheiro!!!
Ao chegar a noite, descemos novamente pra praça, encontramos todo o povo por lá..., eu, o Zé, a Lis, o Maicoool, o Elton, o Leandro e o Eder... ficamos lá conversando e fomos pro Bar do Mancha tomar o nosso sagrado vinho ao som do rock n´rooll, hehee.... Alias, teve outra porrada lá em frente, hahahhaa... só que dessa vez eram duas mulheres. Depois do vinho, fomos na lanchonete comer, e assim encerramos nosso final de semana...!!!" (Che)

O aniversário do Éder foi no sábado, mas por causa do baile, ele não apareceu. Os cumprimentos aconteceram no domingo a noite. A rua estava lotada de gente e o Mancha foi nosso cenário de novo. Vinho, e atrás de nós, um arranca-rabo daqueles entre duas gurias. Deprimente! Logo depois, na frente do mesmo Bar do Mancha, um beijo entre dois frequentadores agitou o local. O contraste do amor e do ódio, foi o que eu disse pro Che. E o meu fim do final de semana, foi cômico, bem pastelão. O que eu mais precisava era ter que descer até minha casa segurando vela. Pois é, meus caros, foi assim que se sucedeu tudo. Nada melancólico por aqui, certo?

Medieval II

Fazem 20 graus por aqui agora, mas o ventinho faz a sensação térmica ser menor. Depois de quase 2 meses sem dar as caras, a chuva apareceu por aqui. E apareceu ontem a noite, quando eu estava saindo para mais uma noite inebriante de bebedeira e lances mal resolvidos, impossíveis, caretas e repetitivos, que culminam sempre em dor no coração e necessidade extrema de cama e edredon. Nem liguei. Pedi essa chuva durante a semana toda, e nem podia reclamar da hora imprópria que ela resolveu aparecer. Tentei um abrigo no orelhão da avenida, mas não foi suficiente. No caminho de casa até o centro, tem poucos abrigos para casos como estes. O jeito foi encarar, de boa, na caminhada mesmo. Aí, a gente tenta fazer a cena ser mais poética, coloca uma música no mp3 que faz tudo ter mais sentido, que faz a gente se sentir cachorro faminto no meio da tempestade, mas um cachorro malandro, que gosta da aventura, nada de lágrimas, nada de sarna. Ah, e o cigarro! Fumar na chuva é o detalhe mais desencanado da cena. Os carros passam, e as pessoas te olham se perguntando porque você fuma debaixo de chuva. Tem umas que não dá, molha demais. Vem um pingo e apaga o fogo, mas a de ontem dava. O Che também pegou chuva na mesma hora, do outro lado da cidade. Mas eu penso que ele não vê nada de poesia nisso. Deve ter pensado: "que merda", "que droga", "se eu tivesse um carro, isso não aconteceria", "ah, que vontade de voltar pra casa". A Lis estava esperando a gente essa hora, protegida da chuva. E pra Lis, cada pingo de chuva deve gerar um pensamento gozado, uma risada contida, e é um alívio pensar que seus sapatos e seu cabelo estavam secos.
A chuva caiu a noite inteira, só parou por volta das 3 da manhã, que foi a hora que Che e eu fomos embora da Lex Luthor. A Lis já tinha ido uma hora e meia antes, mais ou menos. O Maicon ficou por lá. Ele, nessa hora, era o único animado da noite. Ah, a gente acordou cedo, trabalhou na biblioteca. A Lis foi a única que dormiu nesse meio tempo. Che e eu estávamos de pé desde às 7 da manhã. Punk! A balada estava lotada. Tinha um casal de gogodancers no palco causando um frisson. Ah, como eu disse, eu vejo pessoas mais bonitas na internet, e além do mais, nuas. Antes de ir embora, algumas cervejas, um fora e algumas lamentações, não necessariamante nessa mesma ordem, nem vindos da mesma pessoa. É, era hora de ir pra casa. Tem noite que sinto vontade de virar vândalo, de ir chutando lixo, de depredar placa, de berrar e cantar, acordando os vizinhos, apertar campainha e sair correndo, não pra simplesmente danificar o patrimônio público ou perturbar, mas sim pra deixar bem claro pra mim mesmo que uma noite como esta nunca mais deverá se repetir, que já deu a hora de dar murro em ponta de faca, que o personagem mais importante dessa história sou eu, e que estou precisando urgentemente dar uma guinada, e parar de ser coadjuvante em história alheia.
Ah, eu falo, falo, mas não há nada a se fazer quando o único jeito do barco correr, seja esse, a base de muita pancada. A gente vai vivendo, e pagando pelas escolhas que faz na vida.
As duas coisas que une a nós todos são a amizade e o álcool. Tenho muita sorte de ter essas pessoas ao meu lado, e de me embriagar ao lado delas. Não pensem nisso como um caminho destrutivo. Ninguém está pensando em virar alcoólatra, nem de perder o controle. Vivemos noites boas também sem bebida. Eu, particularmente, não bebo pra afogar mágoa, bebo numa eterna busca de libertação. As pessoas ficam mais libertas, mais soltas, menos reprimidas. Os sentidos ficam a flor da pele, se ama mais, se sofre mais. É uma maneira de ter do que se arrepender depois, e também do que se orgulhar. Tomei alguns grandes porres até hoje. Um, em São Paulo, quando ainda namorava. Foi de sagatiba com coca-cola, no meu apartamento. Estava vivendo uma crise no relacionamento e usei aquela noite pra dizer tudo que precisava, de uma vez, sem pausas e sem pudor. No dia seguinte, não consegui levantar da cama de tanta dor de cabeça. Foi quando eu aprendi que vodca faz com que fique fora de mim. Tempos depois, quando eu já estava de volta a Tambaú, tomei outro, de vodca e cerveja, dessa vez. Na época, estava caindo na real, tomando conta daquilo que o coração tentava avisar há meses. Saí do Sossego sem me despedir de ninguém, e o Éder acabou me encontrando. Nossa, naquela noite ele ouviu tanta merda, e aproveitou pra falar também. Essa conversa causa efeito até hoje na nossa amizade. Nunca iremos esquecer tudo que foi dito. O último grande porre foi na Lex Luthor, esse ano. Open bar, só cerveja, e pra variar estava me sentindo péssimo, o último dos homens. Dancei muito naquele dia no camarote, agressivamente, numa maneira de botar pra fora a vontade que estava de fazer confusão. O Che e eu discutimos feio na saída, quase saímos na porrada. Foi tenso e desnecessário. Não gostamos nem de lembrar, e nem falamos mais dessa noite.
No sábado passado, o álcool proporcionou momentos hilários na festa dos anos 70 e 80 que rolou na SAT. A Céia, uma das djs da festa, me deu vip. Estava animado mesmo pra ir e a Céia manda muito bem. Tocou de tudo um pouco. Decoração temática e a pista não estava muito lotada. Dancei muito. De repente, toca Macarena. Começamos a dançar. Estavam eu, o Che, o Neno, a guria que estava ficando com o Neno, e uma amiga dela. Um de frente pro outro, dançando a Macarena. Viramos o centro das atenções. A balada parou pra ver e pra acompanhar a nossa dança. Me senti num episódio dos "Normais", quando Rui e Vani dançavam a Macarena numa festa, de uma maneira esdrúxula. Logo depois, começou a lambada. Lembrei da Lislaine na hora, minha companheira oficial de dança. Já causamos tanto nos bailes juntos, com danças ousadas e sensuais. Bom, na falta da Lis, tirei a amiga do Neno pra dançar. E não é que deu certo? Um gingado, a entrega e a dose certa de sensualidade são necessários para a dança proibida, e foi o que houve. Foram duas músicas, alucinantes e contagiantes, haha. A vida tem que ser assim mesmo, a gente não deve se poupar de nada que tenha vontade. Não tem que ter medo de se relacionar, de conhecer as pessoas, de viver momentos com elas. Tudo é matéria fundamental pra nossa existência. A noite nunca tem fim.
Sexta-feira tinha sido mais light (ou não?). Bar do Deoclides com a Lis e o Che. Nós somos os três mosqueteiros, eles são meus amigos super-heróis A gente se entende, o assunto não acaba, compartilhamos muitas idéias. A Lis vai sempre de coca-cola. Che e eu de cerveja, é claro. Estava frio e logo eu me arrependi de não ter levado casaco. Sorte de que o Che não estava com frio e quebrou meu galho. Fui até perto da casa dele, conversando. Super-heróis sem poderes, sem poder de mudar nada, dois perdidos numa noite suja. Tem noite que a gente parece dois velhos reclamões. Que droga! Pra que passar tanto tempo tentando entender o que não tem explicação? Não tem motivo também pra lamentar tanto, se desculpar tanto e se agoniar tanto, por aquilo que a gente não pode mudar, que só o tempo faz. Eu tento ser um cara evoluído, adepto das novas modernidades, da revolução sentimental e organizacional vigente. Bebo pra entender, pra depois explicar, pra depois reclamar. Mas acaba tudo voltando a velha opinião formada sobre tudo, à Idade Média, àquela ultrapassada forma de sentir. Tudo vai virando lembrança e a gente espera o dia em que vamos poder dizer, mais seguros e maduros: "Lembra quando a gente via o mundo daquela forma? Que bobagem...". Tudo muda um dia.