Todos os seus pedidos

"Eu pedi pro tempo passar bem devagar. Pedi que as noites fossem longas e silenciosas. Pedi que cada minuto virasse uma estrela, que fosse caindo aos poucos, no compasso do esquecimento. Eu quis muito que as horas ganhassem mais 60, 600, 6000 minutos, já que não era possível deixar tudo como estava pra sempre. Eu pedi que houvesse mais tempo pra tudo, e que esse tempo fosse longo e arrastado. Eu quis mais tempo pro vinho do final de semana, pra ressaca do dia seguinte, pra conversa com os amigos, para as apresentações culturais, até pro trabalho, mais tempo para ouvir música que faz lembrar e sonhar, mais tempo pra dormir, pra acordar, mais tempo de sol, mais tempo de chuva, mais dança, mais saudade e menos lamento, mais tempo pro amor e pro desamor também. Não dá pra controlar o tempo, não dá pra controlar nada, nada que vem e nada que deve ir. O tempo vai passando e esmagando tudo, sem dó nem piedade. O relógio não roda mais devagar quando a felicidade faz visita, ou morada".

A época do Natal é quando as famílias se reúnem pra celebrar, comer, beber, trocar presentes, relembrar aqueles que já se foram. Tem familiar que você só vê nessa época do ano, e se é chegado, nem dá tempo de contar tudo que aconteceu. Natal é com a família da minha mãe, sempre foi desde que me entendo por gente. Minha avó faleceu e minha mãe desde então é quem cuida dessas festividades. Num sábado desses, minha família se reuniu para um passeio em Ribeirão Preto. Tias, tios, primas, mãe, divididos em três carros, partimos para a minha cidade natal, onde faz o pior calor que já vi. Minha avó era descendente de espanhóis; meu avô, de italianos, de onde veio o "Tomazini". Essa mistura fez surgir uma família de sangue quente, verdadeiramente italiano, correndo nas veias.
É um tal de falar alto, de reclamar, de fazer confusão... É discussão na hora de decidir a hora da saída, na hora de estacionar, na hora de escolher o restaurante para o almoço, na hora de decidir quem senta com quem no restaurante, na hora de escolher em qual loja entrar... Nossa, que gente mais chata! Às vezes, olho para minha família e penso que a vida pode ser bem menos complicada. Em casa, não tenho problemas. Meus pais são sossegados. Vivemos em paz, mas também temos nossos ataques de arianos de vez em quando. O bom do passeio no centro de Ribeirão foi a loja de artigos de rock por onde passei. Fiz umas comprinhas: camisetas e pulseira. Antes, na Americanas, adquiri duas coletâneas oficiais dos Beatles, e uma do Michael, em promoção.
A promessa do passeio em família era finalizar com um cineminha no fim da tarde. Mas o único filme que caberia no momento, seria "O Massacre da Serra Elétrica", então abrimos mão da idéia. Nos contentamos em comer umas porcarias no Mc Donald's e fazer algum
as compras no Carrefour. Quando eu era criança, tudo parecia maior. Meu pai me levava sempre pra passear no Ribeirão Shopping, e me lembro da nítida sensação de querer morar lá. A prateleira de discos do Carrefour me enchia os olhos.
Queria comprar tudo. Hoje tá tudo tão banal. Nem se tem mais o prazer de se comprar um cd, sentir o cheiro do encarte, tomar cuidado pra não amassar, ouvir a obra completa e pensar na idéia que o artista teve. Tudo é resolvido através de um clique.
Chegamos em Tambaú todos exaustos. Tomei um banho e só quis ficar em silêncio, depois de um ou dois telefonemas. O silêncio tem me revigorado, quando tem sentido de paz e tranquilidade. Tenho pensado tanto, em tanta coisa que nem sei. Mesmo cansado, no sábado a noite, eu saí, com Che e Cesinha. Maikinho está namorando há 1 ou 2 semanas e parou de sair conosco. Nossa turma diminuiu mais um pouquinho. Nós três, querendo fazer a noite diferente, fomos para Santa Rosa, a cidade vizinha, com o John Móvel. Impossível não lembrar que, naquelas ruas, começou uma história de pouquíssimos capítulos, que acabou sem final, e sem muita audiência. Contrariando o agito que Santa Rosa foi naqueles dias de início de paixão, nessa noite, a cidade estava deserta. Eram 3 ou 4 gatos pingados. No Grêmio, lugar onde acontecem bailes toda semana, fomos impedidos de entrar. Era um baile para casais, mais velhos. Sentamos na frente de um boteco nos arredores da praça e bebemos umas cervejas.
Domingo foi dia de confraternização do teatro em casa. Os atores e atrizes da Quintal das Artes compareceram numa tarde de muito calor. Piscina, música, salgadinhos e churrasco! Wagner começou a festa me jogando na piscina, de all star e tudo. E depois foi indo, um a um pra dentro d' água. Num determinado momento, enquanto o som tocava Beatles, todos cantaram "Let It Be", numa grande celebração de jovens que tentam resgatar na arte e na música aquilo que a geração em que nasceram, não inspira. Strawberry fields forever!
Estes últimos dias foram de muito calor, e de chuva também, sempre a tardezinha.
Lislaine e eu passamos a semana
toda ajudando na decoração de Natal dos prédios da cidade que a Quintal das Artes ficou responsável de enfeitar. Na companhia do Zé Eli, ator do Grupo Curtura e funcionário da prefeitura há anos, e do Paulo, que quando não estava resolvendo algum problema, aparecia por lá. Nosso primeiro destino foi o prédio da prefeitura. Depois, fomos para a outra sede, que fica na antiga estação de trem da cidade, que mais tarde virou uma fábrica. E a última parada, foi no museu, que breve será inaugurado. Lis e eu nos divertimos muito. Zé Eli foi receptivo com nossas ideias e trabalhamos juntos numa boa. O que prejudicou foi o calor. Penso que bebia uns 2 litros d'água por dia. Almoçamos todos os dias numa lanchonete. Foi hambúrguer a semana toda. Vida de rei! Quando a prefeitura atrasava algum serviço ou quando esperávamos Zé Eli aparecer, Lis e eu deitávamos na praça Carlos Gomes, ligávamos o mp3 do celular e tentávamos nos refrescar do calor insuportável. A volta para a biblioteca foi na sexta-feira, com panetone pra comemorar o fim do trabalho que, aliás, ficou lindo.
Uma noite antes, os funcionários da biblioteca se reuniram na pizzaria para a confraternização de final de ano. Trocamos presentes num amigo secreto meio manjado. Paulo me presenteou. Eu
presenteei a Josi, que presenteou o Paulo. Marcinha presenteou Che, que presenteou Marcinha. Já Lis e Fatinha trocaram então presentes entre si. Gozado isso! Ganhei uma camiseta do Led Zeppellin muito da hora. Nossa, comi muito essa noite. E me diverti também. Nunca havia participado de uma confraternização de colegas de trabalho. Nunca estive trabalhando nessa época, certinho, com carteira assinada. Foi bom! Depois da festinha da biblioteca, Lis, Che e eu fomos para o posto. Nos últimos dias, Che andou muito estranho. Estava sempre sonolento, calado, com olhar triste, preocupado. Não respondia direito ao que se falava pra ele. Imaginei que fosse por causa da data da cirurgia, que se aproximava. E estava certo! Não posso negar que isso me preocupou muito e me deprimiu bastante também. Che sabe disso, viu isso. Ele não estava preocupado com a cirurgia em si, mas sim com o fato de ter que ficar em casa, de rep
ouso, sem poder sair. Eu passei semanas com isso martelando na minha cabeça. Não podia demonstrar, ficar tocando toda hora no assunto. Tinha era que dar força pra ele, tentar mostrar o lado positivo de tudo. Sei lá como eu me saí nisso. Ele me conhece tão bem, melhor que qualquer outro amigo meu, que acho meio impossível que não tenha percebido. Nessa noite, quando ele me deixou em casa de John Móvel, conversamos um pouco. Combinamos de aproveitar os últimos dias da melhor maneira possível, sem tristeza, sem fossa. E tentamos acreditar que os dias que virão, passarão logo.
Sexta-feira, fui com Che e Leandro até a prefeitura, onde está instalado o Presépio Mecânico "Paulo Rocco". Ele foi criado em 1945, pelo avô do Paulo Rogério, que era artesão, e há gerações, vem encantando as crianças tambauenses. São 150 figuras movimentadas, com muita luz, e um riacho que corta a cidadezinha. Che e eu encontramos todos os personagens desta história no presépio. Josi está na pontinha em cima do riacho, Fatinha está lavando roupa, Lislaine e Leandro no balanço do parquinho. Alan serrando madeira na casinha do lado do sino. E assim vai.
A noite de sábado foi da Lislaine. Che e eu fomos conferir o festival da escola de dança que ela frequenta. Já tinha visto Che a tarde. Ele foi até em casa e assistimos partes do filme do The Doors. Paramos porque íamos nos atrasar. O festival estava com um público muito grande. Foram 2 horas de espetáculo. Lislaine apareceu na parte adulta, dançando lambada, dança de salão, tango, cha-cha-cha e forró. Ela é alta, grande, luminosa. Lis se transforma dançando, vira outra pessoa bem diferente da desajeitada de voz fraca que aparece toda semana por aqui. Ela cresce, tem movimentos certeiros, e as pernas mais bonitas que eu já vi numa garota de quase 18 anos. Senti muito orgulho dela. Tinha mesmo que estar ali prestigiando seu trabalho.
No meio do festival, Che e eu nos estranhamos, após uma piadinha qualquer, bobinha. Eu mesmo nem entendi. Na verdade, o mal de sermos próximos demais é a liberdade que temos um com o outro de ficarmos putos, de descontarmos um no outro nossa raiva, seja ela qual for. Mas isso não atrapalhou a noite. Logo esquecemos. Nós, Cesinha, Neno e Du, um amigo de infância do Che que eu conheci através dele já há algum tempo, fomos para a Lex Luthor. Lá fora, chovia. E lá dentro, estava um calor insuportável. Pingávamos suor. A ventilação da balada é péssima. E a banda era ruim também! Sei lá, eu mesmo não estava nem aí. O que menos me interessava nessa noite era me divertir na balada. Meus pensamentos eram outros. Che e saímos e sentamos, debaixo de chuva, lá fora. Foi uma conversa deprimida, sobre a vida, sobre o que ainda estava por vir. Penso que disse tudo que queria dizer. Ele está comigo o dia todo, em tudo que eu faço, em toda minha rotina. Quebrar isso assim, agora, de uma hora para outra, vai ser difícil mesmo. Ele representa um grande apoio que tenho, uma grande segurança. Durante muito tempo, nada que acontecesse era tão ruim, porque ele esteve comigo. E eu sempre retribuí isso também. Durante muito tempo, eu não fiz nada na minha vida sem antes saber sua opinião, sem ouví-lo. Há uma semana, era só nisso que eu pensava... Saímos de lá às 4 da manhã, já com os meninos por perto. Nem senti a hora passar. Voltamos a sorrir, e a noite acabou.
O dia seguinte foi em família novamente: aniversário da Giovana, a nossa priminha caçula. Há anos que a festa acontece em casa. Meus pais são padrinhos dela. A família toda estava lá. Meus primos de Campinas, minha prima Andresa que se casou esse ano, até o Juninho, irmão dela, que também é meu padrinho, por quem tenho grande respeito e admiração. Aline foi com o namorado novo, gente boa! Ele encarou a família na viagem para Ribeirão Preto também. Primeiro dia com a família da namorada, ele foi um dos que mais suou naquela tarde quente... No fim da festa, minha família tirou os papéis do amigo secreto. Sim, minha família faz amigo secreto há anos. Acaba sendo divertido e inusitado! Coloquei Beatles pra tocar, para que relembrassem os velhos tempos de bailinho na sala da casa de minha avó, quando usavam papel crepon na lâmpada pra colorir o ambiente.
A noite de domingo foi repetitiva. Meus amigos e eu sentamos numa mesa do Bar do Mancha, pedimos um vinho e ficamos lá conversando, ouvindo Raul, como muitas vezes nesse ano. Pra mim, essa repetição foi o melhor que poderia ter acontecido. Me senti protegido, invencível, como se começássemos tudo de novo, como se a história voltasse atrás para revivermos os melhores momentos num flashback da vida. Olhei aquele cenário, aquelas pessoas, Cesinha, Elton e Che, e uma melancolia doce pairava em cima de nossas cabeças. Olhei para o Che, que é um cara muito desligado, avoado, e dessa vez, foi só o que bastou para ele entender tudo que eu queria dizer. Todos nós rimos, conversamos, brincamos muito nessa noite. Aproveitei cada segundo, como quando assisto um filme agradável na tv e rezo para que não acabe logo.
A segunda passou. E terça foi o último dia do Che na biblioteca, antes da cirurgia. Nos últimos dias, mal se ouvia a voz dele por lá. Saí mais cedo os dois dias para ensaiar os atores da peça para uma apresentação, na frente do museu da cidade. Debaixo de um sol escaldante, os atores mandaram ver nas coreografias da peça nas escadarias do museu. Mais tarde, teve a sessão solene no Salão Paroquial, promovida pela Câmara Municipal, que premia os melhores alunos, atletas e atores do ano. Che estava lá com a mãe e a irmã. Neto, Gabriel e Tales foram prestigiar os colegas. Lislaine também apareceu. Joãozinho estava lá fora quando cheguei e, vez ou outra, entrava para pegar uns salgadinhos e um copinho de refrigerante, na maior cara dura. A sessão solene seguiu tranquila, com alguns erros técnicos, alguns erros de português e alguns discursos
descabidos. Sempre pensei que, quem não tem o que dizer, não deve dizer nada. Mas, o mais importante da noite aconteceu: a alegria de Che e Camila ao receberem as placas, de melhor ator e melhor atriz do ano de 2010.
Saímos de lá, Che, Lis e eu, debaixo de uma garoa que caía desde às 7 da noite. Andamos pela rua Dr, Alfredo Guedes, onde as lojas estão abertas. A rua está toda enfeitada, mas o movimento, por causa da chuva, ainda não surpreendeu. O clima era de felicidade, com um certo incômodo escondido. No dia seguinte, Che iria fazer sua última consulta com o médico, e enfim, saber a data da cirurgia. Seguimos até a praça Carlos Gomes. Tiramos algumas fotos. Foi quando olhei para os dois, abraçados, e pensei no quanto que eles são importantes pra mim, em quantos momentos
compartilhamos juntos durante todo esse tempo. Queria imortalizar isso tudo, guardar tudo numa caixa e abrir toda vez que a solidão ameaçasse aparecer. Che e Lislaine estão comigo desde quando voltei de São Paulo, com uma mão na frente e outra atrás, sem amigos, começando minha vida de novo. E eles são com certeza, os melhores amigos que poderia encontrar.
Dia seguinte foi de correria. O evento "Natal na Estação" estava sendo preparado na frente do museu. E os funcionários da biblioteca estavam ajudando na organização. Fatinha e Josi saíram para comprar os comes-e-bebes que seriam servidos aos integrantes do coral. Marcinha fez o café e o chá. Eu fiz, de última hora, o texto de apresentação do evento e a divulgação
pela internet. Lis ajudou nós todos, em tudo. Paulo deve ter passado quase o dia todo lá, arrumando o palco, checando o som, preparando o museu. Saí da biblioteca às 6 da tarde e quando estava no caminho de casa, Paulo me ligou. Queria saber se Che toparia se vestir de Papai Noel. Eu tinha certeza que sim. Quando cheguei em casa, no telefone com Che, que já havia chegado de São João, ele confirmou o que pensei, ele seria o Papai Noel naquela noite. E disse também que iria se internar no dia seguinte, de manhã. Serão 8 meses de fisioterapia diária, dependendo da sua recuperação.
A chuva não deu trégua para o nosso natal na estação. A iluminação fica até mais bonita em noite de chuva, mas não era o que queríamos naquela hora. Na incerteza de como tudo
aconteceria, foram aparecendo os alunos do teatro, o pessoal da biblioteca, as autoridades, Che,
Lis, e finalmente, o coral "Cantigas e Modernas", de Santa Cruz das Palmeiras. Enquanto esperávamos, o som rolava lá fora com músicas de Natal de John Lennon. De repente, "Imagine" ecoou na praça Carlos Gomes. A galera do teatro estava quase toda com camisetas de bandas de rock. Che, Neto e eu, vestíamos camisetas dos Beatles. Num coral improvisado, todos cantaram a canção imortal de John Lennon das janelas do museu, com os braços para o ar, e o coração cheio. O evento teve início, ali mesmo, na varanda. O coral de Palmeiras iniciou sua apresentação dentro de uma das salas. E nós assistimos todos da varanda. Foi emocionante, de arrepiar. A cantoria começou com "Chalana", passou por "Marcas do que se foi" e terminou com "O Natal existe", clássica música que eu cantei na formatura da primeira série, quando tinha 8 anos e estudava na escola Padre Donizetti. O elenco da peça e os músicos Clayton dos Reis e Jader de Oliveira, não se apresentaram. A chuva não deu trégua. Mas o Papai Noel tinha que aparecer de alguma forma. Convenci o Che a vestir a roupa do bom velhinho. Tiramos muitas fotos, todo mundo se animou, e eu tenho certeza que ele não irá esquecer disso nunca.
A noite foi chegando ao fim. Sobramos Che, Lis e eu. Sentamos protegidos da chuva e ficamos um tempo em silêncio. Os três sabiam da realidade do dia seguinte e queriam que não fosse verdade. Meio em dúvida, fomos para o posto. Ficamos por lá uns 20 minutos. Arriscamos mais umas fotos, algumas piadas pra descontrair, e o silêncio que ainda predominava. Entramos no John Móvel e saímos para ir embora. No caminho até a casa da Lis, o silêncio agora era ensurdecedor. Mas não tínhamos mesmo muita coisa pra dizer. Já que tudo aquilo era verdade, que então passasse rápido e da melhor maneira possível. Eu quieto, no banco de trás, baixava os olhos. Não queria que vissem nenhum reflexo do meu rosto, em nenhum espelho. Tínhamos que ser fortes. Afinal, tudo dará certo. Deixamos a Lis e seguimos para minha casa. Eu pensei em tanta coisa que queria dizer naquela hora. Sabia que seria ruim, doloroso, mas era a chance de dizer o quanto me importo, e dar força pra ele. Mas não consegui, sequer abraçá-lo. Apertei-lhe a mão, disse que ficasse com Deus, e que, qualquer coisa que precisasse, qualquer hora, quando se sentisse sozinho, poderia me ligar. O que eu mais quis naquela hora foi sair do carro, me esconder. Me senti um copo transbordando. Não ia conseguir dizer nem fazer mais nada. Saí do carro, o vi dobrando a esquina, e fiquei um tempo, estático, no portão de casa, sem reação. Como podia ter sido tão trouxa de não ter dito nada, de não demonstrar o quanto será ruim ficar longe, mesmo que ele já soubesse, mesmo que todo mundo já soubesse. Entrei, liguei pra ele no celular. Nos falamos depois pela internet, durante uns 15 minutos. Ele tinha que dormir, pois sairia de madrugada. Eu disse o quanto que me importo, reafirmei que ele pode contar comigo pra tudo, e prometi que, no ano que vem, tudo será melhor. Os últimos tempos foram difíceis pra nós, só nós que sabemos. E só eu posso mudar isso, mesmo que me acabe, que seja a duras penas. Tudo será diferente, eu jurei isso. Sequer deixei que ele falasse algo sobre isso, é um compromisso que assumi. Pedi que ele me ligue quando chegar. Um pouco mais aliviado, nos despedimos. Ao invés do tradicional "até mais" que a gente sempre usa, enviei um "Abraço, amigo!". Ele retornou com um "Abraço, irmão!". Foi quando a noite mais triste do ano, acabou.

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