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Eu estou na contra-mão de tudo. Os carros passam a 1000 por hora e não me atropelam. Caras feias me olham e me julgam. Me sinto sozinho essa noite. É o estopim. Tenho guardado muita coisa, muito lixo. Seguro firme e enfrento tudo de peito aberto, mas tem hora que não dá. O copo enche e derrama. É horrível essa sensação de sempre querer estar em outro lugar. Hoje, a solidão me cabe como uma luva de 5 dedos que me massacram. Vontade de sair correndo, de desaparecer no breu, de não deixar vestígios. Abro mão essa noite de qualquer esperança de que algo que já é velho venha a acontecer. Quero o novo, quero querer o novo, ver outras e novas possibilidades, jogar fora pedaços perdidos de histórias inconcretas, e fechar esse livro. Estou cansado, exausto. A vida tem passado por cima de mim e me estagnado. Eu estou na contra-mão de tudo. Quero paz quando todos estão com armas em punho. Quero guerra quando as bandeiras brancas estão na janela. Quero dançar no sofrimento, sofrer doloroso em dia de festa. Quero o amor impossível, quero o amor doente, que sangra, quero o novo amor que chega como brisa mansa, mas não cobre o vazio. Quero todo mundo a minha volta tocando violão enquanto canto. Quero piano mágico que toca sozinho no escuro. Quero cerveja em dia de semana, quero água em encontro de bêbados. Quero a minha vida de volta. Quero poder caminhar sozinho, sem precisar que ninguém me complete, nem que segure a minha mão, menos ainda que me bata nos ombros com piedade, que me dê abraço afastado. Quero perder a sensação de que fui inventado. Quero me reinventar, ou simplesmente lembrar que eu sou. Quero água de riacho passando e levando tudo embora, de uma vez, e deixando apenas eu, o que eu era, meus gostos, minhas músicas, minhas fotos, minha gente, meu coração, meu, só meu. Estou caindo fora, pra voltar a ser eu.

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