Lua Nova - Parte I

Che estava planejando arrumar seu carro e, há tempos, falava muito nisso. Seu pai tem um escort que estava parado na garagem há alguns meses. Eu vi o carro pela primeira vez no início desse ano, quando Che trabalhava num outro emprego fora da cidade e usava o carro para chegar até lá. Depois, o carro apresentou alguns problemas, e Che mudou de emprego. Para colocá-lo pra rodar novamente, primeiro ele agilizou toda documentação, depois foi arrumando algumas peças, trocando outras. Calota, faróis, para-choque, vidro, tudo em dia.
Sábado, depois de acordar bem tarde, almocei e me preparei para sair. Ia ligar para o Che, mas nem precisou, ele ligou antes. Combinamos de subirmos juntos. Tínhamos coisas a resolver no centro da cidade. Che apareceu de carro em casa. Fomos rodar pela cidade a procura de um lava-rápido. Rodamos, rodamos. Nenhum tira horário disponível. Che queria uma lavagem completa no carro. O jeito foi deixar o carro no lava-rápido de um posto de gasolina, numa das avenidas. Eram 2 da tarde e o carro só ficaria pronto às 6. Fomos para o centro da cidade a pé. A rua principal estava bloqueada, por causa do evento do dia das crianças que uma loja da cidade promovia. Tinha pula-pula, algodão doce, pipoca e trenzinho. Fizemos uma parada por lá. Encontramos a mãe e a irmã do Che. Comecei a perceber que conhecia o Homem-Aranha de algum lugar. Cheguei mais perto e batata! Era o Neto, aluno do grupo do teatro. Segunda parada foi na Harmony, a lojinha de rock que antes era evangélica e tinha outro dono. Finalmente consegui comprar uma camiseta dos Beatles. Agora tenho uma deles, uma dos Stones, e outra do The Doors. Che comprou uma do Ramones, branca. Saímos de lá e cada um foi para um canto. Che precisava cortar o cabelo e eu precisava ir até a lan house, já que continuo sem computador em casa. Combinamos de nos encontrar depois de 1 hora. Che acabou primeiro o que tinha que fazer, por isso ficou na lan house jogando playstation, enquanto meu tempo na internet não acabava.
Quinta parada foi numa lanchonete, onde vendem salgados e pastéis deliciosos. Comemos, demos um tempo na praça e fomos de volta ao posto de gasolina. Foi uma tarde divertida! Che estava feliz pra caramba, afinal esperou pelo conserto do carro durante alguns meses e finalmente conseguiu. Enquanto esperávamos o carro ficar pronto, Che quis dar um nome pra ele. Surgiram várias sugestões, as mais absurdas. No fim, Che decidiu por "John", e eu completei: "Móvel". Ficou então John Móvel. Naquele dia, seria o aniversário de 70 anos do John Lennon, se ele estivesse vivo, daí o nome do carro. Saímos do posto 6 e meia da tarde com o John Móvel lavadinho, pronto para a saída da noite de sábado.
Foi um final de semana de noites frias, de vento cortante, e de pouca gente na rua. No sábado a noite, tivemos uma grande razão para nos alegrarmos. Cesinha, depois de 2 meses de recuperação em casa por causa do acidente que sofreu, estava de volta. Esperamos muito por isso. Ele não pode beber e ainda está com uma proteção em um dos braços, mas o tempo de enclausuramento acabou. Lis, Maikinho e Éder apareceram também. Um novo stress com o Éder aconteceu, por causa de seus comentários desnecessários. Foi a última noite que ele saiu conosco, até então. Lis saiu logo. Ainda anda "ocupada" nas noites do final de semana. Fico feliz por ela e torço para que dê tudo certo. Estávamos no Bar do Mancha. Os meninos iam na Lex Luthor, no show do Spyzer. Eu não tinha nem comprado a entrada. Tinha decidido que não ia mesmo, que ia dar um tempo. Durante uma conversa nessa mesma semana, descobri o quanto que meus problemas e encanações tem interferido na vida de outras pessoas. Nunca permiti que bloqueassem minhas vontades, o que tenho pra dizer, pra fazer, meus impulsos, minhas chances de fazer boas ações, e as chances de meter minha cara na parede, me espatifar e ficar em pedaços. Então, não devo bloquear ninguém com a minha presença, nem com meus sentimentos, que são equivocados e involuntários, mas nobres. Bom, por volta de meia noite, me despedi de todos e fui pra casa. Che tinha me perguntado umas 5 vezes durante o dia se eu ia na Lex Luthor. Eu estava sim, com muita vontade de ir, mas havia prometido que não ia, e promessa é dívida. A volta pra casa foi estranha, dolorosa até, com uma pergunta no ar, tipo "por que tem que ser assim?". É difícil cortar certos vínculos, mudar os costumes, alterar a rotina. Já fui muitas vezes na Lex Luthor, e sempre estive com eles lá, meus amigos. Cheguei em casa e fui pra cama. Pensar no que havia acontecido não estava sendo bom. Então, dormi. No dia seguinte, soube pelos meninos que a noite foi igual a todas as outras, sem tirar nem pôr. Sobre isso, até hoje não sei o que pensar.
Segunda-feira chegou, depois de um domingo tranquilo de almoço em família e noite de vinho no Mancha. Era véspera de feriado e a cidade estava meio vazia. A biblioteca abriu e fomos todos trabalhar. A tarde, saímos mais cedo, Che e eu. Fomos para a SAT ensaiar "Sexo dos Anjos". Falta pouco para a apresentação no festival. O ensaio foi ótimo. Redescobri o quanto que gosto dessa peça. É delicioso estar em cena com essa história.
Na semana passada, recebi pelo correio um informe do Célia Helena, a escola de teatro onde me formei como ator. Eles estão promovendo uma pós-graduação para direção teatral. Me animei um pouco, e até passou pela minha cabeça de fazer o curso, que acontece só no final de semana. Me animei mais pela possibilidade de voltar a São Paulo, àquela escola onde tenho tanta história vivida. Mas soube pelo Paulo o valor do curso e a duração, que é de 15 meses. Não está dentro das minhas possibilidades, e não posso negar que isso me deprimiu um pouco, pensar na ideia de ficar aqui pra sempre, vendo a vida passar por mim.
Aqui em Tambaú, às vezes dá a impressão de que um dia demora 3 pra passar, enquanto o resto da Terra gira mais veloz. Uma prova disso foi a noite de segunda-feira. Che saiu de John Móvel. Estávamos nós, Maikinho, Cesinha e a Lis, que apareceu uma pouco depois. Passamos na quermesse. Estava abarrotada de gente, não tinha lugar pra sentar e mal se podia transitar. Então, depois de rodarmos bastante, paramos no sossego do "Sossego". Lá é estranho. Você olha para um lado e não vê ninguém. Olha para o outro e nada. Olha pra frente e vê um muro que mal aparece por causa das árvores. Nessas noites geladas, de lua nova e de vento cortante, dá uma solidão. Tem dia que é foda. A vida vira uma reprise de episódio passado. Eu conheço a sinopse dessa história. Sei muito bem quem é quem. Já vi o começo e o final é previsível. E nenhum suspense que se possa inventar convence o público. Este enredo, de amor desencontrado, de amigos que buscam uma vida intensa e uma certa eternidade de tudo isso, é batido. Todo mundo já viu e sabe que não tem como terminar bem. Os amigos se desencontram e o amor dos protagonistas se perde. Mas vamos lá, até o fade out do último episódio, tem gente querendo saber o que vai acontecer, se alguma coisa pode mudar. Nesta noite, vozes, que não eram em off, me relembraram nossos papéis, e mostraram que a história não saiu muito do lugar. E terminou tudo como no primeiro episódio.

Um comentário:

Rúbia disse...

olá!!! parabens pelo blog vou seguir.. rss... tenha uma semana iluminada...bjs