Medieval II

Fazem 20 graus por aqui agora, mas o ventinho faz a sensação térmica ser menor. Depois de quase 2 meses sem dar as caras, a chuva apareceu por aqui. E apareceu ontem a noite, quando eu estava saindo para mais uma noite inebriante de bebedeira e lances mal resolvidos, impossíveis, caretas e repetitivos, que culminam sempre em dor no coração e necessidade extrema de cama e edredon. Nem liguei. Pedi essa chuva durante a semana toda, e nem podia reclamar da hora imprópria que ela resolveu aparecer. Tentei um abrigo no orelhão da avenida, mas não foi suficiente. No caminho de casa até o centro, tem poucos abrigos para casos como estes. O jeito foi encarar, de boa, na caminhada mesmo. Aí, a gente tenta fazer a cena ser mais poética, coloca uma música no mp3 que faz tudo ter mais sentido, que faz a gente se sentir cachorro faminto no meio da tempestade, mas um cachorro malandro, que gosta da aventura, nada de lágrimas, nada de sarna. Ah, e o cigarro! Fumar na chuva é o detalhe mais desencanado da cena. Os carros passam, e as pessoas te olham se perguntando porque você fuma debaixo de chuva. Tem umas que não dá, molha demais. Vem um pingo e apaga o fogo, mas a de ontem dava. O Che também pegou chuva na mesma hora, do outro lado da cidade. Mas eu penso que ele não vê nada de poesia nisso. Deve ter pensado: "que merda", "que droga", "se eu tivesse um carro, isso não aconteceria", "ah, que vontade de voltar pra casa". A Lis estava esperando a gente essa hora, protegida da chuva. E pra Lis, cada pingo de chuva deve gerar um pensamento gozado, uma risada contida, e é um alívio pensar que seus sapatos e seu cabelo estavam secos.
A chuva caiu a noite inteira, só parou por volta das 3 da manhã, que foi a hora que Che e eu fomos embora da Lex Luthor. A Lis já tinha ido uma hora e meia antes, mais ou menos. O Maicon ficou por lá. Ele, nessa hora, era o único animado da noite. Ah, a gente acordou cedo, trabalhou na biblioteca. A Lis foi a única que dormiu nesse meio tempo. Che e eu estávamos de pé desde às 7 da manhã. Punk! A balada estava lotada. Tinha um casal de gogodancers no palco causando um frisson. Ah, como eu disse, eu vejo pessoas mais bonitas na internet, e além do mais, nuas. Antes de ir embora, algumas cervejas, um fora e algumas lamentações, não necessariamante nessa mesma ordem, nem vindos da mesma pessoa. É, era hora de ir pra casa. Tem noite que sinto vontade de virar vândalo, de ir chutando lixo, de depredar placa, de berrar e cantar, acordando os vizinhos, apertar campainha e sair correndo, não pra simplesmente danificar o patrimônio público ou perturbar, mas sim pra deixar bem claro pra mim mesmo que uma noite como esta nunca mais deverá se repetir, que já deu a hora de dar murro em ponta de faca, que o personagem mais importante dessa história sou eu, e que estou precisando urgentemente dar uma guinada, e parar de ser coadjuvante em história alheia.
Ah, eu falo, falo, mas não há nada a se fazer quando o único jeito do barco correr, seja esse, a base de muita pancada. A gente vai vivendo, e pagando pelas escolhas que faz na vida.
As duas coisas que une a nós todos são a amizade e o álcool. Tenho muita sorte de ter essas pessoas ao meu lado, e de me embriagar ao lado delas. Não pensem nisso como um caminho destrutivo. Ninguém está pensando em virar alcoólatra, nem de perder o controle. Vivemos noites boas também sem bebida. Eu, particularmente, não bebo pra afogar mágoa, bebo numa eterna busca de libertação. As pessoas ficam mais libertas, mais soltas, menos reprimidas. Os sentidos ficam a flor da pele, se ama mais, se sofre mais. É uma maneira de ter do que se arrepender depois, e também do que se orgulhar. Tomei alguns grandes porres até hoje. Um, em São Paulo, quando ainda namorava. Foi de sagatiba com coca-cola, no meu apartamento. Estava vivendo uma crise no relacionamento e usei aquela noite pra dizer tudo que precisava, de uma vez, sem pausas e sem pudor. No dia seguinte, não consegui levantar da cama de tanta dor de cabeça. Foi quando eu aprendi que vodca faz com que fique fora de mim. Tempos depois, quando eu já estava de volta a Tambaú, tomei outro, de vodca e cerveja, dessa vez. Na época, estava caindo na real, tomando conta daquilo que o coração tentava avisar há meses. Saí do Sossego sem me despedir de ninguém, e o Éder acabou me encontrando. Nossa, naquela noite ele ouviu tanta merda, e aproveitou pra falar também. Essa conversa causa efeito até hoje na nossa amizade. Nunca iremos esquecer tudo que foi dito. O último grande porre foi na Lex Luthor, esse ano. Open bar, só cerveja, e pra variar estava me sentindo péssimo, o último dos homens. Dancei muito naquele dia no camarote, agressivamente, numa maneira de botar pra fora a vontade que estava de fazer confusão. O Che e eu discutimos feio na saída, quase saímos na porrada. Foi tenso e desnecessário. Não gostamos nem de lembrar, e nem falamos mais dessa noite.
No sábado passado, o álcool proporcionou momentos hilários na festa dos anos 70 e 80 que rolou na SAT. A Céia, uma das djs da festa, me deu vip. Estava animado mesmo pra ir e a Céia manda muito bem. Tocou de tudo um pouco. Decoração temática e a pista não estava muito lotada. Dancei muito. De repente, toca Macarena. Começamos a dançar. Estavam eu, o Che, o Neno, a guria que estava ficando com o Neno, e uma amiga dela. Um de frente pro outro, dançando a Macarena. Viramos o centro das atenções. A balada parou pra ver e pra acompanhar a nossa dança. Me senti num episódio dos "Normais", quando Rui e Vani dançavam a Macarena numa festa, de uma maneira esdrúxula. Logo depois, começou a lambada. Lembrei da Lislaine na hora, minha companheira oficial de dança. Já causamos tanto nos bailes juntos, com danças ousadas e sensuais. Bom, na falta da Lis, tirei a amiga do Neno pra dançar. E não é que deu certo? Um gingado, a entrega e a dose certa de sensualidade são necessários para a dança proibida, e foi o que houve. Foram duas músicas, alucinantes e contagiantes, haha. A vida tem que ser assim mesmo, a gente não deve se poupar de nada que tenha vontade. Não tem que ter medo de se relacionar, de conhecer as pessoas, de viver momentos com elas. Tudo é matéria fundamental pra nossa existência. A noite nunca tem fim.
Sexta-feira tinha sido mais light (ou não?). Bar do Deoclides com a Lis e o Che. Nós somos os três mosqueteiros, eles são meus amigos super-heróis A gente se entende, o assunto não acaba, compartilhamos muitas idéias. A Lis vai sempre de coca-cola. Che e eu de cerveja, é claro. Estava frio e logo eu me arrependi de não ter levado casaco. Sorte de que o Che não estava com frio e quebrou meu galho. Fui até perto da casa dele, conversando. Super-heróis sem poderes, sem poder de mudar nada, dois perdidos numa noite suja. Tem noite que a gente parece dois velhos reclamões. Que droga! Pra que passar tanto tempo tentando entender o que não tem explicação? Não tem motivo também pra lamentar tanto, se desculpar tanto e se agoniar tanto, por aquilo que a gente não pode mudar, que só o tempo faz. Eu tento ser um cara evoluído, adepto das novas modernidades, da revolução sentimental e organizacional vigente. Bebo pra entender, pra depois explicar, pra depois reclamar. Mas acaba tudo voltando a velha opinião formada sobre tudo, à Idade Média, àquela ultrapassada forma de sentir. Tudo vai virando lembrança e a gente espera o dia em que vamos poder dizer, mais seguros e maduros: "Lembra quando a gente via o mundo daquela forma? Que bobagem...". Tudo muda um dia.

2 comentários:

Paulo Rogério Rocco disse...

Acho que vou ali tomar um arsênico com sagatiba e já volto.

José Ono Junior disse...

Hahahhaha que posso fazer se é assim? heh