Pesadelos

A chuva que o céu prometeu hoje a tarde, não veio. Foi só barulho e escuridão, e poucos pingos insignificantes. Hoje acordei tenso. É natural eu ter pesadelos com o teatro na véspera da estreia, desde pequeno. Mais recentemente, foi assim com "Confissões de Adolescente" e com "Tribobó". Com "O Príncipe da Quermesse", foi em dose dupla. Num deles, eu brigava com a platéia e eles corriam atrás de mim na rua pra me bater. Dessa vez, o pesadelo veio 5 dias antes da estreia. Como sempre, dava tudo errado, o figurino, isso é "batata", sumiu na coxia. Entrei rápido pra me trocar e cadê minha camisa branca? Mas é natural... Ensaiamos bastante na última semana, e ontem foi dia de ver o palco montado, as luzes já no chão da SAT, preparadas pra serem instaladas. O frio na barriga surge, a expectativa é inevitável, mesmo que imperceptível, e o pesadelo vem adiantado. Num dos ensaios da semana passada, um imprevisto. Sim, amigos! Eu caí de poupança no chão, numa cena em que subo correndo as escadas do cenário. Fui subir e chutei a escada. Caí legal! Gargalhadas ecoaram, não? Sempre achei que isso poderia acontecer, pela movimentação frenética que eu e Che fazemos em cena, mas não tinha certeza se iria ser eu o premiado, pois foi. No mesmo ensaio, ganhamos uma nova trilha sonora, na última cena, a mais emocionante, a que exige mais concentração. Estávamos lá, concentrados, dando o texto, e de repente surge um som estranho, de karaoke de botequim, achei na hora que era "Pensa em mim" do Leandro e Leonardo, a versão que a gente encontra em qualquer cd de karaokê. Era o som do dvd que era exibido num telão da SAT, numa palestra motivacional que estava para começar. Sim, foi-se a cena! Terminamos de maneira diferente, mas não cabe descrever aqui para não estragar a real surpresa do final da peça.

Disposição pra ir a pé pra biblioteca hoje. O solzinho da manhã, quando não se tem o clássico cansaço, é inspirador. Fui ouvindo "Low Rising", da banda The Swell Season, no mp3 do celular. A hora do meu dia que mais penso, é quando estou andando na rua, ouvindo música. Já passei até por antipático por não cumprimentar conhecidos. Mas não é por mal. A concentração é tanta que às vezes não consigo ver as pessoas. E se vejo, não consigo processar que as conheço. Consciente, encontrei a Josi pelo caminho. Descemos juntos. Manhã tranquila na biblioteca. Hoje começou a trabalhar lá a dona Fátima, mãe da Carolzinha, do grupo de teatro. Almoço modesto em casa depois, não porque minha mãe fraquejou na cozinha, mas sim porque comecei um regime. E não é porque hoje é segunda-feira, mas porque venho ensaiando isso há dias, e hoje decidi. Salada, um copo de arroz, um bife, e só caldo do feijão, sem repetições. Pra beber, suco de laranja. Eu sei que qualquer nutricionista recomenda que não é bom beber enquanto se come, mas eu não resisto. É difícil pra mim comer sem beber nada, é fato. Tarde cansativa na biblioteca! Quem foi que inventou de mudar os arquivos do lugar? Fui eu! Se foi, me amordacem, me imobilizem, estou ficando louco. Que troço pesado! Me besuntei em graxa das gavetas! Som de metal, escola de samba na avenida. Difícil, mas tá feito! Palmas a Lislaine, que resistiu bravamente e ficou comigo até o fim, bem mais animada e disposta do que eu. Não, eu não fiquei monossilábico dessa vez. Sempre fico monossilábico quando me canso demais. Dessa vez, eu fiquei inexpressivo! Voltei pra casa a passos de tartaruga bêbada. Banho, comida, cigarro, internet e blog!

Ai ai... comecei a falar da segunda-feira porque ela foi menos pior do que o final de semana. Pedi muito pra chegar logo hoje, pra voltar a trabalhar, e tudo voltar ao normal. Finalzinho de semana esquisito. Tem que comentar mesmo? Ok! Fui dramático agora... vamos lá...

Meus planos de dormir pelo menos um dia inteiro desses 3 de folga que tive, não se concretizou. Disse que ia fazer isso umas 10 vezes na quinta-feira. Mas nada feito! Não que tenham me impedido, o fato é que meu hiperativismo ariano não permite isso. Cabeça pensante, boca cantante, coração latente. Quinta-feira, papo agradável com a Lis e o Che no posto, planos de ir pra Palmeiras furados. Eu bebendo coca-cola, papo vai, papo vem. Risadas! Pula uma parte... Não devo dizer da parte desagradável dessa hora, do ser de língua grande que apareceu mostrando mais uma vez o quanto que é confiável... Pulei... Chega o Neno, nosso amigo cantor. Vamos à cachaçaria? Sim! Aline, minha prima, por lá com amigos, bem vestida, animada... Mais uma, duas, três mesas com algumas pessoas, o resto: grilos que cricrilavam... Lislaine na cachaçaria? Pois é... Vou arrastar minha guria preferida um dia pra dançar na Lex Luthor, e mostrar pra ela que pode continuar sendo quem é, mesmo que o mundo conspire pra que mude, para que se adapte, vai resistir e manter sua personalidade original e autêntica... Mas ela ficou na mesa da Aline essa noite, engatou um papo longo lá com o pessoal... Na mesa ao lado, Neno, Che e eu. Cerveja, cerveja, cigarros. Falamos de tudo. A cerveja não me deixa lembrar de tudo que conversamos. Ah, agora eu lembrei... Mas não convém dizer também, coisas bobas, escatológicas, que se conversa em bar quando a cerveja bate. O melhor de tudo é o quanto que as pessoas nessa situação se soltam de preconceitos, de vícios de personalidade, e conseguem ser quem são, dizer o que pensam de verdade, sem bloqueios. Essa energia que toma conta das pessoas em mesas de bar, de botequim, sempre rende momentos inesquecíveis. No final, sem poder faltar esse assunto que está sempre presente, o amor. Fala daqui, fala dali... Eu sou ótimo pra falar disso depois de algumas cervejas, sou o cúmulo da sinceridade e da solidão. O Che, como sempre, se abre, se mostra carente também, tanto quanto eu. E nós dois acabamos revoltados com o mundo, com a ordem das coisas, depois, fazemos votos um pro outro, de que tudo dê certo, que tudo se ajeite, "ah, você merece ser feliz e vai ser... eu também vou...". Esse roteiro eu já conheço, tanto que sabia que a conversa iria continuar depois na mesma noite no msn, e tudo que seria dito, e como me sentiria depois. Não conhecia o Neno, não daquele jeito. Deu o mais surpreendente relato da noite, depois de uma severa crítica minha, deu motivos muito contundentes pra ver as coisas da forma que vê. Rolou um clima tenso. Sim, eu sou uma torneirinha de verdades, principalmente quando bebo. Não acho isso ruim, mas às vezes as pessoas não entendem, levam como ofensa, como crítica negativa. e o clima pesa. Bom, tenho que deixar claro que também sei ouvir, qualquer coisa. Sei falar, mas aguento ouvir. Fim da noite, depois da tentativa frustrada de comer lanche.

Sexta-feira, feriado da Revolução Constitucionalista, acordo sozinho em casa. Um silêncio mortal e eu tive a coragem de acordar às 11 da manhã. Meu objetivo de ser o melhor amigo do edredon começava a ir por água abaixo. Ah, legal! Sem almoço em casa, sem panelinha preparada no fogão, ou seja, almoço na casa da minha tia. Minha mãe ficou por lá o dia todo, preparando quitutes pra festa julina que ia rolar a noite, meu pai e Giovana estavam envolvidos na decoração. Tarde sem muita emoção, sem dormir também. A noite, Lis, Che e Alan vieram até em casa, para irmos juntos a festa na casa da minha tia. Tínhamos que ir a caráter, mas não deu muito certo. Improvisamos um visual com minhas camisas listradas, como se pode ver na foto. Alan apareceu de cabelo novo, com luzes, todo espetado. Sim, estranhei no início, mas depois acostumei. O Che não perdoa mesmo, sabe como irritar o Alan melhor que ninguém nessas horas. Na festa, minha família, meus amigos, amigos da família... Quentão, chá, chocolate quente, salgadinhos, queijos, arroz doce, chocolate quente, uma farra! O Jader, namorado da minha prima, que toca profissionalmente numa banda, levou a sanfona para animar a noite. Dancei com a Lis, com a Aline. Tiramos fotos, rimos, combinamos nossa viagem pra Argentina. Che e eu combinamos viagens com nossos amigos desde que nos conhecemos. Já planejamos passar o reveillón no Rio, um final de semana em São Paulo, Natal em Nova York, no Egito, um domingo em Campos do Jordão, uma ida ao Japão também, mas nunca saiu do pensamento. O Alan e eu, como sempre, nos bicamos a noite inteira. Hoje eu nem ligo mais. Talvez isso aconteça pelo fato de sermos do mesmo signo, temos sonhos e metas parecidos, e reagimos igualmente às situações. Subimos para a praça meio deserta, quase não tinha ninguém. Alan se despediu. Lis, Che e eu fomos para o Mancha. Tomamos cerveja por lá, o Che e eu, a Lis não bebe. Leandro estava lá também, mas conversou pouco com a gente. Nós três estamos bem próximos ultimamente. Passamos o dia todo na biblioteca, nos encontramos e saímos juntos também, compartilhamos de alguns pensamentos. Depois de um abraço a três na porta do Mancha, puxado pelo Che, a conversa começou. Falamos de muita coisa. Coube a mim cantar um pedaço da letra de "Quase um segundo", do Cazuza. Não lembro porquê, mas foi conveniente, talvez prefira não lembrar, sei lá. Caminhamos até a casa da Lis. No caminho, paramos para ver a iluminação da biblioteca, e para discutir teses de como a luz atravessando os vidros das janelas deixa o ambiente com um toque sombrio a noite. Piadas rolaram também, é claro, sobre possíveis pessoas que poderíamos encontrar lá dentro, assombrando o prédio. Já na frente da casa da Lis, sentamos e a conversa continuou, dessa vez o tema foi religião. Um dia, coloco aqui tudo que conversamos sempre sobre isso, hoje não, senão o post ficará enorme. Susto básico de repente, com o irmão da Lis chegando e abrindo o portão eletrônico, depois fomos embora. Tinha sugerido pro Che de cortarmos caminho, por uma estrada de terra, que fica um breu a noite, mas falei zuando. Ele topou! Passamos por uma ponte sobre o rio, e fomos, sem enxergar nada. A lua não ajudava muito. Meu nariz congelava e já dava sinais de que, no dia seguinte, ia ter problemas com as "ites". Fomos conversando. O Che é meu grande irmão que não tive. Quando não estamos discutindo por algum motivo, nos damos muito bem, falamos a mesma língua. Ele me entende como ninguém, me respeita, e isso é recíproco. Já quebramos tantos galhos um do outro, especialmente ele, que junto com o Alan, fez minha volta pra Tambaú ser muito menos dolorosa do que seria, se estivesse sozinho. Por isso, eu devo dizer que essa caminhada até minha casa, com meu amigo, foi o melhor do final de semana, o quanto que conversamos, que rimos. Conversamos sério também. Tentamos nos ajudar sempre, e eu me preocupo muito com o Che, com a forma revoltada e amarga que vê certas coisas. Tenho medo que um dia ele endureça demais, sem volta, eu sei o que é isso. A vida é boa quando a gente tenta extrair dela o máximo de momentos bons possíveis, por mais que tudo pareça infinitamente difícil. Ele tinha deixado a moto dele em casa. Nos despedimos e a noite acabou, sem melancolia dessa vez, às 4 da manhã.

Sábado de manhã, faxina em casa. Dia do encontro quinzenal das matracas da minha casa heheh. Mulheres quando se juntam, sai de baixo. Tem que ter disposição e bom humor nessa hora. Entrevista na rádio Tambaú de manhã, Paulo, o Che e eu, para divulgação da peça. Depois, almoço. Ensaio a tarde, muito calor, algumas piadinhas pra descontrair. A noite, em casa, um sono terrível. 8 e meia da noite, meus amigos todos se arrumando pra sair, a cidade inteira se arrumando e eu caindo de sono. Dormi. 9 e 20 estava de pé, fui encontrar os meninos. Bom, dessa noite, vale dizer do show do SAMBÔ na Lex Luthor que foi ótimo, um dos melhores que já assisti lá. Contagiante! Ah, e a companhia também estava boa, Che, Cesinha, Alan, Leandro (finalmente ele foi, #medo do teto cair), William, Jardão... O que matou a noite? O spray de pimenta no final que obrigou todo mundo a sair, e a discussão que rolou na fila, antes de entrar, entre nós e algumas gurias desconhecidas que estavam na nossa frente. Mas isso deixa pra lá. Muito vinho e cerveja, a velha impulsividade de sempre, e a língua que não cabe dentro da boca...

Domingo foi bom! Sem chance de dar algo errado, saímos, conversamos, bebemos novamente nosso vinho camarada. No Mancha, tocou Cazuza, Elis, Legião, Raul...

Ouvi falar de liberdade nos últimos dias; que se liberta de um relacionamento para se buscar liberdade... O relacionamento que anula o direito do indivíduo de ir e vir, que bloqueia, que poda, realmente não é bom. Mas há de se saber, que não existe harmonia num relacionamento onde não há respeito. E quando há respeito, inevitavelmente isso implica na perda de liberdade, naquela liberdade que deixa a gente fazer o que bem entender, sem pensar em ninguém, sem dar satisfação. Mas essa liberdade, a gente não precisa quando se ama.


Nenhum comentário: