Todo mundo odeia...

... teatro de fantoches
A semana começou com muita expectativa. Na segunda de manhã, começaram os preparativos para o teatro de fantoches que ocorreu na biblioteca, em comemoração a Semana do Livro. Fatinha e eu fomos buscar o palco no Santuário, com a Catarina, o carro dela. Depois de tirarmos o palco pesado da igreja, ele não coube no carro. Nossa sorte foi que um caminhão da prefeitura estava por lá com os jardineiros, e eles ofereceram ajuda. Passamos a tarde toda ensaiando na cozinha da biblioteca, com a Carolzinha, o Wagner e o Caio, os atores da peça. Depois, Che e eu saímos mais cedo e fomos para a SAT, de John Móvel. A moto do Che estava com problemas em um dos pneus, que furou num dia desses em que ele ia para o trabalho, então ele estava com o carro. Paulo não pôde aparecer e ensaiamos sozinhos, sem cenário nem nada, só batendo o texto. Terça-feira foi dia de montar o outro cenário, na biblioteca. Fatinha e eu passamos o dia todo fazendo isso, esticando cortina, desmontando estante, encapando a casinha, instalando o som. Che também ajudou. Estava tudo pronto e chegava a hora do ensaio. Eu sei que saímos de lá umas seis e pouco da tarde, mas deixamos tudo pronto. A noite teve ensaio de "Somos todos do jardim de infância". Paramos de ensaiar a outra peça temporariamente, já que estrearemos o musical dos anos 60 antes, no final desse mês. A quarta-feira chegou e meia hora antes do previsto, a biblioteca já estava cheia de crianças para assistirem o teatro de fantoches. Cerca de 100 alunos das escolas de ensino fundamental compareceram na biblioteca no período da manhã acompanhados dos professores. A tarde, mais 150. Estava um calor terrível. Mas deu tudo certo. Todos saíram satisfeitos com o trabalho e mais uma vez a biblioteca apresentou um ótimo projeto. A história da peça foi adaptada por mim e pela Fatinha. O sapo Risonho se apaixona pela macaquinha Lindinha, e com a ajuda do amigo-jacaré Bacana, tenta conquistar sua amada com a brincadeira do bem-me-quer, mal-me-quer. A peça divertiu as crianças, que cantaram, dançaram, riram e treinaram matemática com os personagens.
Che chegou meia hora atrasado esse dia na biblioteca. John Móvel deu problema, quebrou o freio de mão quando ele saía do posto, depois de ter sido abastecido. Che desceu de bicicleta até a biblioteca numa carona oportuna do Alan.
Lis não apareceu na biblioteca esse dia. Ela mandou uma mensagem no meu celular. Sua avó havia falecido naquela madrugada. Ligamos pra ela ao sabermos do ocorrido.
A noite, mais uma vez, tivemos ensaio do musical dos anos 60. A peça está pronta.
Faltam alguns ajustes nas coreografias e na interpretação dos atores, mas confiamos e trabalharemos muito para que ela estréie da melhor maneira possível.
Quinta-feira de manhã, mais uma apresentação do teatro de fantoches, a última. Um pouco antes do almoço, Paulo apareceu na biblioteca com o jipe. Ele, Che e eu fomos levar o palco de volta ao Santuário. A essa hora, a ansiedade para a viagem no dia seguinte já começava a aparecer. A tarde parecia que ia ser tranquila na biblioteca, só não foi por causa de um dos computadores que explodiu, de repente, assustando a todos. A noite, Che, Lis e eu nos reunimos em casa para assistirmos o dvd do "Sexo dos Anjos", o que prometíamos fazer há tempos. Conversamos sobre a peça, sobre nossos personagens, nossa interpretação, empolgados com a viagem do dia seguinte.

... festivais de teatro
Acordei seis da manhã. Minha mala já estava pronta. Faltava só juntar o que ia levar na mochila. Óculos de sol, celular no bolso, fone de ouvido pendurado no pescoço, café tomado, all star no pé, e simbora pra casa do Paulo, nosso ponto de partida. A kombi chegou um pouco atrasada. Na hora de carregar o cenário, uma pergunta: sera que vai caber? Empurra daqui, empurra dali, aperta e volta e vira... Coube. Alguém teria que ir embaixo da escada, outro deitado, mas coube. Na frente, foram Lis, Carolzinha e o motorista. No banco de trás, Che e eu. No último banco, o Paulo. Pegamos a estrada na maior expectativa e todos pareciam estar com bom humor matinal. Depois de um tempo de viagem, meu celular começou a fazer a trilha sonora, ja que a kombi, cedida pela prefeitura, não tinha aparelhagem de som. Uma parada no posto para fazer xixi, tomar uma água. E pegamos a estrada de novo. Todos dormiram em determinados momentos da viagem. O tempo estava bom, com sol. Passando em Paraguaçu, percebi que o meu celular já marcava o ddd 35, de Minas Gerais, hehe. Logo depois, reconheci um hotel-pesqueiro que vimos da pista, um lugar onde meus pais e eu nos hospedamos em 2001, em férias.
Chegamos em Varginha por volta de meio dia. Da entrada se via alguns prédios, o que indicava que a cidade não era tão pequena assim, como a maioria das que vimos pelo caminho. O trânsito indicava isso também, era uma loucura. Che chegou a comentar algumas vezes que, se víssemos vacas andando pelas ruas, poderiamos confundir com o trânsito da Índia. Varginha possui o tal mito do ET, que o povo de lá jura que é verdade. O turismo na cidade se fez através dessa história, e desde então, Varginha se desenvolveu muito. No lugar da antiga prefeitura, construíram uma nave, um disco voador luminoso. Na praça, que virou Praça do ET, tem um ET gigante. Nas lojinhas de souvenirs, vende-se ETzinhos de resina, chaveirinhos de ETs, ETs com camisa de time de futebol, uma loucura inacreditável. Até num restaurante, existe um mascote na porta, que não poderia ser diferente, é um ET.
Encontramos o Colégio Marista Mestrinho, onde fica o teatro que aconteceu o festival. A primeira peça havia acabado de terminar. Vimos alguns atores saindo. Conhecemos
então o teatro, onde iriamos nos apresentar um dia depois. Um palco grande, com cortina vermelha, muitas engrenagens, aparatos de iluminação, cadeiras acolchoadas, ar condicionado, coxias grandes nas laterais... Um espaço perfeito que propiciou em mim um terrivel frio na barriga. Deixamos o cenário da peça em um dos camarins e fomos para o restaurante almoçar. O clima era ótimo, de descontração misturada com um nervosismo bem humorado. O almoço foi ótimo, com carne de churrasco e tudo.
Fomos então para o hotel, que era praticamente na mesma rua, mas bem longe dali. Num quarto, ficaram Lis e Carol. No outro, Che, Paulo e eu. Queríamos todos descansar da viagem. Nos deitamos e depois de uma passagem pelos 2000 canais da tv a cabo, conseguimos dormir um pouco. O motorista foi embora com a kombi e voltaria pra nos buscar no domingo de manhã, depois do festival. Então, quando acordamos, enfrentamos a primeira maratona até o teatro a pé, onde a segunda peça do festival ia começar.
A peça foi "A noiva do defunto", uma comédia circense do grupo de teatro Mensageiros da Arte, de Campinas. O espetáculo tinha música ao vivo e um elenco engraçadíssimo às voltas com uma história de mortos-vivos que queriam se casar. O cenário e os figurinos eram bem coloridos, e as piadas bem infantis, como devem ser os espetáculos de circo mesmo. Foi muito gostoso ver. Depois de tomarmos um café e eu repor meu estoque de cigarros, pelo fato da próxima peça ser só às 19 hs, voltamos para o hotel.
Duas peças, das 10 selecionadas para o festival, não foram apresentadas, porque os grupos tiveram problemas com transporte. A peça das 19 hs, só Paulo e Lis assistiram. Nós dormimos e perdemos a hora, então, Che, Carolzinha e eu tomamos banho e subimos depois para o teatro.
Era a hora do espetáculo "Navalha na Carne", famosa obra de Plínio Marcos, encenada pelo Grupo de Ninguém, de Campo Limpo Paulista. No cenário, um televisor, uma cadeira e algumas roupas espalhadas pelo chão. O figurino era simplório, sem muita cor. Mas a ação cênica foi delirante, maravilhosa. Muita porrada, muito tapa, muito palavrão, num drama urbano que nos escorregava na cadeira, assim como tem que ser as peças de Plínio Marcos. A atriz que fez Neusa Sueli, a prostituta, foi a que mais me agradou. Os momentos de humilhação que ela passa nas mãos do amante Vado tiveram uma perfeita combinação de emoção e revolta. A iluminação doía um pouco nos olhos. Era uma lâmpada que vinha do teto, bem fraca, que iluminava as cenas. No final, o público saiu num silêncio profundo, mortal até, e no rosto dos jurados, que a essa hora nós já tínhamos visto por lá, havia um sorriso de satisfação.
Recuperados do agressivo espetáculo, fomos comer uma pizza, num barzinho perto do teatro. Eu não estava muito bem, não estava animado, por alguns motivos que vocês saberão daqui a pouco. No telão, vimos Dilma e Serra no debate da Globo. Foi quando eu me lembrei de que domingo era dia de eleição. Você vai para outra cidade e esquece das coisas. Às vezes, dá a impressão que você está num mundo paralelo. Bom, fomos de meia calabresa, meia mussarela. A expectativa para o espetáculo da manhã seguinte era notável. A conversa não poderia ser outra senão teatro.
Comemos e voltamos para o hotel. Era quase meia-noite. As luzes se apagaram no nosso quarto. Paulo dormiu logo, Che também, ele que tem um sono pesado que eu nunca vi igual. Eu rolei, rolei na cama e nada. Não conseguia atingir nenhum estágio do sono, nem sequer o primário. De repente, vi Che levantar da cama e, depois de ir ao banheiro, sair apressadamente pela porta do quarto, fazendo um barulhão. Pensei na possibilidade dele estar passando mal e fui atrás. Não tinha ninguém nos corredores. Desci e fui encontrá-lo no andar de baixo, assustando-o. Ele tinha ido beber água, só isso. Disse então que não conseguia dormir. Nos sentamos numa salinha no meio do corredor, onde tinham uns sofás. Acendi um cigarro. Ficamos ali uns 15 minutos conversando por cochichos, e voltamos para o quarto. Paulo continuava dormindo como pedra. Eu passei a noite toda rolando na cama. A nossa peça não saía da minha cabeça. As falas se repetiam insistentemente. Penso que talvez tenha conseguido dormir umas 4 da manhã.
Às 7 e meia estávamos de pé. Tomamos café da manhã no hotel, arrumamos as coisas e fomos para o teatro. Chegando lá, o técnico de iluminação estava à espera. Paulo deu as coordenadas para ele, aumentou alguns focos, alguns efeitos. Enquanto isso, Che e eu passávamos o texto no palco. Estávamos muito felizes, uma tensão disfarçada de felicidade. Eram quase 11 hs quando fomos para o camarim e nos trocamos. Carolzinha fez nossa maquiagem com a ajuda de Lis. O mp3 do meu celular estava ligado e a música servia pra relaxarmos, o que podíamos relaxar.
Faltava pouco. Subimos até o palco e repassamos os focos. E descemos para fazer o aquecimento vocal e corporal. Sempre faço isso e logo depois uma oração particular, em silêncio, de mãos dadas com o Che. Mal terminamos nossa concentração e o segundo sinal tocou. Corremos até o palco que já estava no breu profundo. Demorei um pouco pra achar minha escada. Quando achei e me sentei, a peça começou.
Che e eu estávamos nervosos e eu conseguia perceber isso nele nitidamente. Esquecemos algumas palavras do texto, mas sem deixar que o público percebesse. Seguimos em frente. Em determinado momento, percebi um silêncio exagerado na plateia, que não reagia às ações dos personagens. Comecei a me preocupar e a perceber que a peça estava lenta, até um pouco arrastada. Bom, no final, os aplausos vieram. No camarim, disse para Che que a apresentação parecia que não tinha sido boa.
Era hora do debate com os jurados. Nos reunimos no fundo da plateia. Dois dos três jurados estavam presentes. Um deles parecia que tinha caido de
pára-quedas naquela hora, ali, no fundo do teatro, ou então que tivesse visto a porta aberta e entrado, assim, sem mais nem menos. Disse de maneira enrolada que não gostou disso, daquilo, e pronto! O outro merecia créditos. Ele quis saber a história do nosso grupo, quis saber de onde veio a ideia do projeto, perguntou se tínhamos DRT. Foi então que disse que Che e eu temos talento, que ele vê potencial em nós, que vê que somos bons atores, mas que a peça não o agradou. Ele achou monótona, a iluminação bucólica, e o jogo desinteressante, faltava ação dramática numa peça totalmente verborrágica. Disse também que faltava ousadia no nosso trabalho.
Existem muitas maneiras de se montar uma peça, principalmente uma peça com texto lúdico e com tantas quebras de contexto, como o do Flávio de Souza, que escreveu "Sexo dos Anjos". A maneira que o nosso grupo enxerga a peça é essa, numa montagem onde sugerimos para o público a monotonia daquela sala de espera no purgatório, fazendo um jogo que expande e volta para o lugar, para expandir no final e fazer a grande revelação. A maneira que os jurados fariam a peça é diferente da nossa, inevitavelmente. O nervosismo realmente atrapalhou e aquela apresentação perdeu sim um pouco o ritmo, mas nada que comprometesse o belíssimo figurino das marionetes e a iluminação bem distribuída.
Bom, saímos de lá sabendo que não tínhamos agradado, mas ainda felizes, afinal, é assim mesmo. Nosso interesse de ir até Varginha apresentar a peça era exatamente mostrar nosso trabalho, conhecer outros grupos, ver esses trabalhos, e lógico, se possível, trazer algum prêmio para o grupo, mas, naquela hora, todos sabiam que isso estava bem longe de acontecer.
Almoçamos e fomos para o hotel. Descansamos bastante daquela manhã que poderia ter sido mais fácil. À tarde, a chuva chegou na cidade. Carolzinha dormia no quarto das meninas e deu a deixa perfeita para Che sugerir a brincadeira da pasta dental. Sim, e a vítima foi a Carolzinha. Eu que executei o serviço, coitadinha! Lis disse depois que, quando Carolzinha percebeu a pasta no seu rosto, disse 100 palavrões em 20 segundos.
Por causa da chuva, não pudemos sair do hotel, afinal estávamos sem carro. Então, tomamos um banho e pegamos um táxi mais tarde até o teatro, onde assistimos a penúltima peça do festival, "Cor de chá", do grupo teatral Emílio Silveira, um monólogo escrito e encenado pela atriz Noemi Marinho, da cidade de Alfenas. Não chegamos a nenhuma conclusão, mas pra mim, até hoje, a peça possuía um texto auto-biográfico. Aqueles dramas da personagem, a solidão, eram dramas e conflitos da própria atriz, por isso, a emoção das cenas foi só dela, e não veio até a platéia. Dias depois, iríamos descobrir que Noemi Marinho tem um currículo invejável. Ela se formou na EAD, já foi roteirista do "Sai de Baixo" e da novela "Seus Olhos"do SBT, já ganhou prêmios importantes como o Shell, o APCA e o Apetesp. e tem até um livro na Coleção Aplauso com sua obra, com três peças que escreveu. O gozado é que mesmo assim, seu espetáculo "Cor de chá" não levou nenhum prêmio dessa vez, no Festival de Varginha.
Fomos comer um lanche no intervalo das peças e voltamos para o teatro, onde o início da última peça estava atrasado. Quase uma hora depois do horário previsto, a peça começou. "Gaiola - o caçador de solidão", da Companhia Távola de Teatro, era o espetáculo, um monólogo da cidade de Lauro de Freitas, na Bahia. O texto era meio cansativo, repetitivo, mas o cenário e a iluminação eram belíssimos, de encher os olhos. Folhas secas pelo chão, uma armação de espelho, em meio a correntes, caixas e mais caixas, uma em cima da outra... As marcações de cena davam o tom exato da emoção do personagem. Bonito de se ver!
Não demorou muito pra chegar a hora da premiação. A maioria dos grupos se reuniu na plateia, ansiosos. Nós estávamos lá também. Logo de cara, Paulo ganhou um Troféu de "Experiência Profissional". Mas dos prêmios conferidos aos grupos pelos espetáculos apresentados, não levamos nenhum. Esperava que a nossa peça ganhasse pelo menos um segundo ou terceiro lugar por figurino ou iluminação, mas nada. Ninguém gosta de perder, isso é fato. Che e eu queríamos que uma nave do ET de Varginha viesse e nos abduzisse dali naquela hora hehe. À medida que os prêmios eram anunciados, escorregávamos mais um pouco na cadeira. Penso que diminuí alguns centrímetros de altura nessa noite. Foi tenso, mas depois rimos de toda a situação. Todo mundo tentava fingir que estava tudo bem, numa forma de não acabarmos tão abruptamente com o nosso bom humor, e tentando mesmo acreditar que o importante é competir, já que estávamos entre os 10 espetáculos das 180 inscrições que o festival recebeu. O fato é que pra mim, tudo ficou mais fácil por ter passado por essa experiência ao lado do Che, meu grande amigo, que estava no mesmo barco que eu. Talvez se ele não estivesse ali comigo, tudo seria bem mais difícil.
No dia seguinte, arrumamos nossas coisas, esperamos o motorista chegar, carregamos a kombi com o cenário e pegamos a estrada de volta a Tambaú. Dessa vez, o silêncio foi maior durante a viagem. Che e eu fomos sentados um em cada ponta do banco, sem falar muito, mas os dois pensando exatamente a mesma coisa, em tudo que havia acontecido diferente do que a gente planejava dessa viagem, e da premiação. Acho que todo mundo pensava nisso.
Ah, esqueci de contar. No sábado a noite, antes de irmos embora do teatro, eu fumava do lado de fora. Che estava comigo. Um dos jurados passou, indo embora. Ele parou, apertou nossas mãos, e nos disse: "Juízo hein, e vê se emagrece..."

...feriados prolongados
Segunda-feira, o Brasil amanheceu diferente. Já tínhamos o novo presidente da República, ou melhor, a primeira presidenta do país. A noite anterior tinha sido animada. Quanto eu estava esperando pelo momento de sentar numa mesa no Mancha, ouvindo rock e tomando um vinho, vendo a vida passar sem graça. Tem dia que é bom não acontecer nada. Acordei cedo. Não iria trabalhar, a biblioteca estava fechada e isso era uma das coisas que me animavam. A outra era que, a qualquer momento, meu notebook ia chegar e eu ia poder novamente usar a internet, atualizar meu blog, ouvir minhas músicas... Almocei com meus pais, na mesa, coisa que há tempos não acontecia. Sempre almoço no trabalho e eles em casa, então nem nos vemos na hora do almoço. Logo depois, toca a campainha. Era o cara da loja de informática, com meu notebook na mão dizendo que não tinha boas notícias. Sim, meu note não estava funcionando, depois de um mês fora. Fiquei louco da vida, putíssimo, irado. Quando um ariano fica assim, sai de perto porque sobra pra todo mundo. Estava cheio de coisas pra fazer e iria continuar sem internet. Viver de lan house e de casa de parente não dava mais. Então, saí decidido a dar um jeito nisso e acabei comprando um note novo.
Encontrei o Che na praça a tarde. Eu estava resolvendo meu problema com o computador, e ele o problema do carro. O John Móvel teve a embreagem trocada e já podia rodar de novo. Tínhamos pensado em ir na cachaçaria, mas caiu nossos beiços quando a gente descobriu que homem pagava 40 reais pra entrar naquela noite open-bar. Desencanamos logo da idéia e a saidinha foi como sempre... Segunda-feira, o Mancha estava fechado. No posto, quase ninguém. A frente da cachaçaria estava lotada. Fomos então para a praça, depois de uma passada rápida no Geraldo pra tomar uma cerveja.
Estávamos Che, Marília, amiga dele e do Elton, o Elton, Maikinho e Cesinha, e mais duas ou três turminhas de amigos sentados na praça. É a hora que aparece sempre um bêbado pra encher o saco. Nessa noite, apareceram dois, e eu resolvi partir.
Na tarde do dia seguinte, teve ensaio da peça na SAT, uma droga de ensaio. Foi péssimo, muito ruim. Às vezes, dá pra desacreditar que a peça saia até dia 25 de novembro, data da estreia. Mas não podíamos esperar muito de um ensaio a tarde no feriado de Finados...
Saí de lá com a Lis e encontramos o Che na praça. Isso eram umas 6 e meia da tarde. Ficamos no posto até 8 da noite, conversando sobre esses últimos dias difíceis... E fomos embora porque no dia seguinte, a vida ia tentar voltar ao normal.
Na manhã desse feriado, tinha falado com o Che no msn. O fim da noite anterior não tinha sido boa pra ele, nem pro John Móvel, que chegou em casa com o pára-choque amassado, bem no meio, e mais uma vez vai precisar de um conserto. Um animal não identificado deve ter entrado na frente do carro e esse foi o ruído que Che e Cesinha escutaram quando passavam na avenida a noite, a caminho de casa. Até hoje Che não sabe explicar o que aconteceu, já que olhou pra trás na hora da tal batida, e não viu nada.

...telefonemas
Lis ligou e não atenderam. Che ligou, foi atendido e ouviu o que não queria. Eu liguei, fui atendido e disse o que não devia. Ou sei lá também se não devia. Ainda em Varginha, na tarde de sábado depois da fatídica apresentação da peça no festival, fiz uma cobrança, uma pergunta nada delicada sobre o que tinha ocorrido na noite seguinte, na balada que eu não tinha como estar presente. Acabei me estressando e meu caso amoroso dos últimos dias, que apresentava sinais de futuro e bons frutos, desmoronou. Voltamos a nos falar depois, ainda estamos nos falando. Eu pedi desculpas, expliquei a situação. Na verdade, houve uma incompatibilidade sobre o que estava rolando. Eu achei que era uma coisa, que já era quase sério, só faltava oficializar e que a fidelidade estava implícita nisso. Mas não estava. Não havia nenhum compromisso, e se houvesse, ele era bem liberal. Eu só sei que desde então, a relação esfriou um pouco. Não é mais a mesma coisa. Passou aquela empolgação, aquele frio na barriga gostoso, aquela ansiedade pra falar, pra nos vermos. A viagem pra Limeira no próximo final de semana, eu cancelei. Não tem mais clima, pelo menos pra mim. O outro encontro parece que continua de pé. Ah, a gente vai vendo o que rola, o que acontece. Nesse feriado prolongado, outra pessoa reapareceu depois de meses, aquela que eu fiquei em julho, que era paixão antiga! Mas sei lá. Depois de tudo que aconteceu esses dias, não fiquei com vontade de ver ninguém, de ficar com ninguém, de paparicar e cortejar ninguém. A solidão e a quietude foram muito bem-vindas, e voltar todo dia pra casa sozinho, e só deitar a cabeça no travesseiro e poder dormir pra ver se nascia um dia melhor, bastava pra mim.

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