Divagações

Domingo a noite...
A noite não foi nada boa. Por mais que tentássemos ficar bem, tomando aquele vinho de sempre ao som das mesmas músicas, por mais que ríssemos de algumas histórias engraçadas que surgiram no meio da conversa, o clima não estava bom. Não conseguíamos ficar bem, depois do acidente que havia ocorrido de manhã. Faltava um na mesa. Não me arrependo de ter desistido do show em Pirassununga. A Aline, minha prima, me convidou. No início, eu me animei, mas a noite me mostrou depois que tinha mesmo que ficar aqui, ao lado dos meus amigos. Além disso, eu também tentava me recuperar da esquisita noite de sábado.

Sábado a tarde...
Dia de pular cedo da cama, de ser expulso do meu quarto, pelo menos até depois do almoço. Conversas no msn tentavam desvendar o que seria da principal noite do final de semana. Não queria ir no baile, pra ser bem sincero. Já previa que seria ruim, já previa tudo que iria acontecer. As lembranças do mesmo baile do ano passado vieram com força. Nem a tentativa forçada de dormir pra parar de pensar, deu jeito. No Se7en do ano passado, eu fui acompanhado da pessoa mais especial pra mim naquela época, que era quem me achava mais especial também. Há um ano, a noite tinha sido mágica. Mas o baile desse ano se mostrava uma possível grande catástrofe. Mas eu não queria acabar com o barato de ninguém, afinal, qualquer tipo de sofrimento, desilusão e/ou desesperança, é único, é só seu. Ninguém tem que se compadecer por isso. Então, para não parir no mundo mais um sofredor, decidi ir, afinal, a noite só não prometia para mim...

Sexta a noite...
O espetáculo foi ótimo, para um público pequeno, porém encantado. Tudo saiu dentro do esperado, apesar de alguns erros imperceptíveis que logo tiveram conserto. O espaço é maravilhoso. Me senti muito mais seguro dessa vez, sem aquela trepidação dos tablados da SAT, que me travava de alguma forma. Chegamos em Tambaú por volta de meia-noite. O cansaço nos dominava e o frio também! Mas valeu a pena! É sempre especial estar em cena, ainda mais com essa peça, "Sexo dos Anjos", que possui uma história maravilhosa que me transporta do céu ao inferno, do choro ao riso, em segundos, durante 1 h.

Sábado a noite...
Eu sempre tento honrar meus compromissos morais com todas as pessoas, cada uma com aquele tanto que merece, e que devolve. Meus amigos merecem meu carinho, meu respeito, minha preocupação, minha atenção. Ninguém aparece na vida da gente por acaso. Tudo faz sentido, uma hora ou outra. Às vezes, as pessoas se perguntam, eu mesmo já me perguntei, por que eu não conheci fulano antes... por que você apareceu na minha vida só agora... Ora bolas, simplesmente porque não era hora. Tudo tem a hora certa pra acontecer e os caminhos se cruzam (e se descruzam) o tempo todo, nessa louca roda da vida, nesse teatro de doidos, e tudo vai se transformando. De qualquer forma, é difícil aceitar que hoje, depois de ter feito tanto, depois de tanta amizade, de tanta preocupação, de tanta noite, hoje perdida, ouvindo lamúrias e lamentações, em que eu dava conselhos de coração aberto, eu seja visto de maneira inferior, simplesmente porque não ajo exatamente da forma que a maior instituição do mundo quer que eu aja. Eu não sou santo mesmo, estou bem longe disso. Não sou um poço de bondade, tenho minhas fortes convicções, que são mais defesas do que convicções. Não vou a missa, não comungo, rezo todo dia antes de dormir, mas com fervor, só quando o calo aperta. Tenho minha fé, meus santinhos no quarto, e busco meu lugar no céu, por quê não? Mas tenho minhas opiniões sobre a instituição igreja católica, duras opiniões, que fazem com que tenha a minha fé, o meu contato com Deus, sem precisar ir a lugar algum, sem precisar me dispor a olhares indiscretos, a hipocrisias levianas, a assistir competições doces de seres de egos inflados... Isso não me faz melhor ou pior do que ninguém. Não estou nem mais perto, nem mais longe da luz, nem tão pra baixo, nem tão pra cima. Deus está presente em minha vida, eu sinto isso, é pessoal, intransferível, e isso não está sob julgamento de ninguém. Não pensem nada sobre isso, não me julguem, não por isso. É só meu. A fé de cada um é particular, e ela não tem nada a ver com caráter.
Fora mais uma demonstração da abitolação religiosa vigente, a noite de sábado foi como tinha que ter sido, como a tarde previa. Foi filme repetido. Cada coisa no seu lugar, e o que estava fora, continuou fora do lugar. Uma, duas, quatro, sete cervejas tentando ser adereços de piratas, mas o outro ficou aberto... Batidas na parede, tateando no escuro procurando a cama, barulho, e o sossego do sono curativo. Vem, amnésia!

Sexta a tarde...
Mexer na iluminação do teatro me causa calafrios. É muito fio, muita tomada, incerteza de voltagens. Tentei descontrair com uma piadinha, uma dancinha dos Rolling Stones. Queria dormir. Todo mundo tirou um cochilo. Mas eu não consegui. Fico agitado demais, ansioso demais pra dormir. Tudo pronto. Sol fraco lá fora. O sol morrendo atrás das casas das cidadezinhas do interior me deixa melancólico, e ao mesmo tempo, penso no quanto que a vida é bonita, sim, bonita mesmo. A Lis apareceu e fomos tirar fotos. Muitas fotos! Sujamos a calça na pista de skate. Escorregão-master da Lis, e depois um mergulhão meu em solidariedade. Resultado: as fotos mais bonitas da tarde! Comer pastel na cidade era a pedida antes de começarmos a nos arrumar. Estávamos eu, a Lis, o Paulo, o Che e a Carolzinha, que foi a maquiadora da noite.

Domingo de manhã...
Dia dos Pais. Almoço em casa com a família reunida. Levantei da cama e vi o mundo girar. Ressaca? A sinusite estava pior. A noite anterior foi fria demais, e meu nariz doeu a noite toda. Tomei muita água, meu corpo pediu alguns ml's. Entrega de presentes para meu pai, meu pequeno grande super-herói, meu maior ídolo. Ele adora ganhar presente, fica radiante. Ele fez churrasco de novo, e o churrasco que meu pai faz é o melhor do mundo... A Aline apareceu me contando as novidades do final de semana. A expectativa do aniversário dela na semana que vem já começou a tomar conta. Família é tudo igual, e tem dia que adoro passar o dia com eles.
Pouco antes, o Che me ligou para dar uma das notícias mais desagradáveis dos últimos tempos. Nosso amigo César havia sofrido um acidente no trabalho e estava ferido, com queimaduras. Conheci o César através do Che já há algum tempo. Ele faz parte da nossa turma e todo final de semana nós nos vemos. Ele também é nosso companheiro de vinho, de rock, e de balada também. É uma pessoa incrível, com um coração do tamanho do mundo. Um grande cara, um grande amigo.
Hoje, segunda-feira, foi dia de visitá-lo, na casa dele. Fomos a Lis, o Che, o Maicon e eu. Ele está bem, todo enfaixado, ainda sente dor. Não foi nada agradável vê-lo daquela forma, ainda mais o César que nunca vi fazer mal a ninguém. A gente vai vivendo e ganhando lições. A lição de hoje foi o César que deu. Apesar de tudo, está lidando com a situação de bom humor, tentando ver o lado positivo da história, sem se deixar abater, e prometendo voltar logo. Agora é torcer pela recuperação dele e para que, em breve, num sábado despretensioso aí, ele apareça de novo.

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