"Noite estranha, com gente estranha, num lugar estranho. A gente vai vivendo a vida, vai quebrando tabus, vai perdendo preconceitos, vai conhecendo o mundo, vai quebrando a cara com os donos da sociedade, com gente que a gente julga de bem, porque se veste bem, come bem, fala bem, são mais próximas da perfeição humana imposta sei lá por quem, sei lá onde, sei lá porque... E um dia você se vê num bar, conversando e cantando com um catador de latinha, que tem unhas sujas, dentes da frente podres, roupas encardidas, mas o mesmo gosto musical que o seu, tá tão cansado de tudo e das mesmas coisas, do mesmo jeito que você. Grita liberdade,liberta fantasmas e mágoas, vomita ao cantar Raul Seixas, Capital Inicial, Cazuza, o grande mestre Zé Ramalho. Tanto teatro presente, um bando de atores usando a música como texto e apresentando o seu inconformismo, no palco da vida. Apertam-se as mãos, dizem-se os nomes, contemplam um momento. Sim, você pensa, há 3, 4 anos atrás, no auge da sua escrotice comportamental, não estaria ali, nem passaria na frente daquele lugar. E aí você vê que nada que você aprendeu e cultivou tem importância, somos todos iguais, padecemos das mesmas glórias e merdas, somos limpos e podres iguais, por fora e por dentro. E que a vida, seja boa ou ruim, reserva sempre surpresas inexplicáveis, inusitadas, fantásticas, e inesquecíveis.
Relato de um cara de 25 anos, ainda meio embriagado pelo vinho, que reviu a própria vida, e todos seus conceitos num lugar onde a música e a falta de apego material reinou, e o fez ver que nada de verdade importa, que devemos só viver, sem amarras, sem prisões, sem julgamentos. Ser feliz e ter o que se recordar é o que importa".
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