Clube do Bolinha

Na sexta-feira, Lis foi para o Hopi Hari, com a turma da escola, e passou o dia todo por lá. Saiu de Tambaú às 6 da manhã, e voltou às 2 da manhã de sábado. Tentei falar com ela, achando que ia chegar mais cedo pra gente poder sair, mas não rolou. Alan está ajudando na quermesse de Nossa Senhora Aparecida, toda sexta e sábado, na praça do Santuário. Ele faz parte do Grupo de Jovens, do qual todos nós já participamos um dia. Foi quando conhecemos a Lis e o Leandro, que logo começaram a fazer parte da nossa turma. O Alan é o único que ainda frequenta, e acredito que seja sempre quem mais precisou estar lá. O Éder não tem dia para aparecer. Ele trabalha num supermercado aqui da cidade e às vezes sai de lá 10, 11 da noite. Quando está muito cansado, nem aparece. Se vai aparecer, liga sempre no meu celular pra confirmar onde estamos.
O Che e eu nos falamos a noite na sexta, e combinamos de sair. Nos encontramos no posto, como toda sexta-feira. Eu sempre chego primeiro e meu destino é a loja de conveniêcia. Brahma Malzibier... hummm tão docinha... tá virando vício! Aí espero o Che e a Lis, e quem mais estiver, chegarem e decidimos nosso destino, que, no fim, acaba sendo sempre o mesmo hehe. Quando o Che chegou nessa sexta, nosso papo foi sobre música, sobre jazz e blues. Eu gosto muito de blues, do americano também. No Brasil, Cazuza nos presenteou com alguns clássicos. Lembro de "Bilhetinho Azul", da época dele no Barão:

"Hoje eu acordei com sono, sem vontade de acordar
O meu amor foi embora e só deixou pra mim um bilhetinho todo azul, com seus garranchos
Humm que dizia assim: "Chuchu, vou me mandar, é, eu vou pra Bahia, talvez volte qualquer dia
O certo é que eu tô vivendo, eu tô tentando, uhh, nosso amor foi um engano".

"Hoje eu acordei com sono, sem vontade de acordar
Como pode alguém ser tão demente, porra-louca, inconsequente e ainda amar?
Ver o amor como um abraço curto pra não sufocar".

O Che lembrou de "Telefone", do Tim Maia. Ele adora Tim Maia, sempre cantamos músicas dele nas madrugadas afora, chapados...

"Eu bem que te avisei, pra não levar a sério o nosso caso de amor
Eu sempre fui sincero e você sabe muito bem
Eu não te prometi nada
Não venha me cobrar por esse amor
Pois esse sentimento eu não tenho pra te dar
Sinto muito em te dizer, vê se tenta esquecer
Os momentos que passamos, que juntinhos nos amamos
Leve um beijo e adeus."

Meus amigos modificaram bastante, ou abriram meus olhos, para novas possibilidades na música. A Lis já me apresentou muito rock n' roll. O Che também, e rock nacional, mpb. Temos sim muitos gostos em comum nesse sentido. Pra ele, eu já mandei bastante música do Cazuza, Tom Jobim, da Shakira também, já que ele também é fã, de certo modo, de música latina. Ultimamente, ele tem me mandado vídeos dos episódios do Chapolin. Temos nos divertido muito, comentando as cenas. Nós somos fãs de Chaves e Chapolin desde crianças. Bom, tínhamos passado dois dias meio estranhos. Não conversamos muito, os dois com um mau humor danado, sem muita explicação. Quinta-feira, no teatro, o Paulo exibiu para os alunos o filme "Across The Universe", que tem toda história amarrada em cima de 33 músicas dos Beatles. Que maravilha! Um filme delicioso, com uma história de amor forte e comovente, que resistiu ao tempo, a distância, e a guerra. Tenho uma certa história com a obra dos Beatles. Sempre curti muito "I want to hold your hand", "Yellow Submarine", "Can't Buy Me Love", "Let It Be", "Hey Jude", "Help", e principalmente "Don't Let Me Down". O Pedro, fã incondicional de Beatles, que estudou comigo no Teatro-Escola Célia Helena e que foi um grande amigo que tive, me presenteou uma vez com um cd de uma banda em que participava. No cd, ele cantava "Don't Let Me Down". Foi quando conheci a música e amei logo de cara. Assisti o filme do lado do Alan, vidrado. Não perdi um segundo e, aproveitando a certa melancolia, ok, a forte melancolia, ah tá, a melancolia filha da puta que me fez chorar copiosamente no banheiro de casa, me emocionei no fim do filme também, que termina com um olhar apaixonado e esperançoso do casal protagonista, na cobertura de um edifício, nos levando a imagem da última apresentação dos Beatles. Essa noite foi foda, foi tocante! Sei lá, às vezes a gente segura onda demais, não bota pra fora aquilo que precisa dizer, que precisa fazer, as declarações de amor, de ódio, aí chega uma hora que tudo transborda, e a gente chora, chora pra valer, sentido mesmo. É uma forma de descarregar o peso. Fomos pro posto mas nem quis ficar muito por lá. Saí fora, sentei na praça, sozinho, com meu mp3 e uns 2 ou 3 cigarros. Queria essa solidão naquela hora. Não tinha onda pra segurar, nem muito o que dizer, nem fazer, nem quem amar, e nem quem odiar graças a Deus.
Ficou tudo certo na sexta a tarde, com uma notícia que veio pra salvar o final de semana. A peça "Sexo dos Anjos" foi classificada para o competitivo Festival de Teatro de Varginha. Foram 180 inscrições e nós ficamos entre as 10 selecionadas. O Paulo me ligou, na hora do almoço, me contando. Fiquei eufórico, queria contar logo pro Che a nossa conquista. Voltei para a biblioteca, deixei o estranhamento de lado, e dei a notícia pra ele. Ah, ficamos felícissimos. Isso nos alegrou muito, e o final de semana estava salvo, depois de uma ou duas palavras trocadas no fim do expediente que fizeram uma enorme diferença e que deixaram tudo bem de novo.
Depois do papo musical, dando uma volta pelo centro da cidade, encontramos o Elton e o William. Conheço os dois há algum tempo, através do Che também. William estava empolgado. Ele ia pra São Paulo no sábado para curtir o show do Scorpions. Falei com ele no dia seguinte e ele não cabia dentro de si de tanta felicidade. Ver a sua banda favorita cantando a trilha sonora da sua vida ao vivo, é algo pra não se esquecer nunca. Já passei por isso e foi louco, muito louco. Provavelmente, a chance de você ver a sua banda favorita uma única vez tocando ao vivo num show, é grande.
Bati os olhos na barraca de tapioca, e a vontade de comer uma de chocolate foi maior que eu. Conversa vai, conversa vem, Che e eu sobramos de novo. Sentamos na praça e sem muita ideia do que fazer, continuamos a falar. Fala do festival e fala do Cesinha, que está prestes a voltar a sair com a gente. Ele está bastante recuperado do acidente que sofreu no trabalho, e já recebeu permissão do médico para sair. Saudades do Cesinha! Disse pra ele no msn que vou enchê-lo de porrada quando o encontrar, e ele me disse que já acionou seus advogados hehe. Um tempo depois de conversa, Leandro apareceu. Nós três nos damos bem quando estamos juntos, sem a interferência das pessoas que adoram vilipendiar o Leandro, que o pegam pra Cristo mesmo. Gosto bastante dele, apesar de tomar certas atitudes às vezes que me tiram completamente do sério. Demorei a acostumar com o jeito pacíficador que o Leandro vê as situações, a própria vida, o jeito de sempre "deixar pra lá". Ainda me incomoda, mas hoje eu entendo mais. Sei lá, a gente tem que viver alerta. Recebemos sinais e mensagens todo tempo, bons e ruins, que basta um pouco de intuição para sabermos como aproveitar. E também não podemos deixar as pessoas mal intencionadas fazerem o que bem entendem de nós, não. Tem que se rebelar, cair fora de gente assim. A noite já tinha virado um Clube do Bolinha. No bar do Geraldo, que fica na praça, onde antigamente ficava a locadora onde eu alugava os filmes do Pestinha, e os cd's do Rei Leão e do Meu Primeiro Amor, o rock comandava no dvd ao vivo. Nós três e cerveja! E cigarro! Falamos de mulher, de política, de nós mesmos. Comecei a notar a cerveja fazendo efeito quando vi que não tinha percebido que meu copo estava furado, e que por isso, minha calça estava molhada. Detalhe!
Os caras foram jogar sinuca. Eu fiquei lá fora mesmo, com um cigarro solitário, e o rock de companhia. A noite estava tranquila, sossegada, sem stress. Uma última cerveja antes do Che ficar tentado a comprar os dvd's dos Cavaleiros do Zodíaco. Não, mas ele não comprou. No ponto de ônibus, sentados, a rua já praticamente deserta, batia um vento cortante. Não se via estrela no céu, e nem a lua. Ameaça de chuva? Não! Achamos que fosse, mas não choveu nessa noite. Curamos nossa solidão cantando. Nossa, já cantamos muito nessa vida juntos. Uma vez no ano passado, bebemos muito numa balada no Centro Cultural. Fomos pra praça 4 da manhã e cantamos muito. Eu fiquei deitado no banco da praça com garoa caindo na cara. O Cesinha, o Alan, o Éder e o Maicon estavam nesse dia também. Boêmio e inocente demais! Nessa sexta, Che e eu fomos de Roupa Nova, Só pra Contrariar, Alceu Valença, Cazuza, Juan Luis Guerra, Caetano etc... Foi legal! Há tempos, não tinha uma noite tão divertida, sem cara feia, trepidações, sem meias palavras, doces elogios escondendo fortes críticas. Quando está tudo bem entre nós, meus amigos são os melhores do mundo. Será que não são?

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