Um novo episódio

Fade in. Noite. Movimentação de carros e pessoas. Rua, fachada da Lex Luthor. O final de semana passado não havia sido nada expressivo. Os mesmos lugares de sempre com as mesmas pessoas e os mesmos conflitos. Tinha algo pior no ar, a ressaca sentimental do que não havia acontecido em São Paulo. Sábado, a noite foi na Lex Luthor. Mais uma vez, de certa forma, contrariado, eu fui. Ficar trancado em casa nessas horas não resolve muito, principalmente se tudo que você vê, toca e sente, te remete a uma sinestesia involuntária. Sair talvez também não fosse bom negócio. Isso é terrível, brega e um grande chavão nos meus textos e nos meus dias, mas em cada canto que passo, em cada parede e esquina que cruzo, existe um pedaço do meu coração. Arghhh... Essa foi a pior! A gente vai vivendo e espalhando histórias e sentimentos, mal-resolvidos, inconcluídos e jamais imaginados. Bom, a Lex Luthor estava lotada. Muita cerveja, algumas danças esdrúxulas, a volta do conselheiro sentimental, que só sabe ajudar os outros e não dá jeito na própria situação, e nada mais. Domingo a tarde, uma breve tentativa de diversão na Trilha de Jeeps e Gaiolas, mas a poeira cegava os olhos, secava a garganta, deixava tudo meio nebuloso, confuso e absurdo. Stress, cara feia, refúgio do lar doce lar. A noite, nem o vinho que estamos acostumados apareceu. A ressaca de sábado ainda estava presente, e o dia seguinte prometia muitas incertezas.
Na segunda de manhã, começou na biblioteca o Projeto Agosto Folclórico. Receberemos, durante 2 semanas, alunos das escolas de Ensino Fundamental da cidade para conferir exposição de brinquedos, contação de histórias e teatro com personagens folclóricas. Estávamos todos eufóricos, não sabíamos como ia ser, mas tiramos tudo de letra. A primeira vez é sempre mais difícil, não tem jeito. Os atores da Quintal das Artes estão dando um show de interpretação, divertindo e encantando as crianças. A Fatinha, funcionária da biblioteca, tem um jeito todo especial para contar histórias aos pequenos. As professoras, na sua maioria, saem satisfeitas da biblioteca, que possui agora novas instalações e está totalmente modificada para atender às necessidades dos seus sócios. O fato é que o projeto vem sendo muito prazeroso para todos nós. Especialmente em relação ao Teatro, é maravilhoso trabalhar para crianças, o público mais sincero que pode existir. Vê-los com os olhinhos brilhando ouvindo o canto da Yara, e dando gargalhadas com o fazendeiro correndo atrás do Saci e do Lobisomem, já vale todo trabalho.
A noite de segunda-feira previa uma grande tempestade. Ainda tentava entender o que havia ocorrido na sexta-feira. Tentava também encontrar a melhor forma de lidar com o aparente desprezo que enfrentava. Foi então que, um recado muito bem dado apareceu numa das páginas da internet que, até esse dia, eram constantemente acessadas por mim. Era o fim! Depois disso, já não havia mais o que fazer. O final de semana tinha sido ruim só pra mim, só pra mim mesmo. As paixões podem acontecer a todo momento, em qualquer lugar, com qualquer pessoa. Ninguém está livre da flecha do Cupido, do encantamento de algo novo, da chance de se abrir a uma nova possibilidade. Mais cedo ou mais tarde, isso iria acontecer. Era previsto. Depois da "temível" certeza, a cena seguinte foi de nó na garganta, olhos bem abertos quase pulando pra fora, frio na barriga, e a clássica pergunta: "e agora?". Não, não chorei, não fiquei mal, felicidade também não foi, sei lá. Grito de socorro no msn! Mais uma vez, foi o Che que estava lá para me ajudar. Conversa vai, conversa vem, um conselho, uma palavra de ajuda e, aos poucos, a sinceridade foi tomando cada vez mais espaço, virando um grande desabafo, sem choro, sem velas, um diálogo de adultos com doses cavalares de verdade (minhas estúpidas e desinteressantes verdades que nunca dizem nada a ninguém). Dormi sem saber como seria o dia seguinte. O dia seguinte? Sabe quando parece que você carrega o mundo inteiro nas costas, quando você sai do trabalho cheio de materiais, de tralhas, e chega em casa querendo se livrar do peso, senta no sofá e estica as pernas? Então, a sensação era de alívio. Há tempos eu não me sentia tão bem, tão feliz e disposto. Não entendia muito bem o porquê que a notícia da noite seguinte não causava efeito colateral nenhum. Eu só sabia, naquela manhã, que aquilo era exatamente o que eu precisava, pra cortar as correntes, pra voltar a respirar, pra pegar o lápis e botar o ponto final nessa história inacabada, complexa, que já tinha durado muitas temporadas, tinha cansado o público, e que, se continuasse, seria história repetida. Foi lindo tudo que vivi, não abro mão de nada, não renego e não me arrependo, mas a vida e o amor sabem muito mais que nós. Se eles nos mostram que acabou o caminho, que é fim de linha, que o jeito é descer do trem, não há mais o que fazer. É luta perdida. Saio de cabeça erguida, não estou em cacos, nem em ruínas. Também não vou ser hipócrita de dizer que saio satisfeito. Saio conformado, mas é aquele conformismo bom, que não me deprime e nem faz com que me sinta derrotado, fraco. Saio de cena com a sensação de que, da minha parte, tudo que poderia e deveria ser feito, foi feito.
A semana passou como um foguete. O projeto na biblioteca faz com que o dia seja mais curto. Mantenho ainda a mesma adrenalina de sempre quando os alunos da Quintal vão entrar em cena. Fico mais #tenso quando vou acompanhar uma apresentação deles, do que quando vou atuar. E essa sensação duas vezes no dia, não é mole não. Ainda falando sobre Teatro, quinta-feira foi de noite decisiva. Dividimos o grupo e decidimos, enfim, o elenco dos dois musicais que a Quintal das Artes vai estrear, se tudo der certo, até o fim do ano. Paulo e eu vamos trabalhar juntos, mas prioritariamente, a direção de "Casa de Brinquedos", com músicas de Toquinho, será do Paulo, e eu fico com a direção da outra peça, "Somos Todos do Jardim da Infância", texto de Domingos de Oliveira. Para definir o elenco dessa última peça, fizemos uns testes de dança com os atores. Ao som da música "Broto Legal", grande sucesso da década de 60 com o cantor Sérgio Murilo, os atores, divididos em pares, apresentaram uma coreografia. Lislaine foi meu par e me ajudou a passar a coreografia para eles. Nisso, foi joelhada, cotovelada, chute pra todo lado. Muitos tombos rolaram e as marcas desse momento especial continuam em mim e nela até hoje hehe. No fim, deu tudo certo. Agora, é trabalhar com os grupos separadamente e montar os espetáculos.
Sexta-feira a noite chegou e o destino foi o bar do Deoclides, depois de uma passadinha no posto. Fomos eu, a Lis, o Éder e o Che. Estava animadíssimo. A pedida foi cerveja. Coca-cola para Lislaine! A conversa foi divertida e bem cabeça. O tema? As eleições, mais precisamente, o horário político obrigatório, que vem tirando, mais uma vez, um grande sarro da nossa cara e de todos os brasileiros. Que tipo de gente esses candidatos pensam que vive aqui no Brasil? Como não nos sentirmos humilhados perante o despreparo visível dos que concorrem a cargos importantes na política do país? Como é triste ver o quanto que o brasileiro tem memória curta, e o quanto que a lei do pão e circo sobrevive ainda nos dias de hoje... Bom, o papo rolou em tom de comédia, com uma certa indignação implícita. Depois, encontramos Aline e Giovana no bar. Conversamos bastante. Já estávamos indo embora. A noite foi calma e agradável. Sábado a tarde, reencontramos Aline e Giovana em um churrasco. Dessa vez, Che foi comigo. Lis não apareceu, dormiu a tarde inteira. Che me ensinou a jogar truco. Fiz dupla com Aline na mesa. Giovana foi com o Che. Estavam lá mais uns amigos da Aline, e a irmã da Giovana que disse que acessa meu blog hehe. Tomei muita cerveja e alguns goles de caipirinha. 7 e meia da noite, já estava em casa. Soube depois que o churrasco durou até às 4 da manhã. Haja energia! Enquanto o churrasco continuava na casa da Aline, estávamos na praça. Maikinho e Leandro, que estava impossível falando mais que a boca, também apareceram. O fim da noite foi na lanchonete, perto de casa, o que facilitou bastante o caminho de volta.
Domingo, passei a tarde toda em casa, depois de um almoço delicioso na casa da tia. A noite não saí, tive que ficar em casa, mas me parece que não fiz muita falta... Bom, tem um lance acontecendo desde segunda-feira passada. Alguém com quem converso há bastante tempo no msn, esteve se comunicando bastante comigo nos últimos dias. Mora um pouco longe, é adorável, gostos parecidíssimos com os meus. Recebi depoimento todo dia, liguei algumas vezes. Ontem nos falamos no msn a noite, por isso que não saí. Sei lá o que está rolando, sei lá se vamos nos encontrar, mas, no meio de tanta coisa ruim e confusa, é uma luz, dá pra se distrair, com esse amor inventado, uma forma de acreditar que nem tudo está perdido. Estou me acostumando com esses lances que duram pouco tempo, poucos episódios. Hoje em dia, quem tá querendo se amarrar de verdade? Ninguém! É só beijo, sexo, pele. Eu, como estou ainda na Idade da Pedra e não me adaptei a todas essas modernidades, vou acreditando que um dia apareça aí alguém, que fique de verdade, que entre para a história de verdade, e que não apareça só pra ensinar uma lição e sair fora, deixando mais uma vez que eu termine a cena assim, de costas pra câmera, ainda caminhando, ao som de algum rock ultrapassado dos anos 80 ou 90. Sobe a câmera, que foca agora a paisagem do sol se escondendo atrás da montanha, em meio às chaminés de uma cerâmica, que estão em primeiro plano, revelando uma paisagem bucólica de um inverno às avessas. Fade out.

Nenhum comentário: