O Teatro me salva

"O teatro me salva, me exorciza, me cospe a alma, me vomita o ser. É riso sincero, é a dor mais sentida. É lágrima de desespero, é medo e coragem de mãos dadas. É rock, é mpb, é pop. É a guitarra ardida dos Beatles, a malandragem doce de Vinicius, é o sexo da Lady GaGa. O teatro me faz ser super-herói, me dá asas, me transporta. Teatro me incomoda, me inspira, me critica, me pega forte no pêlo inflamado, me cutuca com a pinça, me estapeia. É ver a cara da morte, é morrer sincero, é ver a Lua. É viver, é ter prazer, é gozar, queimar, queimar no sol. É amar quem eu acabei de conhecer, paixão a primeira vista, é me apropriar de vida alheia, a da personagem. Essa me consome, me perturba, entra nos meus sonhos, tem implacável exigência, me observa no âmago e me pune, se não a visto por inteira. O teatro sou eu, eu ator, em busca de quem sou, perdido no mais vasto conhecimento e ignorância da vida, maquiado para esconder minhas imperfeições, com luz forte derretendo a testa, para me fazer brilhar e ganhar o mundo."

(José Ono Junior, ator)

Chegou o dia! A estreia de "Sexo dos Anjos" é hoje. Dia de estreia de espetáculo nunca é um dia comum, e nunca é igual de uma peça pra outra. Hoje tem um bichinho me comendo dentro da barriga, e meu rosto tem uma terrível tensão que aperta os olhos, e não é enxaqueca. Deuses me observam pelas costas, andam pelo meu quarto, e me cobram um bom trabalho. Mas as intenções deles são boas, só cobram aquilo que é certo. Teatro é pra quem tem coragem, não tem correção, é tudo ao vivo, cada segundo vai passando e ficando pra trás. "Sexo dos Anjos" vem com uma proposta inovadora para o teatro tambauense. Uma hora de espetáculo, com dois atores em cena, o Bruno (o conhecido "Che") e eu, e tudo é muito imprevisível para a platéia. O palco está montado em forma de arena. O público não perde uma gota de suor que cai. E dá-lhe texto, e dá-lhe ação, emoção, contradição. Aliás, o texto é um grande presente que ganhamos do autor Flávio de Souza, e na história dessa nossa montagem, existem tristes e felizes coincidências. A tristeza fica por conta do nosso homenageado Ariovaldo dos Santos, que foi quem apresentou o texto para o Paulo Rogério, nosso diretor, e quem o colocou em contato com o autor, para que pudéssemos obter a autorização para a montagem. Ariovaldo faleceu em abril desse ano e estará olhando por nós essa noite. A felicidade vem do fato de eu estar em cena com o Che, meu grande amigo. Hoje, penso que ninguém mais poderia fazer essa peça além de nós por aqui. O Paulo sempre diz que, quando é pra uma peça acontecer, tudo se encaixa sozinho. E esse encaixe foi perfeito. Sem mais, vou curtir meu bichinho que me corrói por dentro. Uma boa peça para todos que forem embarcar nessa viagem com a gente hoje a noite, às 21 hs na SAT! E uma MERDA gigante para o Che (hoje a noite é nossa, fio!), e para o Paulo, que agradeço mais uma vez pela oportunidade de deixar vivo dentro de mim aquilo me mantém de pé, firme: minha arte.

Nenhum comentário: